Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, abril 29, 2011

Entre água fria e banho-maria - VINÍCIUS TORRES FREIRE


FOLHA DE SÃO PAULO - 29/04/11
Bancos centrais de Brasil e EUA indicam que tão cedo não virá notícia relevante na política econômica
AS ÚLTIMAS notícias do universo paralelo da política econômica sugerem que tão cedo não haverá notícias relevantes na política econômica, afora o caso, como sempre, de catástrofes insuspeitas.
Pelo menos é o que se pode depreender das mais recentes exposições de motivos dos bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos. É também a observação que se pode derivar do resultado fraco do crescimento econômico americano e da maior parte das economias europeias, afora a Alemanha e agregados menores.
Em suma, parece que o BC do Brasil não elevará as taxas de juros de modo agressivo, que o BC dos EUA não vai mais "imprimir dinheiro", embora não vá bulir com as taxas de juros quase zero, ainda mais depois que se soube do baixíssimo crescimento americano no primeiro trimestre deste ano.
Como consequência, haverá ainda sobra de capital pelo mundo, o que infla o preço de commodities e outros mais. Haverá ainda dólar desvalorizado, valorização do real, inflação desagradavelmente persistente e crescimento talvez inferior a 4% no Brasil.
Parece difícil haver notícias relevantes até o terceiro trimestre, novas o bastante para alterar a percepção dos BCs e dos governos e, de quebra, suscitar alterações de rota. Notícias de fato seriam quedas ou altas da inflação no Brasil e nos EUA, alterações bruscas da taxa de crescimento ou de emprego, para cima ou para baixo, lá ou aqui.
Tal assunto, o grosso da política econômica, deve ficar em banho-maria por tempo "suficientemente prolongado", como agora gosta de dizer o pessoal fluente em bancocentralês, urbi et orbi.
O Banco Central do Brasil reafirmou ontem que vai esperar para ver e deixar como fica a inflação. É o que se deduz da chamada "ata" do Comitê de Política Monetária, o Copom, que decide a taxa de juros básica da economia. Na ata que saiu ontem, o Banco Central explica que os juros ainda podem subir por um tempo longo o bastante.
Pelo andar da carruagem, isso quer dizer que o BC pode ou não aumentar a Selic em 0,25 ponto percentual, na prática o aumento mínimo, a depender dos dados econômicos que forem pingando.
Nos Estados Unidos, o Fed (o BC do país) ficou em cima do muro que separa os críticos "ortodoxos" da política econômica americana e as evidências da realidade de um economia ainda bem fraca. O Fed não vai continuar o programa de "impressão de dinheiro" (compra de títulos da dívida americana em poder do mercado, o que na prática tem como resultado, em tese, reduzir as taxas de juros de longo prazo). Mas também não tem coragem nem de indicar que vá elevar a taxa de juros de curto prazo.
Apesar da pressão da maioria conservadora de economistas e comentaristas americanos, que querem cortes de gastos públicos brutais, para já, e fim rápido do relaxamento monetário, é possível até que o Fed, o BC dos EUA tenha de manter sua política expansionista ainda por muito tempo. Mesmo com um número de "inflação cheia" (que inclui preços voláteis de comida e combustível) algo irritante para os padrões americanos. O motivo, claro, é que a economia voltou a ratear e o nível de emprego praticamente não sai do lugar.

Arquivo do blog