Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, abril 20, 2011

Continua aquecido- Celso Ming

O Estado de S. Paulo - 20/04/2011


O nível da atividade econômica continua alto demais para os objetivos
do governo, que pretende desacelerar o crescimento do PIB de 7,5% para
alguma coisa em torno dos 4%.

Ontem, tanto os níveis de desemprego (veja gráfico) como a evolução da
renda (mais 18,8% em 12 meses) aferidos pelo IBGE mostraram que o
mercado de trabalho continua aquecido. É uma situação mais do que
confirmada pela Receita Federal, que apurou um avanço de 13% na
arrecadação do Imposto de Renda Retido na Fonte no primeiro trimestre.
Afora isso, a arrecadação no mesmo período cresceu 12% em termos
reais, ou seja, descontada a inflação. (Veja, ainda, o Confira.)

desempregoMar.jpg

E o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, avisou que não tem a menor
importância o avanço mais lento na abertura de vagas com carteira
registrada (dados do Caged) porque continua de pé a projeção oficial
de criação de mais 3 milhões de postos de trabalho em 2011.

São elementos que reforçam as apostas em que o Comitê de Política
Monetária (Copom) optará hoje por um aumento dos juros básicos (Selic)
de 0,5 ponto porcentual e não de apenas metade disso.

O Banco Central também não pode desprezar o impacto do salário mínimo
de 2012 sobre os preços da economia ainda em 2011. O reajuste do
mínimo já contratado para o ano que vem será alguma coisa entre 13,3%
e 14,3%, dependendo ainda do que vier a ser a inflação deste ano
medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), calculado
pelo IBGE.

Trata-se de um reajuste inflacionário, não só porque deverá vigorar
num ambiente já marcado pela escassez de mão de obra, mas também
porque assume um adicional de produtividade da força de trabalho muito
superior ao que será de fato. Isso significa que o salário mínimo será
fator de alta dos custos, não propriamente na indústria, onde a
remuneração do trabalhador em geral é mais alta, mas, principalmente,
no setor de serviços.

Esta não é uma crítica ao tamanho do salário mínimo de 2012. É apenas
a aceitação de que este é um elemento crucial na paisagem que vai
definir a evolução dos preços em 2012 e, mesmo, antes disso. Qualquer
empresário já está se preparando para incorporar esse reajuste não
apenas à estrutura de custos de sua empresa, como também ao provável
impacto (ainda que temporário) sobre o consumo.

As consequências desse forte reajuste deverão ser ainda maiores sobre
as finanças do setor público. Não menos que 66,5% dos aposentados da
Previdência Social recebem o equivalente ao salário mínimo e a maior
parte dos funcionários das prefeituras e dos Estados ganha o mesmo.
Isso significa também grande impacto nas contas do INSS. Esse forte
reajuste vai, portanto, aumentar as despesas do setor público e
dificultar a obtenção do superávit nominal, o fator mais importante no
reequilíbrio das finanças públicas.

A atual estratégia da política monetária do Banco Central é a de
aceitar mais inflação em 2011 para, ao longo de 2012, finalmente
empurrá-la para o centro da meta. Esse reajuste do mínimo será
obstáculo para que isso aconteça, porque criará renda que, por sua
vez, criará demanda. Falta saber de que maneira o Banco Central
pretende compensar esse impacto com outras medidas de contra-ataque à
inflação.

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