Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, setembro 26, 2011

Tudo para salvar o Zé REVISTA VEJA


Tudo para salvar o Zé - REVISTA VEJA



O projeto de reforma política do PT vai agraciar os partidos aliados com um caminhão de verbas públicas. Mas, por trás da ideia ruim, há uma intenção pior: inocentar Dirceu e sua quadrilha no julgamento do mensalão
Kalleo Coura


Quando os caciques do PT e do PMDB se unem para fechar um acordo e ficam felizes a ponto de nao conseguirem conter o sorri¬so de satisfação, convém ao eleitor ficar alerta. Se a negociação de que se trata envolve bilhões de reais em dinheiro público, a atenção deve ser redobrada. E, se por trás de mdo isso existir uma ideia saída da cabeça de José "Chefe da Quadrilha do Mensalão" Dirceu, é me¬lhor ficar mais ressabiado. Na semana passada, em Brasília, essas três situa¬ções se alinharam em torno de um dos projetos mais sensíveis em tramitação no Congresso: o da reforma política. Desde a década de 90, discute-se como aprimorar a qualidade das eleições, aproximar a população dos políticos, de modo que estes sejam fiscalizados por quem os elegeu, e frear a epidemia de corrupção. Ninguém tem dúvida de que se trata de uma reforma crucial para o Brasil. Mas a que o PT e o PMDB de¬fendem hoje só interessa a eles.
A proposta, que deve ser votada até novembro, foi arquitetada por José Dir¬ceu e levada ao Congresso pelo deputado Henrique Fontana (PT-RS). Uma de suas ideias ruins - o financiamento público das campanhas - esconde outra ainda pior. Os petistas querem que o Erário, que já gasta 1,5 bilhão de reais a cada ano eleitoral com subsídios diretos e indire¬tos, passe a pagar a conta integral do pro¬cesso, o que elevará para 4,5 bilhões de reais a facada no bolso do contribuinte. Essa é a ideia ex¬plicitamente ruim. O que ela oculta é um raciocínio enviesado que tem por objetivo ajudar a livrar Dirceu e sua quadrilha da condenação no julgamento do mensalão.
Explique-se: Dirceu prega a aprova¬ção do financiamento público com o ar¬gumento de que ele eliminaria a prática do caixa dois eleitoral. A lógica ilógica é que, se o. estado pagasse por tudo nas campanhas, os partidos não teriam de buscar doações paralelas de pessoas físi¬cas e jurídicas (claro ... ). Mas o que tem isso a ver com o mensalão? Nada. Só que, em 2005, quando os petistas foram pegos desviando dinheiro público para o próprio bolso e o de aliados, a estratégia foi dizer que o roubo não era roubo, mas produto "apenas de caixa dois". Ou seja, o dinheiro usado para comprar votos de parlamentares seria proveniente de doa¬ções eleitorais ao PT e adjacências, ¬ficção que leva a assinatura do então ministro da Justiça Márcio Thomaz Bas¬tos, um dos mais brilhantes advogados criminalistas do país. O que Dirceu pre-tende alegar agora é que, além de o par¬tido não ter pago propina a parlamenta¬res para que aprovassem os projetos do governo do qual era ministro, o caixa dois era uma imposição do sistema elei¬toral. Assim, o PT teria sido tão somente "vítima das circunstâncias". Se o golpe do financiamento público emplacar, o partido sai, ao mesmo tempo, como víti¬ma e "purificador" de um sistema vicia¬do. A tese será apresentada no julga¬mento dos réus do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal, para tentar livrar a cara de toda a quadrilha, em especial a do chefão.
A maquinação não acaba aí. No. projeto, o partido embutiu uma segunda ideia deletéria produzida pela ca¬chola dois de Dirceu. Trata-se de uma cláusula que define como será dividido o bilionário bolo de recursos a ser ban¬cado pelo estado: os partidos que têm as maiores bancadas na Câmara ficarão com a maior fatia. E quais são esses par¬tidos? PT e PMDB, claro. O primeiro ficaria com cerca de 14% da bolada e o segundo, com 11 % - o que também explica o sorriso de Lula e dos peeme¬debistas na semana passada. Aparente¬mente, esse princípio segue a mesma lógica usada na dívisão do dinheiro do Fundo Partidário: quanto maior a legen¬da, maior a parcela que ela recebe do butim. Ocorre que o dinheiro a ser dis¬tribuído pelo critério do tamanho das bancadas não será usado apenas na elei¬ção de deputados federais, mas também na de deputados estaduais, governado¬res, senadores e presidente da Repúbli¬ca. Com essa malandragem, o PT garante desde já que seu candidato a presidente em 2014 receberá mais dinheiro do que seu principal concorrente, o candi¬dato do PSDB. Não tem jeito: ao nome de José Dirceu está sempre associada uma PaTranha, uma PicareTagem.

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