Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, março 19, 2014

Por que a inflação não cai? Celso Ming

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Por que a inflação não cai?

Afinal, a política de juros funciona ou não funciona?

A resposta, assim na lata, é que, mal ou bem, funciona. No entanto, é tanta a interferência de outros fatores nos mecanismos de transmissão impostos pelo Banco Central (BC), que a política de juros opera no Brasil como um carro que se desloca com o freio de mão puxado e leva muita água na gasolina.

Há alguns anos, certos economistas, entre os quais o professor Luiz Carlos Bresser-Pereira, defendiam o ponto de vista de que os juros básicos (Selic) poderiam ser derrubados vigorosamente no Brasil sem que produzissem inflação relevante.

Se não antes, essa opinião ficou prejudicada no início do governo Dilma, quando o BC derrubou implacavelmente a Selic de 12,5% ao ano, em julho de 2011, para 7,25%, em outubro de 2012. O resultado foi o disparo da inflação que obrigou o BC a puxar os juros de volta ao patamar anterior.

Ontem, no jornal Valor, o professor Yoshiaki Nakano, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), defendeu um ponto de vista em outra direção. O de que a alta dos juros sozinha pode não ter capacidade de conter os preços com que conta o BC. Ele aponta para três fatores que podem aumentar ou diminuir a inflação, mesmo com redução do volume de moeda na economia (alta de juros).

O primeiro é o impacto do câmbio (cotação do dólar). Nakano entende que, no período de 2004 a 2006 (gestão Henrique Meirelles no BC), em que a política de metas de inflação pareceu funcionar, foi, na verdade, a política de valorização do real (baixa do dólar) que fez a maior parte do serviço. A partir de 2008, quando o dólar saltou de R$ 1,60 para R$2,35, onde está hoje, iniciou-se o processo em direção contrária, e o câmbio passou a produzir inflação, apesar do aperto na oferta de moeda (alta dos juros).

O segundo fator são os choques de oferta, como os resultados de uma seca implacável que eleva os preços dos alimentos, como está acontecendo.

E tem a poderosa jabuticaba que atua contra a política monetária, que são os tais preços administrados, correspondentes a 25% de todos os preços da economia. Sobre esse segmento, nem aperto nem desaperto dos juros funcionam, porque preços e tarifas se movem de acordo com a volátil política do governo. Com outra agravante: Como mais cedo ou mais tarde (em geral, de acordo com o calendário eleitoral) o governo terá de recompor esses preços, os empresários tendem a agir preventivamente e praticar reajustes de acordo com essa expectativa e não propriamente com o que for determinado pelo BC. É por isso que o frete sobe, mesmo sem reajuste imediato dos preços do óleo diesel.

Há três outros fatores, não citados por Nakano, que tiram eficácia da política de juros: (1) falta de firmeza da política fiscal, que é controle frouxo das despesas públicas; (2) o sistema automático de reajustes (indexação); e (3) a farta distribuição de créditos subsidiados, especialmente pelo BNDES, cujos beneficiários são menos alcançados pelas decisões do Copom que envolvem o crédito.

Enfim, para dar eficácia à política de juros muita coisa tem de mudar na economia brasileira.




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