Entrevista:O Estado inteligente
O "fim da euforia" com o Brasil - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 10/06
Está na moda dizer que passou a "euforia com o Brasil", euforia que se tornara forte entre 2008 e 2010. A bem da verdade, não há euforia nem bom humor em quase lugar algum do planeta, nem mesmo em relação a China ou Índia. Também se tornou moda dizer que é quando a maré baixa que se nota quem estava nadando nu.
Mas quão pelados estamos? O que a euforia do fim da década passada ou a depressão de humor neste primeiro biênio dilmiano dizem sobre nossos problemas reais?
Parte do azedume com o Brasil é "moda ao contrário". Deriva do fato de que o país deixou de render dinheiro fácil aos rapazes do mercado financeiro. Com juro a mais de 10% e câmbio se valorizando sem parar, a vida era risonha e franca.
Com juro caindo a 8%, desvalorização do real, variação excessiva do câmbio e imposto pesado para tirar dinheiro daqui, perdemos a graça. Como os rapazes do mercado fazem o cotidiano da mídia mundial, ficamos mal na foto.
Crescer menos obviamente não ajuda. Passamos de 4,5% ao ano na segunda metade da década passada para os prováveis 2,5% do primeiro biênio de Dilma Rousseff. Intervir demais em mercados (finanças) e empresas (Petrobras, "campeãs nacionais") também não pegou bem. O governo ser incapaz de investir é outro problema.
Era ilusão imaginarmos que podíamos correr a 6%. Mas será tão difícil voltar a algo perto dos 4%?
Economistas-padrão, que quase todos torcem o nariz para as políticas lulo-dilmianas, dizem que se esgotou o "modelo petista". Nem "modelo" houve, mas a crítica observa que ele se valeu: 1) em parte dos benefícios das reformas feitas nos anos FHC, que renderam frutos um pouco mais tarde; 2) do aumento de renda derivado da alta de preço das nossas exportações principais ("efeito China"); 3) do rapidíssimo aumento do crédito, que, enfim, criou uma ilusão sobre as possibilidades do aumento do consumo, desfeitas agora com a alta da inadimplência, por exemplo.
É tudo em parte verdade.
Os críticos esquecem outros aspectos do "modelo", como o aumento do mercado doméstico, em parte impulsionado por transferências sociais ("Bolsas") e aumentos do salário mínimo, e a estabilização das contas externas (com a acumulação de reservas em moeda forte). Enfim, esquecem que o país mudou de patamar. É menos faminto, é social e politicamente mais estável e não quebra a cada tumulto mundial.
Faltam "reformas", "mudanças estruturais", dizem. É verdade, seja lá qual for o conteúdo que se dê ao jargão. Mas trata-se de coisa difícil de fazer, política e tecnicamente: reduzir impostos e dívida pública (não dá para fazer os dois ao mesmo tempo), melhorar a educação (coisa para uma década, com sorte, engenho e arte), trocar gasto de custeio por investimento no governo etc., para ficar no mais óbvio.
Dados a nossa tendência à ignorância (não gostamos de estudar ou de inovação) e gosto por jeitinhos, "transições transadas" e arranjos de meias medidas, é de fato difícil pensar em arrancadas. Mas destravar uns investimentos públicos, dar um tempo no aumento de salário e renda via mão pesada do Estado e simplificar burocracias já podem nos fazer crescer um pouco mais de 3,5% ou 4%. Não é lá tão difícil.
Arquivo do blog
-
▼
2012
(2586)
-
▼
junho
(290)
- O mundo futuro - MERVAL PEREIRA
- Dentro da noite - MIRIAM LEITÃO
- União bancária no euro - CELSO MING
- Futebol boa roupa - RUY CASTRO
- O eleitor que se defenda - EDITORIAL FOLHA DE SP
- Não existe legítima defesa? - EDITORIAL O ESTADÃO
- Água e óleo - MIRIAM LEITÃO
- O Mercosul sob influência chavista - EDITORIAL O G...
- O exagero do crédito pessoal - LUIZ CARLOS MENDONÇ...
- Aventuras fiscais - EDITORIAL FOLHA DE SP
- Mercosul e autoritarismo - EDITORIAL O ESTADÃO
- Hora da idade mínima na aposentadoria - EDITORIAL ...
- Teto furado - EDITORIAL ZERO HORA
- Nome de rua - RUY CASTRO
- Sarney, Lula e Maluf, ode ao amor - GUILHERME ABDALLA
- PIB minguante Celso Ming
- Cartão vermelho Nelson Motta
- Decisões do STF significam retrocessos, por Merval...
