Entrevista:O Estado inteligente

domingo, março 03, 2013

Saudades do metrô - ARTUR XEXÉO

3 de Fevereiro de 2013. 
O ônibus, ao lado da Estação Siqueira Campos, está superlotado. Os passageiros descem e logo formam uma fila para entrar no metrô. Empurra-empurra, chega pra lá, confusão. O esquema que as autoridades organizaram para suprir a falta das estações Cantagalo e General Osório, do precário metrô do Rio, não está dando certo. Dizem que o usuário pode substituir o trem que pegava nessas estações pelo metrô de superfície, uma maneira irônica com que nossas autoridades costumam chamar os ônibus quando querem fingir que são responsáveis por um sistema de transporte eficiente. Que metrô de superfície é esse que para no sinal fechado e enfrenta, como qualquer outro veículo, as agruras de um engarrafamento no trânsito? 
Março de 1979. Eu não conseguia esconder a empolgação. Depois de anos vendo trechos do Centro do Rio escondidos por tapumes, estava ali, na Estação Cinelândia, numa pequena fila, aguardando para comprar o meu bilhete do metrô. Não me lembro do preço. Mas me lembro do trajeto. Saí da Cinelândia e fui até a Estação Presidente Vargas. Ali, mudei de lado e retornei. Deslumbrado. Tudo era bonito. Mármore nas estações, trens limpinhos, confortáveis, espaço para todo mundo, boa sinalização. Não era para levar muito a sério. Servia só como passeio mesmo. O metrô, velho sonho da cidade, foi inaugurado com apenas cinco estações: além da Cinelândia e da Presidente Vargas, podíamos usar as da Praça Onze, da Central e da Glória. Só funcionava das nove da manhã às três da
tarde. Tinha quatro trens que chegavam a cada oito minutos. Transportava 60 mil pessoas por dia.
Naquela primeira viagem de 34 anos atrás, acreditei, como toda a população, que o Metrô tinha futuro. Hoje, são duas linhas, 35 estações e 640 mil passageiros por dia. E o caos. O ar refrigerado não funciona. Os trens vivem abarrotados. A limpeza dos primeiros anos transformou-se num mafuá onde se vende de tudo. As escadas rolantes não rolam. Os elevadores não se mexem. E a extensão, convenhamos, é ridícula. Tenho vergonha quando me dou conta de que nosso metrô cobre uma área menor que a do metrô de Brasília. Comparando com o de São Paulo, então, é bom nem falar.
Um sistema de transporte eficiente que integrasse toda a cidade ficou no sonho. O metrô carioca parece uma minhoca que se estende infinitamente. Era óbvio que não se encontraria uma alternativa para o o fechamento das duas última estações da Zona Sul. As linhas não se cruzam e as estações são muito distantes uma da outra. Perdendo-se uma estação, o usuário tem que apelar para outro tipo de transporte.
Quem está chegando agora pode pensar que foi sempre assim. Não é verdade. Durante quase 20 anos, a extensão de nosso metrô cresceu e a limpeza e eficiência continuaram funcionando. O caos se implantou a partir da concessão para uma empresa privada em 1998. O carioca nunca foi conhecido por cuidar de sua cidade. O metrô era uma exceção. Tornou-se exemplo de civilidade. Ninguém tinha coragem de jogar um papel de bala no chão. Com ele, aprendemos que, quando o serviço é bom, o usuário cuida e respeita. Hoje, o usuário trata mal o metrô. A culpa é do serviço. Ninguém gosta de pagar caro — e o metrô é caro à beça — por um produto medíocre.



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