Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, outubro 25, 2012

Consistência para crescer - ALBERTO TAMER


O Estado de S.Paulo - 25/10


A economia brasileira já esboça sinais de recuperação do crescimento, mas mesmo assim, prevalece um clima de dúvida e incerteza sobre a intensidade e velocidade desse novo ciclo ascendente. Por um lado, surpreendentemente, a renda, o emprego e o consumo se mantêm positivos e estáveis. De outro, os empresários de forma geral, continuam enfrentando queda de lucratividade. Não sabemos ainda se em 2013 haverá um robusto retorno do crescimento para repor a lucratividade comprimida nestes dois anos (2011 e 2012); ou se, o que parece ser mais provável, teremos uma economia mais centrada na redução de margens e busca qualitativa da remuneração do capital e ampliação da produtividade do trabalho. O PIB deve crescer 1,5% este ano e de 3,5% a 4,0% em 2013, mas a análise deve ir além desses dados porcentuais.

A análise é de Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento) e professor da FGV Management com especialização em Harvard. Para ele, os empresários capazes e atentos terão de repensar e reinventar sua empresa ou o foco de negócio. Os mais atentos já estão tomando medidas práticas e mudando o conceito de negócio ou aperfeiçoando sua dinâmica de forma a estar em linha com os desafios dos "novos tempos".

Falta o longo prazo. Qual é a questão central que o governo precisa resolver? Para o economista-chefe da Acrefi não há dúvida: é a definição do ritmo de crescimento e oportunidades em 2013. "O espírito animal (ou "animal spirit" da literatura econômica internacional) dos empresários precisa de indicações melhores e mais consistentes, de médio e longo prazos, para sentir que é hora de sair na frente; apostar na economia brasileira com ênfase de quem vislumbra uma oportunidade imperdível, e deixar de ser apenas um empresário reativo que mantém conservadoramente um crescimento vegetativo e de visão mais estreita de curto prazo," afirma Nicola Tingas em conversa com a coluna.

A chave do ritmo de crescimento dos próximos anos reside nessa importante indicação que é liderada pelo governo e ampliada e aperfeiçoada pelos agentes econômicos, sejam eles públicos, privados locais, e estrangeiros.

O que dificulta? "A incerteza institucional em termos regulatórios, os altos custos de operação empresarial, a corrupção elevada, a burocracia cega e incomunicável, a oscilação da qualidade da gestão pública de projetos e de alocação de prioridades e sua consistência implícita; tudo isso, no todo ou em partes significativas, precisa ser ainda melhor do que alcançamos até aqui", afirma o economista. Afinal, em um mundo globalizado não há fronteira e, sim, "margem de eficiência" e de retorno. Será o adequado atendimento dessa demanda por consistência de ambiente de negócios, requerida sempre pela iniciativa empresarial, que influenciará a decisão substantiva de investimentos.

Falta articulação. Na avaliação de Tingas, o governo tem agido em grande parte a desafios imediatos, mas falta ainda uma política articulada para balizar a confiança do setor privado. "Esse é um fato conhecido e muito comentado até mesmo em sua coluna, mas não se veem ainda sinais mais claros de que essa articulação está sendo feita na extensão e velocidade necessária para uma retomada vigorosa do crescimento." Ele recorda que o governo precisa superar gargalos históricos já bem conhecidos e, acima de tudo, ter um programa de médio e longo prazos que inspire confiança no setor privado.

Um exemplo. Ele cita o exemplo da indústria automobilística. Nesse setor, o governo disse o que pretende, consultou as empresas para saber o que precisariam para aumentar a produção e apresentou um programa de curto, médio e longo prazos, conseguindo que as montadoras se comprometessem a investir R$ 22 bilhões até 2015. E as empresas do setor anunciaram que podem ser instaladas nove novas fábricas no Brasil nos próximos anos. Para Tingas, é preciso dar sinais como esse para toda a economia. "É preciso não só dar incentivos fiscais, mas também apoiar o crescimento e desenvolvimento de polos dinâmicos de captação de recursos de longo prazo, e de distribuição através de fluxos de investimento para um amplo espectro de projetos, inovação e ampliação da produtividade. Portanto, tem de ser dado destaque para a efetiva consolidação de um mercado de capitais amplo e capaz de fomentar a economia no longo prazo."

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