Entrevista:O Estado inteligente

domingo, janeiro 27, 2013

J.R. Guzzo Namorando com o suicidio


Namorando com o suicídio

Autor(es): J.R.Guzzo
Veja - 28/01/2013
 

Se nada piorar neste ano de 2013, cerca de 250 policiais serão assassinados no Brasil até o próximo dia 31 de dezembro. É uma história de horror, sem paralelo em nenhum país do mundo civilizado. Mas estes foram os números de 2012, com as variações devidas às diferenças nos critérios de contagem, e não há nenhuma razão para imaginar que as coisas fiquem melhores em 2013 — ao contrário, o fato de que um agente de polícia é morto a cada 35 horas por criminosos, em algum lugar do país, é aceito com indiferença cada vez maior pelas autoridades que comandam os policiais e que têm a obrigação de ficar do seu lado. A tendência, assim, é que essa matança continue sendo considerada a coisa mais  natural do mundo — algo que “acontece”, como as chuvas de verão e os engarrafamentos de trânsito de todos os dias.

Raramente, hoje em dia, os barões que mandam nos nossos govemos, mais as estrelas do mundo intelectual, os meios de comunicação e a sociedade em geral se incomodam em pensar no tamanho desse desastre. Deveriam, todos, estar fazendo justo o contrário, pois o desastre chegou a um extremo incompreensível para qualquer país que não queira ser classificado como selvagem. Na França, a ficar em um exemplo de entendimento rápido, 620 policiais foram assassinados por marginais nos últimos quarenta anos — isso mesmo, quarenta anos, de 1971 a 2012. São cifras em queda livre. Na década de 80, a França registrava, em média, 25 homicídios de agentes de polícia por ano, mais ou menos um padrão para nações desenvolvidas do mesmo porte. Na década de 2000 esse número caiu para seis — apenas seis, nem um a mais, contra os nossos atuais 250. O que mais seria preciso para admitir que estamos vivendo no meio de uma completa aberração?
Há alguma coisa profundamente errada com um país que engole passivamente o assassínio quase diário de seus policiais — e, com isso, diz em voz baixa aos bandidos que podem continuar matando à vontade, pois, no fundo, estão numa briga particular com "a polícia", e ninguém vai se meter no meio. Essa degeneração é o resultado direto da política de covardia a que os governos estaduais brasileiros obedecem há décadas diante da criminalidade. Em nenhum lugar a situação é pior do que em São Paulo, onde se registra a metade dos assassinatos de policiais no Brasil; com 20% da população nacional, tem 50% dos crimes cometidos nessa guerra. É coisa que vem de longe. Desde que Franco Montoro foi eleito governador, em 1982, nas primeiras eleições diretas para os governos estaduais permitidas pelo regime militar, criou-se em São Paulo, e dali se espalhou pelo Brasil, a ideia de que reprimir delitos é uma postura antidemocrática — e que a principal função do estado é combater a violência da polícia, não o crime. De lá para cá, pouca coisa mudou. A consequência está aí: mais de 100 policiais paulistas assassinados em 2012.
O jornalista André Petry, num artigo recente publicado nesta revista, apontou um fato francamente patológico: o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, conseguiu o prodígio de não comparecer ao enterro de um único dos cento e tantos agentes da sua polícia assassinados ao longo do ano de 2012. A atitude seria considerada monstruosa em qualquer país sério do mundo. Aqui ninguém sequer percebe o que o homem fez, a começar por ele próprio. Se lesse essas linhas, provavelmente ficaria surpreso: "Não, não fui a enterro nenhum. Qual é o problema?". A oposição ao governador não disse uma palavra sobre sua ausência nos funerais. As dezenas de grupos prontos a se indignar 24 horas por dia contra os delitos da polícia, reais ou imaginários, nada viram de anormal na conduta do governador. A mídia ficou em silêncio. É o aberto descaso pela vida, quando essa vida pertence a um policial. É, também, a capitulação diante de uma insensatez: a de ficar neutro na guerra aberta que os criminosos declararam contra a polícia no Brasil.
Há mais que isso. A moda predominante nos governos estaduais, que vivem apavorados por padres, jornalistas, ONGs, advogados criminais e defensores de minorias, viciados em crack, mendigos, vadios e por aí afora, é perseguir as suas próprias polícias — com corregedorias, ouvidorias, procuradorias e tudo o que ajude a mostrar quanto combatem a "arbitrariedade". Sua última invenção, em São Paulo, foi proibir a polícia de socorrer vítimas em cenas de crime, por desconfiar que faça alguma coisa errada se o ferido for um criminoso; com isso, os policiais paulistas tornam-se os únicos cidadãos brasileiros proibidos de ajudar pessoas que estejam sangrando no meio da rua. É crescente o número de promotores que não veem como sua principal obrigação obter a condenação de criminosos; o que querem é lutar contra a “higienização" das ruas, a “postura repressiva” da polícia e ações que incomodem os “excluídos”. Muitos juizes seguem na mesma procissão. Dentro e fora dos governos continua a ser aceita, como verdade científica, a ficção de que a culpa pelo crime é da miséria, e não dos criminosos. Ignora-se o fato de que não existe no Brasil de hoje um único assaltante que roube para matar a fome ou comprar o leite das crianças. Roubam, agridem e matam porque querem um relógio Rolex; não aceitam viver segundo as regras obedecidas por todos os demais cidadãos, a começar pela que manda cada um ganhar seu sustento com o próprio trabalho. Começam no crime aos 12 ou 13 anos de idade, estimulados pela certeza de que podem cometer os atos mais selvagens sem receber nenhuma punição; aos 18 ou 19 anos já estão decididos a continuar assim pelo resto da vida.

Essa tragédia, obviamente, não é um “problema dos estados”, fantasia que os governos federais inventaram há mais de 100 anos para o seu próprio conforto — é um problema do Brasil. A presidente Dilma Rousseff acorda todos os dias num país onde há 50000 homicídios por ano; ao ir para a cama de noite, mais 140 brasileiros terão sido assassinados ao longo de sua jomada de trabalho. Dilma parece não sentir que isso seja um absurdo. No máximo, faz uma ou outra reunião inútil para discutir “políticas públicas” de segurança, em que só se fala em verbas e todos ficam tentando adivinhar o que a presidente quer ouvir. Não tem paciência para lidar com o assunto; quer voltar logo ao seu computador, no qual se imagina capaz de montar estratégias para desproblematizar as problematizações que merecem a sua atenção. Não se dá conta de que preside um país ocupado, onde a tropa de ocupação são os criminosos.

Muito pouca gente, na verdade, se dá conta. Os militares se preocupam com tanques de guerra, caças e fragatas que não servem para nada; estão à espera da invasão dos tártaros, quando o inimigo real está aqui dentro. Não podem, por lei. fazer nada contra o crime —  não conseguem nem mesmo evitar que seus quartéis sejam regularmente roubados por criminosos à procura de armas. A classe média, frequentemente em luta para pagar as contas do mês, se encanta porque também ela, agora, começa a poder circular em carros blindados: noticia-se, para orgulho geral, que essa maravilha estará chegando em breve à classe C. O número de seguranças de terno preto plantados na frente das escolas mais caras, na hora da saída, está a caminho de superar o número de professores. As autoridades, enfim, parecem dizer aos policiais: “Damos verbas a vocês. Damos carros. Damos armas. Damos coletes salva-vidas. Virem-se”.

