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terça-feira, março 20, 2012

Inesperado cenário para o governo Dilma - EDITORIAL O GLOBO

O Globo - 20/03/12


Impossível imaginar que a presidente Dilma Rousseff tenha se
surpreendido com a baixa qualidade ética da equipe montada sob a
batuta do fisiologismo do seu patrono Lula. Ministra desde 1 de
janeiro de 2003, nenhum dos escândalos ocorridos em seus primeiros 12
meses de poder deve ter causado surpresa a ela.

Mas tem sido visível o cuidado da presidente em evitar a retomada do
gabinete de ministros defenestrados por "malfeitos" pelo mesmo esquema
fisiológico que fazia e desfazia na pasta. Há exemplos indiscutíveis.
A troca de Orlando Silva por Aldo Rebello no Esporte. Os dois são do
PCdoB, mas, até agora, não há indícios de que Rebello aceitará o
ataque aos cofres públicos perpetrado por "camaradas" do partido sob o
disfarce de ongueiros, como ocorria. Outro caso é o do Ministério dos
Transportes. Pelas últimas notícias conhecidas, o Planalto resiste a
devolver a pasta ao balcão de negociatas do PR, administrado, no tempo
do senador Alfredo Nascimento (AM) no gabinete de ministro, pelo
deputado Valdemar Costa Neto (SP).

A tentativa de confronto com Dilma feita pelo grupo "dono" do Senado
(Sarney, Renan, Jucá), no caso da recondução do diretor da ANTT, foi
bem aproveitada pela presidente para estabelecer limites. Destituiu
Romero Jucá como devia, no timing necessário, e o substituiu por
Eduardo Braga (AM), um peemedebista dissidente do esquema fisiológico
e clientelista do seu partido que domina a Mesa do Senado.

Dilma tem obtido apoio e ampliado a popularidade no eleitorado de
oposição, na classe média do Sul e Sudeste, sensível ao avanço da
corrupção nos últimos nove anos, e não dependente da grande rede de
assistencialismo montada pelo lulopetismo, eficiente cabo eleitoral
junto à massa pobre do Norte e Nordeste.

Dilma, diante das dificuldades da conjuntura econômica, precisa de uma
equipe mais profissional e de uma base parlamentar capaz de apoiá-la
em reformas politicamente difíceis, mas imprescindíveis. Entre outras,
a conclusão das mudanças na previdência dos servidores e medidas para
conter, a curto prazo, a gastança em custeio.

Se o plano é de fato acabar ou pelo menos conter o toma lá dá cá, tem
razão Eduardo Braga quando fala em estender a base em direção a
parlamentares marginalizados num Congresso dominado pela mediocridade
do fisiologismo. Em entrevista ao GLOBO, Braga citou Jarbas
Vasconcellos (PE). Poderia incluir Pedro Simon (RS), também dissidente
no atual PMDB.

O novo líder do governo no Senado não disse, mas será necessário
negociar com a oposição. Foi com ela que Lula conseguiu iniciar a
reforma da previdência do funcionalismo em 2003.

A entrevista de Braga aponta para um cenário improvável, o de uma
relativa ruptura com um dos cânones do lulopetismo: a manutenção do
poder a qualquer preço. E com o apoio do próprio Lula, segundo disse
Braga ao jornal. Aguardemos. Mas, se for isso mesmo, não haverá
surpresa, pois o ex-presidente, se foi capaz de entender o risco que
ele e o país correriam caso colocasse em prática no Planalto tudo o
que havia pregado na oposição, pode muito bem perceber que chegou a
hora de mais uma metamorfose. No melhor estilo Raul Seixas, novamente
na mídia, por coincidência.

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