- O 'custo Lula' Carlos Alberto Sardenberg
- A Petrobrás sem Lula - ROLF KUNTZ
- Mais um refresco - CELSO MING
- Ciclo de baixa - MÍRIAM LEITÃO
- O governo vai às compras - EDITORIAL O ESTADÃO
- O mito e os fatos - MERVAL PEREIRA
- Inadimplência das empresas tem maior alta de abril...
- Hora da verdade na Petrobrás - EDITORIAL O ESTADÃO
- A leviana diplomacia do espetáculo - ELIO GASPARI
- Luz amarela - MÍRIAM LEITÃO
- O contraponto - MERVAL PEREIRA
- Sujeita a vírus - RUY CASTRO
- O crédito tem limite - VINICIUS TORRES FREIRE
- Visão Global THOMAS L., FRIEDMAN
- Realismo na Petrobrás Celso Ming
- A Petrobrás sem Lula Rolf Kuntz
- Um mundo requentado Roberto DaMatta
- Inadimplência subiu de elevador, mas vai descer de...
- Alemanha já pensa em referendo sobre resgate do eu...
- A exaustão do 'Estado dependente' de governo Franc...
- Reinaldo Azevedo -
- INTERVENÇÃO HUMANITÁRIA: ORDEM/DESORDEM MUNDIAL! H...
- Paraguai soberano - EDITORIAL FOLHA DE SP
- Guerra cibernética e robôs de defesa - RUBENS BARBOSA
- O BIS adverte sobre o risco do crédito - EDITORIAL...
- Crise paraguaia requer sensatez - EDITORIAL O GLOBO -
- Inflação e erros do "mercado" - VINICIUS TORRES FR...
- Democracia representativa - MERVAL PEREIRA
- Qual é a política? Celso Ming
- Uma nova política Rodrigo Constantino
- Profetas do apocalipse Xico Graziano
- O governo Dilma parece velho Marco Antonio Villa
- Como alavancar os investimentos Antonio Corrêa de...
- No ponto certo - MÍRIAM LEITÃO
- Os aloprados - PAULO BROSSARD
- O fiasco do Lula 90 - RUTH DE AQUINO
- O país já cansou de Lulas e Malufs - EDITORIAL REV...
- MACONHEIRO DE CARTEIRINHA Carlos Alberto Sardenberg
- Querem ressuscitar o baraço e o cutelo Manoel Albe...
- O afastamento de Lugo Editorial Estadão
- Mensalão e respeito ao Judiciário Carlos Alberto D...
- A Rio 20 e a crise global Rodrigo Lara
- Está o planeta aquecendo? - FERREIRA GULLAR
- Hoje, parece coisa pouca - EDITORIAL O ESTADÃO
- O intangível - MIRIAM LEITÃO
- Clima não justifica "crescimento zero" EDITORIAL O...
- Diferenças - MERVAL PEREIRA
- As infrações leves - EDITORIAL O ESTADÃO
- O inexorável pragmatismo da Silva - GAUDÊNCIO TORQ...
- No hotel Ritz - DANUZA LEÃO
- Um prefeito civilizado, por favor - VINICIUS TORRE...
- A Alemanha vai destruir a Europa - JOSÉ ROBERTO ME...
- Mítica do articulador DORA KRAMER
- Atenção para mais crise ALBERTO TAMER
- É o fim da simbiose? - economia CELSO MING
- O sonho da blindagem própria João Ubaldo Ribeiro
- Os tropeços na América Latina Suely Caldas
- Dentro da lei - MERVAL PEREIRA
- As contradições - MIRIAM LEITÃO
- Retrocesso no Mercosul isola Brasil - EDITORIAL O ...
- Rio+20, sucesso ou fracasso? - KÁTIA ABREU
- Prisões, privatização e padrinhos - PAUL KRUGMAN
- Oba-oba sustentável - GUILHERME FIUZA
- Túmulo do samba - RUY CASTRO
- Radiografia da ineficiência - EDITORIAL O ESTADÃO
- Vai ou não vai? - CELSO MING
- A QUESTÃO DAS MALVINAS!
- Uma outra visão fundamentada - RODOLFO LANDIM
- O ponto europeu - MIRIAM LEITÃO
- O enigma do emprego - CELSO MING
- O ocaso de Lula - ROBERTO FREIRE
- Estádios novos, miséria antiga - MILTON HATOUM
- Novo contrato social - MERVAL PEREIRA
- Sem entalar - RUY CASTRO
- Assalto ao trem pagador - EDITORIAL O ESTADÃO
- Como quem rouba - DORA KRAMER
- O vaivém das sacolas - EDITORIAL FOLHA DE SP
- Quem socorre Cristina Kirchner - EDITORIAL O ESTADÃO
- Bancos, crise e lebres mortas - VINICIUS TORRES FR...
- Diálogo como espécie em extinção na política Ferna...
- Andressa na cova dos leões :Nelson Motta
- O consenso do quase nada - EDITORIAL O ESTADÃO