É perturbadora, no Brasil de hoje, a facilidade com que governantes e cidadãos passaram a aceitar o convívio diário com o mal em estado puro. É um "tudo bem” crescente, que aceita cada vez mais como normal o que é positivamente anormal — “tudo bem” que policiais sejam assassinados quase todos os dias, que 90% dos homicídios jamais cheguem a ser julgados, que delinquentes privatizem para seu uso áreas inteiras das grandes cidades. E daí? Estamos tão bem que a última grande ideia do governo, em matéria de segurança, é uma campanha de propaganda que recomenda ao cidadão: “Proteja a sua família. Desarme-se”. É uma bela maneira, sem dúvida, de namorar com o suicídio.  

Maílson da Nóbrega Destruir é fácil


Destruir é fácil

 Maílson da Nóbrega
Veja - 28/01/2013
 

Os governos do PT têm promovido o desmonte sistemático das instituições fiscais duramente construídas nos anos 1980. e também com a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). de 2000. O processo se acentuou recentemente com o falseamento de resultados orçamentários e o uso de contabilidade criativa para fazer crer que foram cumpridas as metas de superávit primário. Caíram muito a transparência e a credibilidade das estatísticas fiscais.
A construção dessas instituições começou na crise da dívida externa da década de 80. O Brasil, como quase todos os países latino-americanos, firmou acordos com o FMI visando a assegurar um fiuxo mínimo de financiamento externo e a restaurar a confiança na sua economia. Esses acordos previam metas fiscais e a prestação de informações, tal como agora ocorre no apoio do Fundo a países europeus. Foi então que se percebeu o atraso institucional das finanças públicas brasileiras, que dificultava a geração de estatísticas e estimativas. O governo nem conhecia a si mesmo nem era controlado pela sociedade.
Entre 1983 e 1984, mais de 100 técnicos da Fazenda, do Planejamento, do Banco Central e do Banco do Brasil realizaram amplo diagnóstico da situação e propuseram medidas modernizadoras. O leitor pode não acreditar, mas quem executava o Orçamento da União era um departamento do BB e quem geria a dívida pública federal era um departamento do BC. O Tesouro não passava de uma entidade virtual. E o BC supria o BB de recursos por meio da famigerada “conta movimento”, de forma ilimitada. Nada disso transitava pelo Congresso. O BC atuava como banco de fomento e possuía equipes de análise de investimentos privados.

Todo esse quadro mudou entre 1986 e 1988. Foram extintas a “conta movimento” e as atividades de fomento do BC. Criou-se a Secretaria do Tesouro Nacional, com funções que antes cabiam ao BB e ao BC. A expansão da dívida pública passou a ser autorizada pelo Congresso. Na sequência veio a LRF, cuja qualidade foi reconhecida por organizações internacionais e que teve papel relevante na execução e na credibilidade da gestão macroeconômica.

O PT sempre se insurgiu contra essa evolução institucional. Alguns de seus líderes, hoje preeminentes, fizeram campanha contra as mudanças dos anos 1980. O partido tentou derrubar no Judiciário a LRF. Talvez por causa disso membros do governo acham hoje natural propor uma injustificável mudança na lei, permitindo, assim, a concessão indiscriminada de desonerações tributárias. Ou, na mesma linha, deduzir certos itens da despesa para fazer de conta que as metas foram cumpridas.

A ideia dessa dedução nasceu no FMI, motivada pelas dificuldades políticas para efetuar a diminuição de gastos em programas apoiados pelo Fundo. Os cortes penalizavam excessivamente os investimentos, menos sujeitos a resistências. Isso reduzia o potencial de crescimento econômico e dificultava adicionalmente os ajustes. O FMI decidiu, então, fazer uma experiência. Certos investimentos seriam escolhidos de comum acordo com o país. os quais eram monitorados pelo Banco Mundial. Se fossem realizados, poderiam ser descontados do cálculo do superávit primário.

Tratava-se, pois, de outro contexto. A escolha dos investimentos era criteriosa. Agora não. Agora, a ideia foi desmoralizada. Em vez de um "projeto piloto de investimentos”, de caráter experimental, o governo inclui itens a seu talante. Além disso, o PT recorreu a expedientes que na prática restabelecem a “conta movimento”, nesse instante com o BNDES. Manobras de setembro de 2010 permitiram contabilizar, como receita instantânea, parte da venda de 5 bilhões de barris de petróleo à Petrobras, no valor de 31,9 bilhões de reais, que não se sabe onde estão nem quando e se serão extraídos.

Salvo no caso dos subsídios concedidos via BNDES a empresas escolhidas, cujo valor permanece oculto, as demais manobras têm cobertura legal, reconheça-se. O Executivo vem conseguindo inscrever, na legislação, as deduções, apoiado por um Congresso que renuncia às suas prerrogativas, tornando-se, lamentavelmente, cúmplice dessa destruição das instituições fiscais. Mais uma vez, fica provado o óbvio: destruir é mais fácil do que construir.

Roberto Pompeu de Toledo Ato final

sábado, janeiro 26, 2013

A pressa de Dilma, por Ruy Fabiano

Blog Ricardo Noblat

A pressa de Dilma, por Ruy Fabiano

Pode-se acusar Aécio Neves de muita coisa, menos de ser bobo. Por isso mesmo, desconversou e tirou o time quando o PSDB decidiu lançá-lo precocemente candidato do partido à Presidência da República. Não que Aécio não o queira.

Nada o seduz mais, porém sabe que uma das mais elementares lições de política é não precipitar os acontecimentos. Candidato açodado apanha antes dos outros – e, portanto, apanha mais. Preferiu assim se resguardar para o tempo certo.

Já Dilma Roussef, com menor quilometragem no ramo, declarou-se candidata à reeleição. Mesmo que se tratasse de algo mais ou menos óbvio, sua recandidatura fora de hora deflagrou processos, dentro e fora de sua base, que não lhe convêm.

O primeiro deles é a própria sucessão presidencial. Quando alguém ocupando o cargo máximo do país se declara candidato, tudo o que faz (ou mesmo não faz) é imediatamente associado à sua candidatura.

Agora mesmo, está sendo acusada pela oposição (sim, ela de vez em quando aparece) de usar o cargo em prol de seu projeto eleitoral.

Dilma, na quarta-feira, foi à televisão anunciar a redução da tarifa de energia elétrica. Se não tivesse colocado sua candidatura na rua, a fala seria encarada como um gesto rotineiro de governo, embora seja cada vez mais rara uma boa notícia.

Mas ela é candidata e tudo o que faz, a partir de então, fica sob suspeita, contaminado por um projeto que já está nas ruas.

Mas a ação oposicionista, justamente por sua origem, é a que menos incomoda. É relativamente fácil refutá-la. A casa de marimbondos com que Dilma mexeu está em sua própria base.

A primeira consequência foi ferir e despertar o gigante Lula. Não que ele estivesse completamente adormecido.

Sabia do projeto de sua pupila, mas ainda o via submetido a circunstâncias que, no momento próprio – final deste ano, início do próximo -, pretendia pilotar. Lula, como se sabe, jamais descartou seu próprio retorno.

