Entrevista:O Estado inteligente

domingo, novembro 18, 2012

Zona de euro em recessão Alberto Tamer

O ESTADO DE S PAULO

A Eurozona está tecnicamente em recessão, dois trimestres sucessivos de crescimento negativo, informa a Eurostat, órgão da estatística da comunidade. Menos 0,2% no segundo e menos 0,1% nos últimos três meses. É informação oficial, do Escritório de Estatísticas da Comissão Europeia, mas não muda nada porque a Eurozona já estava vivendo em ambiente de recessão há alguns meses, revelado pela queda da demanda, da produção industrial e, principalmente, pelo alto desemprego. Todos os indicadores econômicos dos últimos dois anos, agravados pelo aumento do desemprego, confirmam isso. Nos últimos 12 meses, a queda do PIB chega a 0,4%, confirma a Eurostat. É verdade que o recuo no terceiro trimestre foi menor, 0,1% em comparação com os 0,2% do segundo trimestre e que, como um todo, os 27 países da União Europeia ainda cresceram 0,1%. Mas esses índices têm pouco significado. O fato é que a economia da Eurozona está parando, perdeu 2,5% nos últimos três anos devido essencialmente à política de cortes de gastos e investimentos, aumento de impostos, de austeridade fiscal para enfrentar a crise da dívida. Os efeitos estão aí, menos 0,1%, mais 0,1%. É a recessão que já estava ocorrendo de fato. Mas por quê? Seria apenas a austeridade fiscal?

Fomos nós. O economista Paul De Grawe, da respeitadíssima London School of Economics, só vê uma causa: "Estamos entrando numa nova recessão que é inteiramente causada por nós mesmos. É resultado de um excesso de medidas de austeridade em países do sul (da Europa) e a falta de disposição do norte para fazer qualquer outra coisa", afirmou. E é só o começo. Para outro economista europeu, Martin Van Vlief, do ING Bank, "os principais indicadores sugerem que a recessão na Eurozona vai se ampliar e aprofundar no quarto trimestre", entrando 2013 a dentro, sem perspectiva de reversão a médio prazo. Em relatório, a Nomura alerta aos seus clientes para "um clima de depressão. Considerando a fraca produção industrial e o sentimento das empresas, reforçam a expectativa de recessão também para 2013." Quando a União Europeia foi pedir ajuda ao FMI, aos Estados Unidos, até aos chineses, a resposta foi sempre a mesma. O problema não é recursos, mas a forma pela qual estão enfrentando a questão da dívida soberana há mais de três anos.

Europa diz não! Mas a Comissão Europeia disse que não muda. Ela está no caminho certo! Em estudo considerado "altamente técnico" pelos que tiveram acesso a ele, a comissão respondeu ao FMI que o problema não foi a dose de austeridade fiscal exigida para todos os países membros (não só Espanha, Grécia e Portugal, todos), mas o pânico provocado pela crise da dívida! É esse o desafio a ser atacado. Portanto, diz o estudo da comunidade: "é preciso mais austeridade do que menos para convencer o mercado e manter o capital fluindo..." Só que depois de três anos, os recursos não fluíram, a situação da dívida só se atenuou ligeiramente.

Um documento estranho. Ou seja, a Comissão Europeia, que conta com o apoio da maioria dos ministros das Finanças da comunidade, não pretende sugerir mudança à politica atual.

Quem afirma é Oli Rehn, o chefe da Comissão responsável para fixar os limites do déficit dos países membros e impor punições severas aos que não os respeitam. O foco é a "consolidação orçamentaria," afirma ele. "Ela pode afetar o crescimento em termos de curto prazo, mas revive a confiança no mercado financeiro e longo prazo." Para a Comissão Europeia "é preciso mais e não menos austeridade. Estamos tendo "conversas construtivas" com os técnicos do Fundo Monetário, diz ele, mas para a comunidade europeia "é importante não apenas olhar os efeitos quantitativos, mas o efeito confiança." O "quantitativo" já chegou, menos 0,1% do PIB; e o "qualitativo, "divida crescente," ainda não.

E o eurobonds? Se o problema central era a dívida, por que não se criou quando foi proposto os eurobonds a serem emitidos pelos governos? Estes, sim, restabeleceriam alguma confiança dos investidores. A maior parte dos países concordou, mas houve e continua o veto radical da Alemanha, que lidera essa cruzada de austeridade sem atentar para os efeitos recessivos.

A União Europeia diz que não muda e espera recessão também para 2013. Com recessão ou não. E para confirmar essa posição, como assinalamos na ultima coluna, a comissão anunciou novos cortes em seu orçamento que devem se somar aos que serão feitos isoladamente pelo países membros.


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