Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, março 15, 2011

Dora Kramer Em petição de miséria

O Estado de S. Paulo - 15/03/2011


O partido já foi influente e essencial: dividiu o poder com todos os
governos da ditadura até a eleição de Lula e teve papel decisivo para
a redemocratização, quando abandonou a candidatura presidencial
apoiada pelo regime militar e se aliou à oposição para eleger Tancredo
Neves no colégio eleitoral de 1985.

De Arena mudou para PDS, tornando-se Frente Liberal (PFL) ao se juntar
com o MDB de Ulysses Guimarães. Virou Democratas em 2007 com o plano
de se modernizar e livrar-se do estigma da ditadura, mas deu errado.
Hoje o partido se reúne em convenção extraordinária para juntar os
cacos e tentar sobreviver à derrocada total.

O DEM que nesta terça-feira elege presidente o senador José Agripino
Maia é um partido em petição de miséria: bancada minguante no
Congresso, quantidade decrescente de interessados em se candidatar
pela legenda, destituído de base social, sem perspectiva eleitoral
para 2012, desprovido de seu tradicional combustível (o poder) e com a
imagem marcada pela cena de sua última aposta política de fôlego -
José Roberto Arruda - recebendo dinheiro ilícito exibida em rede
nacional.

Uma trajetória ladeira abaixo para adversário nenhum pôr defeito. Uma
situação que não encontra semelhança em nenhuma outra agremiação do
atual quadro partidário: o PMDB reinventou-se depois da Nova República
e sobreviveu; o PSDB manteve presença nos grandes centros e mal ou bem
sobreviveu à perda da Presidência da República.

Mesmo o PT, que em determinado momento pareceu soçobrar sob os
escombros de um escândalo mais detalhado e abrangente que o vídeo que
detonou Arruda, sobreviveu, reelegeu um presidente e elegeu a
sucessora.

O que houve, então, com o DEM? Uma série de coisas. Um partido não tem
morte súbita, definha.

No segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, o ainda PFL rompeu
com o governo. Na eleição presidencial seguinte lançou candidatura
própria, fulminada pela exibição de fotos do dinheiro de origem (até
hoje) não explicada encontrado pela Polícia Federal na empresa Lunus,
de propriedade da candidata Roseana Sarney.

O partido, sempre exímio na arte de compor e articular, brigou feio
com o ex-parceiro PSDB. Afastou-se de seu eixo habitual.

Antes disso havia sofrido o revés da morte do deputado Luís Eduardo
Magalhães, a aposta do PFL para o futuro.

Em 2001, começa a derrocada de Antonio Carlos Magalhães, o grande
morubixaba do pefelê. Em 2002, Lula se elege e a partir daí o partido
inicia um processo de perda dos grotões para o PT. O PFL sempre atuou
com força em Estados mais dependentes dos instrumentos de governo.

Ao passar a ser oposição, perdeu os meios. Com eles, o eleitorado e um
público até então relativamente cativo, o grande empresariado, que se
associa ao governo do PT.

Sem poder, com as lideranças abaladas e carente de sustentação social,
em 2007 o partido tenta se reinventar.

O então presidente, Jorge Bornhausen, escolheu para substituí-lo o
deputado Rodrigo Maia: jovem, filho do prefeito do Rio de Janeiro,
César Maia, representaria a renovação e ainda poderia reforçar a
posição do partido, já de nome novo (Democratas), no Sudeste.

Além disso, Rodrigo nascera no Chile durante o exílio do pai - ninguém
poderia jamais associá-lo à ditadura, um fator que segundo o
entendimento de Bornhausen pesava de forma crucial contra o partido.

Na concepção dele, Gilberto Kassab em São Paulo poderia representar a
consolidação nas duas maiores cidades do País.

Para não nos alongarmos em detalhes, o resumo do fim da ópera: o PMDB
tomou conta do Rio, por meio de Sérgio Cabral, Kassab foge da massa
falida preocupado com o próprio futuro e Rodrigo Maia revelou-se um
dirigente imaturo.

Arrumou mais brigas que alianças, tirando o partido de vez de seu eixo
original. Além disso, sua principal aposta no cenário nacional era
José Roberto Arruda, o responsável pelo golpe fatal e a perda total do
rumo e do prumo.

A entrega do DEM a Agripino Maia, representante da antiga geração,
significa que o partido dá um passo atrás para tentar retomar a
caminhada e, sobretudo, o senso de direção.

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