Chegou a dizer, mais de uma vez, que, se Dilma, na ocasião, estivesse em alta, seria a candidata; se não, não. Ou seja, essa candidatura dependeria de uma avaliação interna do PT, uma entidade também conhecida pelo nome de Lula.

Dilma, preocupada com o comportamento ambíguo do aliado Eduardo Campos (PSB), governador de Pernambuco, decidiu pressioná-lo e declarar-se candidata.

Campos não revelou o teor da conversa, que vazou por assessores. Mas, nas declarações públicas, limitou-se a reiterar seu apoio ao governo federal e evitar a questão eleitoral.

É improvável que concorra ano que vem à Presidência, mas administra o suspense para valorizar seu cacife. Faz parte da coreografia política, que Dilma conhece pouco. Se conhecesse mais, não usaria tal munição, cujos estilhaços explodiram dentro do PT, partido que a trata com uma intimidade forçada.

Desde então, Lula voltou a ocupar a cena. Tornou-se, por iniciativa própria, consultor de governos.

Deu aulas de administração ao prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e ao próprio governo federal, na pretensão de orientá-lo quanto à política externa.

Não bastasse, se autoproclamou articulador político do governo, função que exige cargo ou mandato.

A articulação política do governo Dilma tem uma ministra incumbida de empreendê-la, Ideli Salvati. Lula ignorou-a, assim como ignorou a própria presidente, assumindo-se publicamente como seu tutor.

Caberia à presidente anunciar tal iniciativa, que só teria legitimidade se decorrente de uma nomeação para o ministério.

Lula, ao que parece, prescinde de cargos ou mandatos. É mais que um Pinheiro Machado na República Velha, que governava os presidentes. Machado ao menos tinha um mandato: era senador.

Lula é ex-presidente. Por mais popularidade que tenha, não tem delegação para governar. Mas o recado para Dilma é claro: se suas relações com a base aliada já não eram grande coisa, a partir de agora, dependem de Lula.

A sucessão já está deflagrada. E Dilma entra nela pela contramão. Mais que nunca, a oposição – Aécio à frente – deve ficar na moita, aguardando, como aconselhava Tancredo Neves, "a onda quebrar para examinar a espuma".

 

Ruy Fabiano é jornalista


A barrigada do El País e Dilma na TV, por Vitor Hugo Soares

Blog Ricardo Noblat

A barrigada do El País e Dilma na TV, por Vitor Hugo Soares

Os incomodados que me perdoem. Não dá para passar batido, neste espaço de opinião, sobre o que considero – cada um a seu modo e em seu respectivo contexto - dois dos fatos jornalísticos mais interessantes, relevantes e dignos de análises nesta penúltima semana de janeiro de 2013 para não esquecer.

1: A monumental barrigada do respeitável jornal espanhol El País, ao divulgar na página web e na capa de sua nobre e acatada edição impressa, quinta-feira (24), foto bizarra de um cidadão entubado, careca (vale neste caso estranho observar o detalhe em linguagem crua e politicamente incorreta), identificado como o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, moribundo em leito hospitalar de Havana, Cuba.

Um caso gritante e nada exemplar, logo se vê, do desejo submerso atropelando o fato e a verdade que está "no olho da cara".

2- O polêmico (pode parecer óbvia, mas não há palavra mais apropriada neste caso) e desconcertante pronunciamento da presidente da República, Dilma Rousseff, em rede nacional de TV e Rádio, um dia antes.

Primor de peça de oratória política, comunicação e propaganda de governo, objetivando alcançar vários objetivos com uma paulada só, a saber:

A) Anunciar para usuários comuns e grandes consumidores industriais de energia, a redução significativa para o bolso e o caixa, da conta mensal de luz, a valer a partir de quinta-feira (24);

B) bater duro na cabeça dos reativos "pessimistas" e "alarmistas" - leia-se oposicionistas e adversários em geral, mas principalmente os tucanos FHC, Serra e Aécio Neves - ;

C) lançar com toda pompa, circunstância e largo alcance no País e lá fora, a campanha de reeleição, com quase dois anos de antecedência, da atual ocupante do Palácio do Planalto, na disputa presidencial das eleições de 2014.

"Eta ferro!", como gostam de gritar os cariocas diante de situações como estas duas, anotadas no correr dos últimos sete dias.

No caso da estranhíssima - e até agora mal explicada barrigada do El País - já se pode visualizar devastadoras consequências, mesmo aqui no Brasil, onde a chamada "grande imprensa", neste caso, opta por forte guinada em relação ao tratamento informativo e de opinião dado a delicados episódios políticos recentes.

Prefere guardar uma espécie de "silêncio piedoso" (ou seria "silêncio corporativista" ) diante do malfeito do co-irmão espanhol, como se dizia antigamente na imprensa baiana.

Primeiro, no terreno delicado da perda de credibilidade (pior condenação que um jornal pode sofrer) para o importante diário editado em Madri - mas de ampla penetração e relevo na Europa, América Latina e Estados Unidos, entre outros rincões mais ou menos democráticos.

Depois, no plano mais rasteiro (embora não menos demolidor), do golpe financeiro sofrido nos últimos dias por uma empresa jornalística que já se arrasta em crise prolongada, em um dos países europeus mais próximos da bancarrota, sufocado por dificuldade que parece interminável na nação imperial de Rajoy e do Rei Juan Carlos.

Este último, igualmente em baixa de prestígio e credibilidade, desde a queda na desastrada caçada de elefantes na África, longe das vistas da Rainha Sofia. A exemplo da Espanha gloriosa de outros tempos, o rei também tem atualmente dificuldades sérias para se reabilitar.

No caso de repercussão mundial desta semana, depois de constatar que o careca da foto não era Hugo Chávez, El País montou gigantesca e cara operação de emergência para amenizar os efeitos da catástrofe: meia hora depois de publicada, retirou do ar a imagem no portal web do diário.

Ainda, durante a madrugada, parou as máquinas (fato raríssimo em qualquer grande jornal do mundo) para retirar a imagem da primeira página de sua acreditada edição impressa, imprimindo em seguida uma nova edição, mas sem impedir que alguns exemplares com a foto falsa chegassem aos quiosques de Madri.

Só quem já viveu a experiência de uma grande redação, no fechamento de uma edição e rodagem nas máquinas das oficinas de grande jornal ou revista, sabe exatamente o que uma operação como esta significa em termos de tensão, desgaste emocional e custos financeiros monumentais.

E quantas cabeças rolam durante e depois de uma situação semelhante à que El País precisou enfrentar. E quantas seguem rolando ainda, muito tempo depois de tudo passado.

Talvez seja o frio na espinha, diante da simples imaginação do caso, o que silencia muita gente que não costuma ter papas nas línguas diante de um teclado de computador. Na Espanha ou no Brasil.

No caso do pronunciamento oficial da presidente Dilma, em rede nacional de televisão e rádio, não se conhece ainda consequências maiores e concretas, além das palmas pressurosas e foguetes barulhentos de petistas e governistas em geral, e do choro e ranger de dentes de tucanos e oposicionistas.

Ou do bafafá que rola no pró e contra na imprensa, que mais parece coisa de arquibancada e gerais em dia de Fla x Flu.

