Entrevista:O Estado inteligente

domingo, julho 27, 2014

IDH em marcha lenta - Suely Caldas

IDH em marcha lenta - Economia - Estadão

IDH em marcha lenta

- O Estado de S.Paulo

27 Julho 2014 | 02h 04

Os mais expressivos avanços sociais e econômicos alcançados na história do Brasil ocorreram a partir de 1994, quando o País se livrou da hiperinflação, estabilizou e organizou sua economia, criou condições para expandir investimentos e começou a olhar com foco mais ajustado a educação e a saúde da população. Mas, se antes de 1994 - sobretudo na chamada década perdida (1980/1990 e o período Collor) - os indicadores sociais estagnaram, depois disso passaram a avançar sem recuos, mas em ritmo lento, aquém do que esperam os brasileiros e do que é capaz de produzir um país com o nosso potencial de riquezas. Essa lentidão tem sido registrada anualmente no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) com 187 países - e o Brasil aparece na 79.ª posição em 2013, depois de ter ocupado o 75.º lugar em 2008.

Criado em 1990 pelos economistas Amartya Sen e Mahbub ul Haq, o IDH da ONU desviou o foco único na economia e passou a usar também critérios sociais para medir o bem-estar da população. Após algumas mudanças metodológicas, o índice hoje reflete três indicadores: renda, educação e saúde. Nos três o Brasil contabiliza avanços desde 1994, mas o enorme passivo de atraso social, as renitentes desigualdades regionais e uma classe política governante que prioriza a politicagem e descuida de melhorias sociais têm impedido uma evolução mais rápida.

A história do mundo mostra um ponto em comum entre os países que alcançaram desenvolvimento acelerado: todos priorizaram investimento em educação. Foi assim com os chamados tigres asiáticos (Hong Kong, Coreia do Sul, Cingapura, Taiwan, Filipinas, Indonésia, Tailândia). Acusados de trabalho escravo por pagarem salários irrisórios até 1960/1970, esses países viveram extraordinários booms econômicos depois de aplicar políticas de Estado dirigidas a elevar o grau de educação e o conhecimento da população. Na sequência, a produtividade do trabalho expandiu, os salários cresceram, os produtos que fabricam ganharam em qualidade e hoje são países que acumulam altas taxas de poupança exportando para todo o mundo.

O Brasil investe mal em educação e em saúde. Há enorme carência de hospitais públicos, faltam remédios, médicos, aparelhos para exames, a população pobre sofre em longas filas para ser atendida e muitos morrem antes da cirurgia marcada para três, seis meses depois da consulta. Na educação, políticas de avaliação da qualidade do ensino só começaram a ser aplicadas em 1996, com o chamado Provão, mas a qualidade continua muito ruim - do ensino fundamental (em que é comum o aluno ler e não entender o que leu) ao universitário.

Nas duas áreas tem havido avanços muito lentos. Na saúde foram necessários 30 anos para a expectativa de vida do brasileiro avançar 12 anos, para 74,6 anos. Na educação o trabalhador tem hoje, em média, 7,6 anos de estudo, só cinco anos mais do que em 1980. Comparado aos tigres asiáticos, o Brasil perde feio em competição, produtividade do trabalho, qualidade do produto e rapidez no progresso da educação. E na renda - terceiro indicador do IDH -, apesar da ascensão de 30 milhões de pobres para a nova classe média, as desigualdades regional e de renda continuam graves e empurrando o Brasil para o atraso no IDH.

Segundo a pesquisa da ONU, em 2013 o Brasil alcançou um IDH de 0,744 (numa escala de 0 a 1, quanto mais próximo de 1 melhor é a situação do país), abaixo do Chile (0,822), da Argentina (0,808), do Uruguai (0,790) e da Venezuela (0,764).

Lanterna na lista dos 49 países de desenvolvimento humano muito elevado, a Argentina tende a recuar na classificação, diante da expectativa de recessão econômica em 2014. No interior do Brasil, contudo, há municípios com índices de Primeiro Mundo - os paulistas São Caetano do Sul (0,862) e Águas de São Pedro (0,854) são campeões nacionais em prosperidade, com serviços sociais eficientes, educação e saúde satisfatórias e IDH bem acima da capital São Paulo (0,805).

SUELY CALDAS É JORNALISTA E PROFESSORA DA PUC-RIO E-MAIL: SUCALDAS@TERRA.COM.BR



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