Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, janeiro 18, 2012

Especulações chinesas - VINICIUS TORRES FREIRE



FOLHA DE SP - 18/01/12

China cresce menos, mas não muito menos, e mercado especula que virá mais estímulo econômico 

LÁ POR VOLTA do ano 2000, o do "bug do milênio", era comum ouvir da China que sua economia tinha também um "bug" que a impediria de crescer tão rápido por mais uma década, se tanto.

Para fazer um resumo curto e meio grosso, muito "analista" (economista de banco, em geral) e economista-padrão dizia que o dirigismo e a alocação ineficiente de capital (investimento ruim) dariam cabo do milagre chinês.

Lá por volta de 2006, o alarmismo se tornou mais sofisticado. A China viveria uma crise de superinvestimento, em especial no setor imobiliário, no qual se desenvolveriam bolhas (investimento excessivo, que segue a alta de preços passada, mas que não chegará a dar retorno).

A bolha seria resultado da falta de opções de investimento da poupança familiar chinesa (os juros são tabelados e negativos) e de um sistema bancário desembestado, incentivado por autoridades regionais ineptas, que emprestaria mal e demais. Quando a bolha estourasse, a banca chinesa iria à breca e o país viveria uma crise à japonesa.

Mas a China continuou a crescer. O Produto Interno Bruto chegou a correr a 14% ao ano em 2007. Desde então, cresce a 9,5%. Vale sempre lembrar que a China é o maior parceiro comercial do Brasil. Sem a carreira chinesa, não teríamos crescido na toada em que temos andado desde 2006.

Desde meados de 2010, o governo chinês tem apertado as torneiras do crédito a fim de, entre outras coisas, evitar superinvestimento no setor imobiliário (e inflação em geral).

Os preços de imóveis começaram a cair mais ou menos em meados de 2011. Seria o primeiro anúncio de fim da bolha e de um "hard landing" (pouso difícil, queda abrupta do crescimento chinês).

Difícil saber o que vai ser da China. É possível ler e ouvir dúzias de relatórios e relatos inteligentes e até ponderados sobre a economia chinesa, mas que, no entanto, por vezes estimam taxas de crescimento muito diferentes para o país.

Isto posto, ontem os donos do dinheiro grosso do mundo fizeram alguma festa para o resultado do crescimento chinês. Não foi tão ruim quanto a "média das previsões" chutava, mas foi fraco o suficiente para os povos dos mercados considerarem que virá mais estímulo econômico do governo chinês.

Subiu o preço de ações, de minérios, de metais e do petróleo. A gente podia ler na mídia financeira mundial muito comentário do gênero "o governo chinês consegue se antecipar às tendências e controlar altas e baixas do crescimento". Pois é, o governo dirigista chinês.

É possível acreditar nas manhas de curto prazo do mercado financeiro? Ou melhor, deduzir daí alguma opinião séria sobre alguma economia ou investimento? Claro que não.

É mais provável que a China tenha um primeiro trimestre fraco, mesmo com o governo soltando as amarras da economia de novo: de menos exportações, de investimento andando em ritmo menor.

Mesmo o "proativo" governo dirigista chinês talvez não consiga esquentar a economia de pronto. Menos ainda a ponto de chutar para cima os preços de commodities. Que, no entanto, estão voltando a níveis especulativamente absurdos, como o do petróleo, que não sai da casa dos US$ 100 mesmo com o mundo crescendo menos neste ano.

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