Mas é certo, pode apostar, que a exemplo da foto falsa de Chávez na primeira página do El País, ainda se falará muito, nos próximos dias, dos olhos faiscantes e das palavras ditas, como chicotadas, por Dilma esta semana na tela da TV, ao defender seu governo e começar a campanha para ficar mais quatro anos na cadeira principal de mando no Palácio do Planalto.

A conferir.

 

Vitor Hugo Soares é jornalista. E-mail: vitor_soares1@terra.com.br


quinta-feira, janeiro 24, 2013

Arida critica políticas do governo Dilma


O Estado de S. Paulo - 24/01/2013
 

O economista Persio Arida, chairman e sócio-diretor do banco BTG Pactuai, criticou ontem a política econômica brasileira no debate sobre a América Latina no primeiro dia do Fórum Econômico Mundial. Arida, porém, deu um tom moderadamente otimista à sua análise do Brasil, dizendo que o governo do País, diferentemente dos regimes populistas mais radicais da América Latina, está aprendendo com os seus erros.

Para Arida, um dos mentores do Plano Real e ex-presidente do Banco Central, uma das causas do desaquecimento brasileiro é demográfica, com uma desaceleração abrupta do crescimento da população em idade de trabalhar. Isso explica a combinação de baixo crescimento e mercado de trabalho aquecido.

Para ele, as outras causas, porém, têm a ver com a política econômica, e podem ser corrigidas pelo processo de aprendizado. Ele cita a interrupção das reformas econômicas em 2006, o excesso de medidas intervencionistas do governo, a parada nas privatizações (só agora retomadas, no caso dos aeroportos, com o rótulo de concessões), o protecionismo e as políticas de conteúdo nacional.

Essas últimas, para ele, beneficiam os produtores, mas prejudicam os compradores e provocam distorções que, no longo prazo, são prejudiciais à economia. Arida chegou a citar a Petrobras, obrigada a comprar produtos mais caros, o que diminui seu fôlego para ampliar a operação.

Ele também criticou a lei do salário mínimo (que prevê reajustes pela inflação e mais o PIB de dois anos antes), que considera uma "superindexação" com efeito inflacionário.

Arida colocou-se contra "essa visão (do Brasil) muito pessimista, de que o caso é perdido". Para ele, "tem um aprendizado acontecendo". / F.D.

segunda-feira, janeiro 21, 2013

A Multabrás e o oportunismo fiscal do governo - RICARDO GALUPPO

BRASIL ECONÔMICO
Multa, como se sabe, é uma punição pecuniária que o Estado, por meio de seus agentes, tem a prerrogativa de aplicar para coibir desvios de conduta que vão dos mais simples (como estacionar o carro em local proibido) aos mais graves (como a sonegação de impostos).

E gera, por assim dizer, um recurso extraordinário, que entra nos cofres públicos sem estar previsto no orçamento. Pelo menos não deveria. Afinal, nem o mais onipresente dos governos é capaz de saber quantas pessoas andam fora da linha para estimar o quanto arrecadará por essa via.

Além do mais, o cidadão ou a empresa multada tem o direito de recorrer contra o ato e lutar para não pagar o valor que o agente público afirma ser devido. Até aí tudo bem.

O problema é que, no Brasil, o governo (incluindo-se aí os estados e os municípios) e as agências reguladoras resolveram fazer da multa uma fonte firme de receita e o valor acumulado já teria alcançado, de acordo com um cálculo superficial do economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, a cifra de R$ 250 bilhões. É muito dinheiro - e boa parte dele está sendo contestada pelos atingidos. Convertido pelo dólar médio de 2012, se aproxima dos US$ 130 bilhões.

Um cálculo mais preciso com toda certeza mostraria que o valor é equivalente aos US$ 150 bilhões que a Petrobras, maior empresa do país, faturou no ano passado. Ou seja, essa formidável usina de multas, a Multabrás, é um negócio muito mais lucrativo para os cofres públicos do que a Petrobras.

Um valor como esse, com toda certeza, é um atentado ao bom senso. E só pode significar uma entre as seguintes hipóteses: ou a norma legal é tão confusa que as empresas, façam o que fizerem, não conseguem segui-la ao pé da letra ou o país tem muito mais gente desonesta do que sempre se imaginou. Afinal, é muita sonegação.

Esses R$ 250 bilhões representam quase 6% do PIB brasileiro. Uma terceira hipótese seria resultado de um traço cultural que tomou conta dos fiscais brasileiros, que parecem pôr a faca na boca quando partem para fiscalizar uma empresa.

Saem dispostos a multar e multam mesmo. E as empresas, muitas vezes, pagam apenas para não ver o caso se arrastar durante anos e anos e consumir um valor que pode ser equivalente ao da multa numa aventura judicial de resultado incerto. As vítimas desse tipo de atitude dão a ela o nome de "oportunismo fiscal".

Ninguém em sã consciência pode ser contra o princípio filosófico da multa. Quando bem aplicada, ela é um recurso eficiente e que pode, perfeitamente, pôr eventuais transgressores nos trilhos.

O problema é que o recurso, quando aplicado de forma indiscriminada, acaba tirando a razão do Estado e transformando a multa em algo que, além de não ter qualquer efeito pedagógico, acaba se tornando mais um fardo fiscal e tirando ainda mais a competitividade da economia brasileira.


domingo, janeiro 20, 2013

O contrabando chavista é nosso - GUILHERME FIUZA


REVISTA ÉPOCA


No jeitinho venezuelano, a lei é soberana, desde que não contrarie o espírito bolivariano

O Brasil apoiou o adiamento da posse presidencial na Venezuela para esperar um pouco mais por Hugo Chávez. O jeitinho venezuelano de preservar sua democracia na marra tem dessas licenças poéticas. A lei é soberana, desde que não contrarie as conveniências do espírito bolivariano, encarnado no coronel-presidente. Diante desse truque da esquerda bandoleira, o Brasil poderia até ter deixado passar, ter fingido que não viu, ter mudado de assunto. Mas não: ergueu-se a voz do Itamaraty, sacudindo o Barão do Rio Branco nas catacumbas, para anunciar que o governo da companheira Dilma apoia o contrabando político do companheiro Chávez.

A solidariedade é compreensível. São dois projetos - o que governa o Brasil e o que governa a Venezuela - irmanados no mesmo princípio essencial: não largar o osso, custe o que custar. Nunca é demais lembrar que o Itamaraty, na era do governo popular, segue a linha doutrinária de Marco Aurélio Garcia - aquele flagrado comemorando com gestos obscenos (o clássico "top-top") a notícia de que as duas centenas de mortes no acidente da TAM se deveriam a falhas do avião, e não do governo.

A escala de valores dessa turma, como se vê, obedece a códigos humanitários muito especiais. Também ficou na história - ou melhor, não ficou, porque o Brasil esquece tudo - a declaração do então ministro da Previdência e prócer do PT, Ricardo Berzoini, durante uma operação para recadastramento de aposentados do INSS. Depois de insistir em obrigar velhinhos de 90 anos a penar em filas imensas a céu aberto, Berzoini finalmente recuou diante das imagens de idosos desmaiando nas calçadas. E justificou o recuo, placidamente, dizendo que o "desgaste" seria grande. Com aposentados sob tortura nas ruas, o ministro se referia ao desgaste do PT. Eles só pensam naquilo.

