Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, agosto 15, 2012
É a paradeira - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 15/08
A esta altura, certo apego a conceitos técnicos é irrelevante. A área do euro está em recessão. Ou seja, é uma economia que, em vez de crescer, vai encolhendo.
A definição convencionada - e pouco convincente - é a de que a recessão acontece quando uma economia sofre um retrocesso (crescimento negativo) durante dois trimestres consecutivos. Dá para dizer que este já é o caso da área do euro, cujo PIB conjunto caiu 0,3% no quarto trimestre de 2011; teve avanço zero no primeiro deste ano; e diminuição de 0,2% no segundo.
Uma economia pode mostrar números ainda mais negativos do que esses do bloco do euro. Mas, se a perspectiva é de solução de problemas e de recuperação iminente, não há esse grau de recessão em que a área do euro segue prostrada, sem nenhuma possibilidade de saída a médio prazo.
Desta vez, 9 dos 17 países que compartilham a moeda única perderam renda nacional. A Alemanha conseguiu crescer 0,3%, no entanto, apesar de sua densidade econômica, não contrabalançou o mau desempenho dos demais.
O presidente da França, François Hollande, fez uma cruzada pelo crescimento econômico por ocasião da campanha eleitoral. E tem tomado algumas iniciativas com o objetivo de substituir o ajuste baseado na contração das despesas públicas, mas sem grandes progressos. A França vem de três trimestres consecutivos de crescimento rigorosamente zero.
Há sobre a mesa algumas propostas para enfrentar a paradeira com menos ortodoxia. Mas elas esbarram em três enormes obstáculos. O primeiro deles é a falta de recursos, uma vez que boa parte dos sócios do euro se mantém fortemente endividada. A ideia de dar mais prazo para o ajuste fiscal, para que haja menos sacrifício e menos desemprego, implicaria a aceitação de um déficit fiscal mais alto e, portanto, maior disposição dos investidores de seguir proporcionando cobertura financeira.
A segunda barreira é a falta de solução para o problema do euro. Aumenta a probabilidade de fragmentação da união. Se alguns países abandonarem a moeda comum, provocarão um pandemônio financeiro, dado que devem em euros. É uma ameaça que mantém os investidores arredios.
A terceira grande obstrução é a Alemanha, que não arreda pé de seu receituário de austeridade, sacrifícios e reformas de difícil aplicação. Pode-se argumentar que prosseguir com esse tratamento duro exigirá um mínimo de coesão política, algo difícil de obter em países acostumados com o bem-bom do Estado do bem-estar social. Caso o fator político seja essencial e, como tal, tenha de prevalecer, leve-se também em consideração que não dá para eliminar a Alemanha da equação política.
A prostração do euro é agora a principal razão pela qual a economia dos Estados Unidos também continua emperrada, como afirma o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Tim Geithner. E, se a área do euro e os Estados Unidos estão parados, o resto do mundo também está. É uma crise e tanto, que provoca muito mais do que simples marolinhas na economia brasileira.
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