Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

PAULO GUEDES Vitória... de Pirro?

O GLOBO - 21/02/11

Apresidente Dilma Rousseff obteve importante vitória política em seu primeiro teste no Congresso. A Câmara dos Deputados aprovou na semana passada o projeto que fixa o salário mínimo em R$545,00. Com os preços da energia, da comida e das matérias-primas disparando nos mercados internacionais, foi bloqueada a transmissão instantânea dessas pressões de custo para a folha de pagamento das empresas.
A inflação que enfrentamos em 2011 é uma variante muito resistente a tratamentos convencionais. Há um componente clássico de excitação da demanda causada pelas políticas anticíclicas acionadas em 2009-2010, que ameaçam reativar o processo inflacionário em 2011-2012.
Mas há também outro componente, mais raro e bastante perverso. Trata-se do "cost-push", uma pressão de custos que começa com a elevação dos preços das commodities e das matérias-primas básicas, transmite-se posteriormente aos salários e vai subindo ao longo de toda a cadeia produtiva, aumentando custos, derrubando as margens de lucro e forçando elevações de preços.
Daí a importância dessa vitória do governo na aprovação de um salário mínimo razoável. A falta de moderação nos reajustes salariais intensificaria imediatamente as pressões de custo, empurrando para cima os reajustes de preços, incendiando as expectativas de inflação, derrubando o ritmo de vendas e a criação de empregos.
Mas não há garantia de que o perigo de reaceleração inflacionária tenha sido afastado. Evitamos temporariamente o repasse de custos, mas há sérios riscos de que o triunfo político de Dilma se torne uma vitória de Pirro. Para evitar o desgaste de uma batalha anual em torno de reajustes do salário mínimo, o projeto estabelece também a prática de reajustes automáticos até 2015. Em princípio, os salários seriam reajustados para compensar a inflação do ano anterior e também para incorporar o crescimento do Produto Interno Bruto ocorrido dois anos antes.
Com uma inflação de quase 6% em 2010, ascendente em 2011, e um crescimento econômico de quase 8% também em 2010, teríamos decretado um reajuste automático do salário mínimo em torno dos 15% para 2012. Essa é a bomba-relógio embutida no projeto em exame no Congresso. Qualquer indexação de salários em períodos de "cost-push" potencializa extraordinariamente o fenômeno. É uma garantia de reaceleração inflacionária e destruição de empregos.

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