É, portanto, absolutamente natural o apoio do Itamaraty ao cambalacho constitucional dos companheiros chavistas. O que importa é manter viva a lenda terceiro-mundista da revanche popular sobre as elites - conto de fadas que alimenta a mais formidável indústria do voto da história das Américas.

Foi sob essa mesma doutrina que Lula trocou carinhos em público com o sanguinário Muammar Khadafi, o falecido (linchado) ditador líbio que brilhava no presépio do antiamericanismo. Com Mahmoud Ahmadinejad, o tarado atômico do Irã, o governo popular foi mais longe, convidando-o para passear de queixo empinado em nossos quintais - como parte da pantomima de resistência contra o império ianque. Sem falar na comparação antológica do lulismo entre bandidos paulistas e presos políticos cubanos - para legitimar o apoio do PT a Fidel Castro.

E tome literatura progressista, com a aliança folclórica entre as "presidentas" Dilma Rousseff e Cristina Kirchner - na qual a brasileira banca ideologicamente os arroubos autoritários da colega argentina, em sua cruzada contra a liberdade de expressão. O mesmo plano de controle da mídia está firme no ideário do PT, e só não foi posto em prática (ainda) porque a imprensa brasileira é mais vigorosa. Mas a demagogia tarifária que apodreceu o setor elétrico argentino já foi devidamente importada, com as conseqüências devastadoras a que o Brasil hoje assiste nas empresas de energia.

O alinhamento do Itamaraty com mais esse golpe da democracia privatizada venezuelana não é só um ato vergonhoso, para enriquecer o folclore de um governo que fala com o mundo por meio do sectarismo obsceno de um Marco Aurélio Garcia. Esse gesto expressa a inequívoca tentação chavista do regime liderado pelo PT, que está há dez anos manobrando para subjugar o Estado brasileiro pelo apa- relhamento político. O mensalão nada mais foi do que o capítulo mais escandaloso dessa doutrina.

Mas os brasileiros não se importam com a implantação desse parasitismo institucionalizado, e marcham para dar-t lhe o quarto mandato presidencial consecutivo, visando ao aperfeiçoamento da obra.

O Itamaraty pode apoiar todos os golpes chavistas, assim como pode dar passaporte diplomático para Valdemiro e Franciléa, líderes da Igreja Mundial do Poder de Deus, alegando que isso seja de interesse nacional. Deve ser mesmo. Os interesses da nação têm obedecido a crenças que até Deus duvida.

Em defesa da Petrobrás e do pré-sal-SUELY CALDAS

O ESTADO DE S PAULO 20/01/13
A produção de petróleo está estagnada em 2 milhões de barris/dia desde 2010; em campos maduros da Bacia de Campos, de 2011 a 2012 a produção chegou a cair 40% e, com isso, a Petrobrás é obrigada a importar volumes crescentes de combustíveis; para aliviar a importação, o governo aumentará de 20% para 25% a mistura de álcool à gasolina; há quatro anos não há um só leilão de licitação de novas áreas para exploração de óleo; na região do pré-sal, onde há volumes gigantes de jazidas inexploradas, a próxima rodada só ocorrerá em novembro; a Agência Nacional do Petróleo (ANP) determinou à Petrobrás novos investimentos e aumento da produção no Campo de Roncador, e fará o mesmo com mais 10 campos na Bacia de Campos; para cumprir investimentos programados, a Petrobrás tem elevado perigosamente seu endividamento; a estatal tem dúvidas se terá suporte financeiro para cumprir o papel de única operadora e detentora de 30% de todos os campos do pré-sal, como manda a lei.
A manchete mais popular relacionada à Petrobrás é o aumento de 7% no preço da gasolina, há nove anos congelado para o consumidor. Mas as notícias acima também têm surgido com frequência e destaque na imprensa, com advertências de especialistas sobre o preocupante futuro da maior empresa brasileira. Os dois governos do PT exigiram da Petrobrás muito mais do que ela pode dar e suportar, comprometendo seu futuro e degradando sua imagem dentro e fora do Brasil. Está mais do que na hora de mudar. Se não mudar, o mais estatizante governo, depois dos militares, arrisca-se a ser acusado, no futuro, exatamente do contrário de suas intenções: inferiorizar e enfraquecer a estatal mais bem-sucedida do País.
O uso político da Petrobrás tem sido vasto e o mais evidente são as nomeações políticas e o sufocante congelamento dos combustíveis. O mais grave, porém - porque tem efeitos deletérios no curto e no longo prazos para a Petrobrás e para o País -, foi a ideológica mudança no modelo de exploração das ricas jazidas do pré-sal, do regime de concessão para o de partilha, que colocou sobre a Petrobrás o peso de ser o único operador e responsável por 30% de todos os investimentos. Foi um erro - hoje reconhecido por quem articulou as novas regras em 2008. Um deles, o ex-diretor-geral da ANP Haroldo Lima, fez sua mea culpa em recente entrevista à revista Piauí: "Se fosse hoje, com o conhecimento que tenho, jamais aprovaria essa cláusula de operador único e do porcentual de 30%. A vida mostrou que, com a dificuldade crescente da Petrobrás, se criou um problema que não havíamos previsto", reconheceu.
Na mesma entrevista, Lima conta que, em 2008, nas reuniões para conceber o modelo, Dilma Rousseff era quem mais insistia na partilha e a única voz discordante era justamente a de José Sergio Gabrielli, na época presidente da Petrobrás, empresa que, aparentemente, mais se beneficiaria com a propriedade de no mínimo 30% de todo o petróleo do pré-sal. Mas as aparências enganam. Gabrielli sabia que a estatal não teria condição financeira de cumprir o que dela era exigido. E não escondia sua preocupação. Em entrevista ao Estadão, em 12/2009, ele alertava: "Hoje a Petrobrás tem um plano de investimentos de US$ 174 bilhões para cinco anos (2009-13), que vai aumentar. Quanto, não sei ainda. Mas com certeza é maior. A companhia não é capaz de gerar caixa livre para fazer esse investimento".
O tempo mostrou que ele estava certo e Dilma, errada. Até porque, a não ser pelo apelo ideológico, era completamente desnecessário migrar para a partilha. É claro que, no regime de concessão, as empresas privadas teriam de remunerar bem mais o Estado, já que o risco de não encontrar óleo quase inexiste. Mas a lei da concessão já contemplava isso, bastava elevar às alturas a taxa de "participação especial" nos campos do pré-sal. Com as vantagens de simplificar (dispensaria aprovar nova lei no Congresso), dar eficácia ao recolhimento do dinheiro, acelerar os investimentos, gerar renda, emprego, progresso e ampliar a produção de petróleo. Ainda há tempo.

Duplo mandato CELSO MING

 - O Estado de S.Paulo

O comunicado emitido na quarta-feira, logo depois da última reunião do Comitê de Política Econômica (Copom), com menção "a atividade doméstica menos intensa do que o esperado", reforçou a impressão de alguns analistas de que o Banco Central, presidido por Alexandre Tombini, opera sua política monetária (política de juros) mais para empurrar o PIB do que para controlar a inflação. Tudo se passaria, portanto, como se a autoridade monetária, na prática, executasse um duplo mandato, atuando na contramão do que está na legislação - que exige concentração na tarefa de cumprir a meta de inflação.

