Entrevista:O Estado inteligente

domingo, dezembro 06, 2015

A Marilinha do Rio Comprido

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Marília se orgulhava de ser de uma família teatral. Gostava de trabalhar com a irmã, com o filho, com as filhas, com as sobrinhas e com o marido, Bruno, por perto. Muitas vezes, o palco parecia uma extensão de sua casa. Ficou emocionada com o entusiasmo da mãe, a também atriz Dinorah Marzullo, quando ela retomou a carreira, aos 90 anos, no "Zorra total".

Marília Pêra amava a família, amava óperas, amava comediantes populares, amava cantores, amava Dulcina de Moraes, amava a Darlene que Miguel Falabella criou para ela em "Pé na cova" ("A Darlene é um sucesso", dizia), amava o teatro, amava projetos. Nunca vi atriz com mais projetos no bolso.

Muitos não deram certo. Ela assistiu a "Sopro de vida", em Londres, com Maggie Smith e Judi Dench, e passou a sonhar em montar a peça aqui ao lado de Regina Duarte. O espetáculo acabou sendo feito por Nathalia Timberg e Rosamaria Murtinho. Ela queria fazer "Sunset Boulevard", o musical de Andrew Lloyd Weber. E quem mais poderia interpretar Norma Desmond no Brasil? Ela queria ter um teatro. Andou namorando uma casa na Fonte da Saudade, mas a reforma ficaria cara demais. Ela queria ter um programa na televisão onde ensinasse a atores jovens alguns truques da arte de interpretar. Ela queria trabalhar com Fernanda Montenegro (Walter Salles as juntou em algumas cenas de "Central do Brasil", mas ela achava pouco). Ela queria fazer um Noel Coward ao lado de Lázaro Ramos. Ela queria gravar um disco... ah, mas isso ela fez. Já doente, com dificuldades de locomoção, assim que acabaram as gravações de "Pé na cova", registrou para a Biscoito Fino, com produção de José Milton, 11 faixas para se mostrar apenas como cantora.

Marília Pêra gostava de conversas em voz baixa, gostava do tom menor, da delicadeza. Nos muitos e-mails que mandava para um de seus amigos, assinava Marilinha do Rio Comprido. Marília Pêra era uma diva, mas nunca saiu do Rio Comprido.



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