Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, junho 22, 2011

Metas e inflações MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 22/06/11Este mês começa o período da baixa da inflação mensal e ontem saíram dois números animadores. O IPCA-15 de junho ficou em 0,23% e a segunda prévia do IGP-M deu deflação. Mesmo assim, o acumulado de seis meses no IPCA-15 ficou em 4,1%, número que é quase toda a meta para o ano inteiro. Isso prova que o país precisa fazer um esforço maior na luta contra a alta dos preços.

Há oito anos o Brasil está com a mesma meta de inflação, 4,5%. Ela é alta quando se compara com as metas de países que têm o mesmo regime e com as taxas consideradas aceitáveis em outras economias. Depois de 12 anos do regime de metas, o país poderia ousar um pouco mais. Mas no ano que vem - e talvez até em 2013 - o número que o país persegue como objetivo continuará sendo 4,5%. Em maio do ano passado, a então candidata Dilma Rousseff, falando em Nova York para investidores, disse que o Brasil estava em condições de "gradualmente" ir reduzindo a meta. Em 2013 o país estará no terceiro ano do governo Dilma, mas a meta pode de novo estar fixada em 2013. A decisão será tomada em breve.

Este ano o Banco Central admitiu desde o início da nova gestão que não chegaria lá. Quando se vê o acumulado em apenas seis meses entende-se a razão pela qual o BC alongou o prazo para convergir a 4,5% até o fim de 2012. Neste primeiro semestre a inflação está quase igual à meta do ano inteiro. Se o BC estiver confiante de que ao fim de 2012 estará em 4,5%, por que não reduzir a meta do ano seguinte para 4%? A prévia do IGP-M divulgado ontem deu deflação. O número do ano ficará bem abaixo do ano passado. Em janeiro, o IGP-M acumulava 11,50% em 12 meses. Deve fechar entre 6% e 7%.

Entre outros males, a inflação alta acaba corroendo o ritmo de crescimento, porque reduz a renda real dos salários, o que já está sendo constatado pelos dados de emprego e renda do IBGE. Crescimento sustentado assenta-se sobre bases fiscais sólidas e inflação baixa; isso já aprendemos. O Brasil felizmente tem um compromisso muito mais forte com a manutenção dos preços do que a Argentina, por exemplo, que tem cometido o desatino de manipular índices para varrer os fatos econômicos para debaixo do tapete. Como sabemos, isso só fortalece o problema. Hoje ninguém acredita no número de 10% de inflação oficial da Argentina. Os analistas consultados ontem para uma nota do meu blog disseram que a taxa verdadeira do país deve estar em torno de 25% ao ano.

O Brasil evidentemente não corre esse risco. O país poderia, no entanto, ir reduzindo devagar as metas futuras para não se conformar com 4,5% como objetivo, quando o que é aceitável em outros países desenvolvidos é 2%. Uma taxa de 3% já é considerada alta. Como fizemos o mais difícil, que foi acabar com a hiperinflação, e manter o mesmo compromisso por três governos diferentes, podemos ficar cada vez mais ambiciosos.

Os dados de junho, julho e agosto devem ficar baixos em todos os índices, em certos casos com deflação, mas alguns itens têm pesado muito no bolso. Veja-se o IPCA-15 divulgado ontem: os ônibus subiram 8,44%, em Goiânia; 7%, em Belém; as passagens aéreas aumentaram 12,85%. Mesmo assim, o item transportes teve deflação de 0,7% na média porque a gasolina caiu 3,43% puxada pelo etanol, que ficou 16,53% mais baixo em média. Na semana passada, no entanto, este jornal publicou que houve nova alta do etanol, em plena safra. Se a tendência se confirmar, será algo com o qual não se contava. Nos primeiros seis meses do ano, o item despesas pessoais ficou em quase 5% e o aumento do custo da educação foi de 7,4%.

Os alimentos que subiram muito no começo do ano cederam em vários itens e são a razão da queda das taxas mensais nestes três meses de junho a agosto. Mas se outros itens não desacelerarem, como a inflação de serviços, a taxa voltará a subir no último quadrimestre quando começa o período de entressafra de vários produtos.

A inflação de serviços continua alta. No índice divulgado ontem está em 8,6%. E é esta inflação que será a mais afetada em 2012 pela elevação forte do salário mínimo. A boa notícia é que a pesquisa Focus tem derrubado previsões de inflação para este ano e o economista Luiz Roberto Cunha acha que há até chance de ficar abaixo de 6%:

- Nos próximos três meses a inflação ficará baixa, mas acima dos números do ano passado que foram zero em junho, 0,01% em julho e 0,04% em agosto. Este ano, não ficará assim tão baixo, por isso o acumulado em 12 meses continuará subindo na direção de 7% (está em 6,55%), em compensação no último trimestre não deve ficar tão alto quanto os 2,23% do ano passado. Em 2010, houve uma forte alta de commodities e o feijão disparou no fim do ano e isso subiu muito a taxa. Este ano não deve subir tanto, então a taxa em 12 meses vai cair e há até a chance de ficar um pouco abaixo de 6%.

Será um bom resultado para um ano em que se temeu o estouro do teto da meta.

- É bom lembrar no entanto que o país tem contado sistematicamente com o câmbio baixo como fator que derruba a inflação - diz Cunha.

Não se pode contar com o câmbio sempre baixo, até porque ele traz outras distorções na economia.

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