Em princípio, não há nada de especialmente errado no fato de um banco central manejar sua política monetária também para incentivar o emprego, mais ou menos como funciona o Federal Reserve System (Fed, o banco central dos Estados Unidos). Não há administrador de banco central que também não atue de olho na atividade econômica e no nível de emprego, mesmo entre os que são obrigados a trabalhar com meta rígida de inflação - como são os casos do Banco Central Europeu (BCE) e do Banco da Inglaterra (BoE).

O problema é que é difícil operar assim, assoviando e chupando cana ao mesmo tempo. Os estudos já realizados sobre o tema concluíram que a melhor coisa que um banco central pode fazer para garantir aumento do emprego e crescimento sustentável é controlar a inflação dentro da meta. Ainda assim, nos países em que se confere o duplo mandato, o banco central está sempre avisando o que tem preferencialmente na alça de mira.

Em outubro, por exemplo, o Fed editou comunicados claros de que a inflação está no chão e não dá sinais de reativação. Portanto, não preocupa. Por isso se dedicará à tarefa de recuperar postos de trabalho.

Aqui no Brasil, em novembro de 2011, diante das críticas de que foi alvo, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) retirou projeto já aprovado na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado que investiria o Banco Central na função de "promover o pleno emprego na economia". O próprio governo concluíra que uma lei desse tipo seria inconveniente, na medida em que poderia provocar perda de confiança na política econômica.

Independentemente disso, no momento, ficaria estranho desviar a política monetária para obtenção do crescimento de postos de trabalho, numa situação que já é de pleno emprego (desemprego de apenas 4,9% da população ativa) e de consumo das famílias crescendo a 5,0% ao ano.

O próprio Banco Central vem afirmando reiteradamente nos seus documentos que "o consumo continua robusto" e que o mercado de trabalho no Brasil, aquecido demais, não está ajudando a conter os custos de produção e a segurar a inflação.

O que, no momento, emperra o avanço do PIB do Brasil não é a demanda fraca de bens e serviços; é a oferta fraca. É o setor produtivo que não decola, entre outras razões, porque está pesado demais e carrega muitos custos. Ou seja, mesmo que o Banco Central conseguisse usar a política monetária para empurrar a atividade produtiva, o resultado seria mais combustível no consumo, na demanda e na inflação.


Campo dá tudo que a indústria precisa ALBERTO TAMER

- O Estado de S.Paulo

A agricultura e a pecuária brasileiras produzem a preços e custos menores tudo o que a indústria e os outros setores da economia precisam. Se estendermos para o conceito de commodities, incluindo o minério usado nas siderúrgicas que produzem aço, a cobertura é praticamente total. Que a agricultura brasileira salvou a economia no ano passado e está salvando este também, não é novidade. Demos na última coluna, com detalhes.

Demos também, não é este fato único, que os agricultores investiram no ano passado e estão reinvestindo este ano, R$ 200 bilhões, nada menos que 22% do PIB total do agronegócios, que foi de R$ 940 bilhões. Pode ser mais porque aumentaram a área plantada e compraram equipamentos. São recursos que eles geraram e trouxeram de volta para o campo.

Graças ao aumento do plantio e, principalmente, agora, ao clima favorável, a atual safra agrícola deve crescer 8,6%, de acordo com previsão da Conab, tendo como base o que já está sendo cultivado e a intenção dos agricultores de plantio. Boa parte da safra já está sendo colhida.

O que não é novidade, mas poucos sabem ou os que sabem, não comentam, é que o setor agrícola brasileiro atende plenamente à demanda industrial por matéria-prima a custo menor e melhor qualidade. Milho, soja, algodão, café, cana, couro. Tudo. Não falta praticamente nada. Isso deveria desonerar a produção industrial que tem seus custos elevados por outros fatores distorcivos, sim, mas sobre os quais poderia, na medida do possível, agir.

Números impressionam. Esse é um ângulo com o qual encerramos o tema iniciado na coluna anterior, agricultura investe R$ 200 bilhões. Para que os leitores tenham a visão de uma realidade escondida no campo, para que não venham a público choramingar e pedir favores, dizendo que "os chineses chegaram, os chineses chegaram... Vamos brigar com eles? Não, vamos comprar deles, montar e vender aqui..." E sem riscos. Eles perdem porque não produzem, mas compensam com o que ganham, com o que vedem no mercado interno.

30 milhões para 194 milhões. São 30 milhões de agricultores no campo que abastecem uma população de quase 194 milhões - e outros milhões que estão entrando no mercado de consumo graças ao aumento da renda. A agricultura atende a tudo que a indústria precisa para produzir, gerou uma renda de R$ 917 bilhões e ainda exportou no ano passado US$ 95,8 bilhões e permitiu a formação de estoques reguladores suficientes para qualquer emergência e sustentação dos preços mínimos.

O que temos aí, em meio a um clima turbulento, incerto, dominado em Brasília por indefinições quase existenciais, não é só uma agricultura alimentando o País, mas oferecendo a muitos setores de atividade, tudo o que precisam. Só que ela cresce porque investe e os outros recuam porque... Ora sabe-se lá porquê! Hesitam?

O que a indústria mais usa. Soja, milho, tudo. A safra brasileira de soja da temporada que está começando a ser colhida deve alcançar um recorde de 84 milhões de toneladas, com o clima favorável ajudando na produtividade das lavouras. E o Brasil vai ocupando rapidamente espaço e liderando cada vez mais setores no mercado mundial, sem limites hoje previsíveis porque há milhares de hectares ainda por ser plantados, espírito empreendedor e apoio não apenas financeiro do governo, do Ministério da Agricultura.

Se tudo isso não é novidade, se a coluna já deu - os 22% de investimento do PIB agrícola impressionaram muito os leitores ( e nós também...) -, o que há de novo? Há um fato que muitos ignoram e os que sabem, não comentam: é que agricultura e a pecuária brasileiras produzem tudo que a indústria precisa a custos menores e melhor qualidade. Tudo. Pouquíssimos países, talvez os Estados Unidos, têm condições tão favoráveis.

O algodão autossuficiente. Levantamento do Ministério da Agricultura, nesta semana, dá um destaque especial ao algodão. Ele mostra que "a indústria têxtil brasileira usa por ano, quase um milhão de toneladas da fibra produzida no País". Considerando a safra de 1,8 milhão de toneladas na temporada 2011/12, o excedente é exportado para o mercado internacional colocando o Brasil em terceiro lugar entre os maiores exportadores mundiais. Isso é o Brasil. É autossuficiente na produção de algodão que abastece completamente a importante indústria têxtil nacional.

Carnes, açúcar, milho. Outro setor industrial que tem dependência direta e é atendido pela agropecuária brasileira é o da indústria de carnes com o milho. Em 2012, cerca de 70% das 53 milhões de toneladas do grão consumidas no Brasil foram destinadas à ração animal. Poderíamos alongar a lista de produtos agrícolas que são industrializados: açúcar, cana-de-açúcar, agora com o uso do bagaço para geração de energia, álcool...

Máquinas e caminhões. Além do fornecimento de matéria-prima, o setor agropecuário também influencia a indústria com a aquisição de máquinas, equipamentos agrícolas, caminhões, num processo de modernização que ano a ano se acentua, refletindo no aumento da produtividade.

