Entrevista:O Estado inteligente

domingo, outubro 07, 2012

A competição na política e na economia -SUELY CALDAS


Estadão 7/10/2012
Na política, a competição eleitoral é vital para a democracia. Tanto melhor se ela é depurada, com um número menor de partidos e programas partidários levados a sério e facilmente identificados pelo eleitor - indícios de maturidade política. Não é o caso do Brasil, onde hoje milhares de homens e mulheres de uma infinidade de partidos - poucos sérios e a maioria oportunista, que servem a práticas desonestas - se enfrentam em 5,5 mil municípios brasileiros, disputando uma vaga de vereador ou prefeito. É uma competição farta em quantidade e muito pobre em qualidade. Mas é uma competição.
Na economia, a competição também é intrínseca à democracia, mas difere da política: é mais seletiva e seriedade e qualidade são precondições para o sucesso do negócio. Começa que o balizamento do poder competitivo de um País se dá na disputa com outros países. É claro que, em municípios menores, um pequeno industrial tem seu espaço e há concorrência entre um e outro pequeno comércio. Mas quem produz, fabrica e quer fazer de seu produto um vencedor, comercializado aqui e lá fora, precisa dar um salto maior e balizar-se pela produção de competidores internacionais. É uma disputa saudável e funciona como motor que estimula a indústria de um país a aperfeiçoar seu produto. Qualidade, preço e tudo o que daí deriva são condições para o sucesso. E nessa disputa o Brasil tem perdido.
Num ranking feito pela revista inglesa The Economist para medir o poder de competição entre 82 países, o Brasil aparece na 37.ª posição, no período válido entre 2012 e 2016. Melhorou timidamente, subindo apenas dois degraus em relação ao período anterior (2007/2011). Nesse ritmo, vamos chegar à 30.ª posição em 20 anos, em 2032. Comparado com um campeonato de futebol, equivale a avaliar que talvez em um século o Brasil passe para a segunda divisão.
Elaborada pela Economist Intelligence Unit, a pesquisa identifica no custo da mão de obra e na carga tributária os principais gargalos que atrapalham a competitividade no Brasil. Na verdade esses gargalos são consequências de políticas públicas ruins, mal concebidas e aplicadas ao longo de muitos anos.
Na área tributária, por exemplo, desde os governos militares os rombos orçamentários do Estado têm sido resolvidos com a criação de impostos ou elevação dos que já existem. Isso fez dos governos agentes de concentração da renda - hoje se apropriam de 35% de toda a riqueza produzida pela economia. E gastam mal. Os gastos cotidianos com salários, manutenção da máquina pública, viagens e variados, etc., superam em muito as despesas com educação, saúde e segurança, áreas vitais para o progresso social da população. Os investimentos públicos em infraestrutura, que já somaram 6% do PIB no passado, hoje são limitados a minúsculos 2%. Na pesquisa o item tributos coloca o Brasil entre os últimos, no 76.º lugar. E ano após ano os impostos só aumentam e a reforma tributária nunca é levada a sério.
Outro gargalo: a mão de obra no País é cara não porque os salários são altos. Na verdade, um conjunto de fatores onera o custo do trabalho - impostos, burocracia, legislação trabalhista obsoleta e fora da realidade, sindicatos desinformados e dependentes de dinheiro público e baixa produtividade do trabalhador são alguns. Nos últimos anos os reajustes salariais melhoraram, o governo Dilma avançou um pouco ao desonerar a folha de salários de empresas com perfil empregador, mas a produtividade do trabalho continua muito baixa, comparada com países concorrentes. É neste item que economistas enxergam ser possível reduzir o custo da mão de obra. Em Cingapura e Hong Kong, campeões em produtividade, segundo a pesquisa, um único trabalhador faz a mesma tarefa de cinco no Brasil. E por quê? Formação educacional e máquinas modernas e ágeis fazem essa diferença. Enquanto lá é normal um trabalhador ter cursado universidade, aqui, em média, ele cursou apenas sete anos de escola.
É isso que explica nosso sofrível poder de competição num mundo cada vez mais exigente e sequioso de produtos baratos e de boa qualidade.

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