Menos juros, mais vendas. No ano passado, com os juros caindo de 5,5% para 2,5%, as vendas de máquinas agrícolas aumentaram 6,2% em relação a 2011. Ao todo, foram vendidas  70 mil unidades, número que não era alcançando desde a década de 70, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). A expectativa para 2013 é de novas altas, entre 4% e 5%.

É a mecanização que avança trazendo o aumento da produção agrícola em mais 8,6% e o índice crescente de produtividade. São informações que, pelos inúmeros e-mails que recebeu, a coluna acredita não tinham chegado ainda aos leitores. Em um desses e-mails, um leitor pergunta se não estou sendo otimista demais, "quase ufanista", diz ele. Mas os fatos, os números, as exportações, as safras crescentes abastecendo o mercado não justificam isso?

Ufanista, não. Longe disso porque o agricultor brasileiro enfrenta ainda sérios desafios, incluindo logísticos. Apenas reconheço e realço uma realidade que está aí, inteira, quase exuberante (perdão...), que precisa ser conhecida. Uma realidade que repasso para vocês.

sexta-feira, janeiro 18, 2013

Lula, o obsolescente, agora passa a assombrar Dilma Rousseff-Reinaldo Azevedo


Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente da República, como se sabe, reuniu-se anteontem com o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), a vice, Nádia Campeão, e 10 secretários municipais. Deu uma aula sobre como deve funcionar a Prefeitura, a necessidade de parcerias com o governo federal e do estado, as prioridades da gestão etc. Lula não exerce cargo nenhum nem mesmo no PT. Se o Apedeuta fosse rei do Brasil, como Elizabeth é rainha da Inglaterra, não poderia se entregar a essas larguezas. Ocorre que o homem tem vocação para monarca absolutista.

Fernando Haddad, que já é tratado por setores da grande imprensa paulistana, com menos de três semanas de mandato, como o maior prefeito de todos os tempos, abriu-lhe as portas, com o devido tapete vermelho. O prefeito Coxinha fez da Prefeitura um reduto do lulismo.

Se Haddad pratica a sujeição voluntária, com Dilma Rousseff será um pouco diferente. Na segunda, o monarca reúne integrantes do primeiro escalão do governo federal para tratar de política externa. Trata-se de um evento patrocinado pelo instituto que leva seu nome. Participam do encontro o ministro da Defesa, Celso Amorim (um lulista fanático), Marco Aurélio Garcia, assessor especial da presidente, e Luciano Coutinho, presidente do BNDES. Na plateia, estarão intelectuais petistas, ex-ministros, políticos os mais variados e convidados da América Latina. O Babalorixá de Banânia viaja depois para Cuba, onde está internado Hugo Chávez. Em fevereiro, já anunciou que passa a viajar pelo país, numa espécie de reedição das tais Caravanas da Cidadania.

Afinal, o que quer Lula? A resposta não é simples. Oficialmente, ele e seus sequazes dirão que estão atuando para fortalecer o governo Dilma, cuja reeleição, para todos os efeitos, não duvidem, ele defenderá. Perde, ademais, o seu tempo os que imaginarem que dá para investir numa eventual dissensão aberta entre a atual mandatária e o ex. Isso não vai acontecer.

A movimentação de Lula, no entanto, evidencia — muito mais do que apenas "sugere" — que ele não está contente com o papel de ex-presidente. Ora, para todos os efeitos, convenham, Dilma o representa. Foi feita candidata por ele, mantém um governo com uma maioria esmagadora de petistas, não cansa de exaltar as virtudes do antecessor etc. O país vive, sim, um momento de baixo crescimento da economia, mas é visível que isso ainda não se transformou em movimentos de opinião. Sem uma  oposição para politizar a crítica, Dilma segue sendo uma figura pública popular e faz, a despeito da própria gestão, um governo aprovado pela esmagadora maioria, segundo indicam as pesquisas ao menos.

Assim, escreva-se o óbvio: Dilma não corre risco político nenhum que tenha raiz na oposição ou na população. O governo segue com uma maioria folgada no Congresso, e a governanta tem a simpatia de boa parte da imprensa. Por que Lula precisaria percorrer o país? A liderança da hora, no seu terreno ideológico, chama-se Dilma Rousseff, goste ele ou não. Qual o propósito de um seminário-aula para alguns figurões do governo e do novo périplo pelo país?

Um só: lembrar que ele está no jogo e que é, de fato, o "criador da criatura". Ainda que Dilma negue, ainda que compareça em pessoa ao seminário, ainda que se deixe fotografar ao lado do Apedeuta, é evidente que um evento com essas características e com esses convidados agride a sua autoridade de presidente e lhe mina a credibilidade junto a setores importantes da sociedade.

Que se diga: ainda que Lula não tivesse a intenção de "pôr Dilma em seu devido lugar", isso se daria na prática, dada a dimensão que ele tem no partido. O seminário, em si, com aquelas personagens, já é um despropósito, mas ainda se pode condescender: "Ah, se institutos não fizerem coisas assim, farão o quê?" Mas e a nova "caravana"? Qual é o propósito?

Não há mensagem que Lula possa passar aos brasileiros que não esteja, hoje em dia, a cargo de Dilma, que o sucedeu, ungida por suas próprias mãos.  Ao tomar o lugar que cabe à presidente, o ex-mandatário ocupa a posição que avalia lhe caber por direito divino. Caso realmente decida percorrer o país, quando menos, Lula impõe à sua sucessora uma pauta. A fatura máxima dessa iniciativa levaria Dilma a abrir mão da reeleição em nome de um valor mais alto que se alevantasse: Lula!

Não, senhores! Desta vez, ele  não que sair pelo Brasil pra confrontar e afrontar "a direita"; desta vez, ele não sairá por aí a demonizar FHC e os "300 picaretas"; desta vez, ele não vai oferecer o seu PT como alternativa "àqueles que mandam nestepaizdesde 1500".

A única a ter seu prestígio desgastado com este Lula buliçoso é Dilma, por mais que ambos troquem publicamente juras de eterno amor e mútua admiração. Segundo pesquisas de opinião, justa ou injustamente, ela conseguiria se reeleger hoje por suas próprias pernas. O Apedeuta não suporta a ideia de que se tornou obsolescente. Por isso assombra a sua sucessora.

Reinaldo Azevedo


O rei - ELIANE CANTANHÊDE


FOLHA DE SP - 18/01


BRASÍLIA - Chega a ser patética a foto de Lula no gabinete do prefeito de São Paulo, sentado entre Fernando Haddad e a vice Nádia Campeão, dando ordens, mostrando quem é o chefe. Pobre Haddad.

Não satisfeito em impor seus candidatos à Presidência e à Prefeitura de São Paulo, não satisfeito com as duas vitórias espetaculares e não satisfeito com a percepção geral sobre quem manda e quem obedece, Lula quer mais: quer oficializar publicamente a tutela dos pupilos.

Chegou de férias num dia, assumiu a prefeitura no dia seguinte e já determinou que a prioridade é conter as enchentes e as chacinas na capital. Os efeitos no marketing e na popularidade são muito danosos...

Reduzido a pau-mandado, Haddad não vai poder reclamar quando os secretários despacharem diretamente com Lula, assim como os ministros de Dilma fazem fila na porta dele quando realmente importa.

Lula tenta se apossar, na prática, do mandato da sucessora, que sofre críticas (pibinho, inflação, temor de racionamento e maquiagem de números oficiais). Ela reage. Convocou pesos-pesados da indústria, reduziu tarifas de luz, baixou juros de moradia para a classe média alta e negociou o adiamento do reajuste de ônibus em São Paulo e no Rio.

No final, vai a Lula, provavelmente no dia 25, próxima sexta-feira, prestar contas e aprender melhor que, entre o que é necessário e a popularidade, cuide-se da popularidade...

Com Haddad e Dilma instruídos e sob controle, Lula estará livre para retomar as "Caravanas da Cidadania", tão importantes para sua vitória em 2002. Vai de região a região reaquecer a adoração popular por ele.

Além de buscar uma cara promissora e com credibilidade para depois tutelar no governo de São Paulo -uma nova Dilma, um novo Haddad-, tanta mobilização sugere que é cedo para descartar Lula em 2014.

Ele fala em destravar a economia, o governo e a Dilma, mas o problema dela é o oposto: travar o Lula.


fonte:Blog do Murilo

quinta-feira, janeiro 10, 2013

'Os erros do governo viraram custo' -Ildo Sauer

O Globo 09/01/13 Opinião do especialista
SÃO PAULO - Professor titular do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP e ex-diretor de Gás e Energia da Petrobras, Ildo Sauer diz que o risco de racionamento de energia em 2013 não está descartado. Sauer considera que o governo errou ao dar prioridade às termelétricas nos leilões de energia dos últimos anos, o que segurou o avanço da geração hidrelétrica e eólica, mais baratas. — Os erros do governo viraram custos, essa conta de R$ 1 bilhão a mais por mês pela utilização das termelétricas é culpa de um sistema que foi instituído pela ministra e atual presidente, que funciona mal — diz. Sauer afirma que os custos de operação das termelétricas chega a ser cinco vezes superior ao das hidrelétricas. Por isso , o governo deveria ter dado prioridade à expansão da capacidade de geração de energia em usinas hidrelétricas e eólicas. Segundo ele, a situação atual de escassez de água nos reservatórios reflete as falhas de planejamento do sistema elétrico brasileiro. Um exemplo dessa deficiência são os 600 MW de usinas eólicas que estão prontos, mas não entraram em operação por causa da falta de um sistema de transmissão. — A presidente historicamente tem sido mais bem-sucedida em encontrar culpados do que em assumir os erros. Ela disse que tem falha humana, mas a mais importante falha humana provavelmente foi dela própria, na construção de um modelo ineficiente — afirma Sauer . O uso das termelétricas eleva o custo da energia no mercado livre e traz o risco de falta de gás natural para a indústria. Sauer lembra que o resultado dessa alta nos preços é a redução da atividade industrial, crucial para o crescimento. — Um país que sonha com um "pibão " em 2013 não pode deixar como herança um sistema caótico de energia. (Paulo Justus)

quarta-feira, janeiro 02, 2013

Destaque

Em entrevista Dilma chama de "ridículo" o risco de racionamento, quase ao mesmo tempo em que cerca de 1 milhão de moradores da região metropolitana e da Baixada Fluminense eram vítimas de apagões.

terça-feira, janeiro 01, 2013

O lado bom da desindustrialização Maílson da Nóbrega

 Veja - 20/08/2012

A Revolução Industrial transformou a Inglaterra na maior potência do século XIX. Por isso, a industrialização passou a ser vista como o meio para alcançar padrões superiores de desenvolvimento. Até hoje, "país industrializado" é sinônimo de país rico. Assim no século XX, a industrialização foi prioridade mundo afora. Ainda hoje, a ideia de que a indústria é o centro dinâmico da economia povoa muitas mentes, para as quais o setor é a base do crescimento. A ele caberia disseminar o progresso técnico, irradiando efeitos para a frente e para trás na cadeia produtiva.

Fala-se em desindustrialização nociva ao Brasil, mas vários estudos descartam a ideia. Regis Bonelli e Samuel Pessôa, em artigo publicado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (2010), constatam o declínio da participação da indústria no PIB — de 36% em 1985 para 16% em 2009 —, mas mostram que se trata de fenômeno mundial. A nossa participação é que era excessiva, por causa do fechamento da economia. Recentemente, a indústria nacional tem sofrido perdas alarmantes de competitividade, mas a explicação básica é conhecida: salários acima da produtividade e piora do "custo Brasil" (sistema tributário caótico. legislação trabalhista anacrônica, infraestrutura deteriorada e burocracia excessiva).

A perda de participação da indústria em todo o mundo aumenta, naturalmente, a dos serviços, que é de quase 80% do PIB nos países desenvolvidos. No Brasil, os serviços saltaram de 53% do PIB em 1990 para 67% do PIB em 2011. Muitos se preocupam, pois acham que os serviços não geram ganhos relevantes de produtividade, que é a fonte essencial da elevação do potencial de crescimento. Esse raciocínio vale para serviços prestados aos consumidores, como os de cabeleireiro, motorista, empregado doméstico e semelhantes, mas não é sempre assim.

De fato, embora a indústria continue importante, os serviços assumirão a liderança que a ela pertenceu, na geração de empregos e produtividade, da Revolução Industrial até meados do século XX. Já é assim na economia americana, conforme provou Enrico Moretti, da Universidade da Califórnia em Berkeley, no livro The New Geography of Jobs (2012). Para ele, a geografia do emprego tem mudado profunda e irreversivelmente nos Estados Unidos. Os eixos de inovação em serviços são as novas engrenagens da prosperidade. Eles envolvem os setores de alta tecnologia: design e software de produtos como o iPhone e o iPad, tecnologia de informação, ciências médicas, robótica, equipamentos médicos, novos materiais e nanotecnologia. A produtividade cresce nesses setores graças ao avanço tecnológico.

Pesquisas de Moretti mostram que nos Estados Unidos um emprego criado nos setores de alta tecnologia gera outros cinco. Na indústria, essa relação é de apenas um para 1,6. Os centros de alta tecnologia demandam relativamente mais profissionais de nível universitário, de alta qualificação e maiores salários. A renda mais elevada aumenta a procura por serviços de médicos, engenheiros, arquitetos, personal trainers e outros, como os ligados ao lazer e ao turismo. Esses profissionais ganham mais do que seus pares que trabalham em regiões desprovidas desses centros.

Áreas de alta tecnologia — casos de Vale do Silício, Austin, Boston, San Diego, Nova York, Washington e Dallas — são aglomerações (clusters) dotadas de ecossistemas com oferta adequada de crédito, capitais, recursos humanos qualificados e serviços de elevada eficiência em propaganda, assessoria jurídica, consultoria de gestão, engenharia e expedição de produtos. A educação é a base da inovação nesses centros. Para Moretti, os mercados emergentes que investem bem em educação e inovam tenderão a trilhar o mesmo caminho. A China já produz mais patentes do que a Alemanha e a França. É o efeito, entre outros, de sua excelente política educacional. 

O Brasil precisa de reformas para aumentar a competitividade da indústria e preparar-se para competir nos promissores segmentos dos serviços. Isso exige uma revolução na educação, nas instituições e, assim, no ambiente de negócios. Preferimos, todavia, reeditar políticas industriais de uma época que passou.

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