Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, março 19, 2010

Viagem à Petra-Maria Helena Rubinato

Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa - 19.3.2010 |
Blog Noblat

Lá pelo século VI a.C., durante o Império Persa, os nabateus, povo formado por beduínos que mercadejavam especiarias, mirra, incenso e ervas aromáticas, e que para preservar sua liberdade não se fixavam em lugar algum, não plantavam, nem colhiam, nem construíam casas para se abrigar, segundo relato de Jeremias no Velho Testamento, surpreendeu a todos, criando um império e cavando na rocha sua capital, Petra.

Durante muitos séculos a capital dos nabateus foi considerada uma lenda, tal qual Atlântida ou Tróia. Relatos muito antigos mencionavam, extasiados, os monumentos, as tumbas, os salões dentro da rocha, os obeliscos, descreviam obras de arte nos mais variados estilos... mas ninguém conseguia localizar tal maravilha.

Até que no início do século XIX um explorador suíço, viajando pelo Oriente Médio, ao ouvir histórias de uma cidade cravada na pedra, abandonou o roteiro que tinha determinado para si e foi em busca da cidade legendária. Ludwig Burckhardt, em 1812, foi o primeiro e feliz "louro de olhos azuis" a por os pés, os olhos e o coração em Petra. E desde então a maravilhosa Petra foi sendo minuciosamente explorada e visitada, hoje é Patrimônio da Humanidade e ponto turístico dos mais cobiçados por quem pode viajar até lá.

Lendo os jornais, daqui e lá de fora, fico feliz por nós, povo brasileiro, termos podido oferecer à Primeira Dama do Brasil essa linda viagem. Pelo menos isso. O dinheiro foi bem gasto. Viajar é tão bom, mas tão bom, que eu curto as minhas viagens, as dos outros, dos livros, dos filmes, dos documentários. Pior seria se ela não tivesse ido à Petra. Aí, sim, eu ia ficar desconsolada.

Porque os outros objetivos da viagem, francamente... Na quarta-feira 16, enquanto Lula se iludia como mediador da paz, os enfrentamentos entre palestinos e israelitas recrudesciam. Choques nas ruas, dezenas de feridos. E na quinta, ontem, um foguete palestino matou um imigrante tailandês em um kibbutz localizado na fronteira com a Faixa de Gaza. A resposta israelense não tardou: seu exército reagiu de imediato, e a paz cujo vírus o presidente Lula diz carregar dentro de si desde o ventre de sua mãe, ficou cada vez mais distante.

O pesquisador, professor e doutorando francês Julien Salingue, do departamento de Ciências Políticas da Universidade de Paris 8, disse ao jornal "Libération": "A cólera se cristaliza por conta das declarações de Netaniahu sobre as 1600 casas em Jerusalém Leste, mas o ressentimento vem de algo muito mais profundo no seio da população palestina.

São os jovens que cresceram nos campos de refugiados, que têm entre 10 e 15 anos, e seu ódio aos soldados israelenses. O movimento que surgiu esta semana não é controlado ou liderado por ninguém, não há partido ou facções na paisagem política palestina que possa liderar seja lá o que for (...) A revolta é de pessoas muito jovens, que só conheceram a ocupação. Sua cólera traduz uma ausência total de perspectivas".

Do lado de Israel, a mobilização de força impressiona. Segundo Salingue, os soldados israelenses já estão habituados a lidar com manifestantes em fúria, como esses meninos que atacam com paus, pedras e ódio. Na fronteira é mais fácil controlar, mas nas ruas da velha cidade de Jerusalém, a situação é mais complicada e o que se teme é um crescimento dos choques com a inauguração, na terça que vem, de uma nova sinagoga na parte mais antiga de Jerusalém.

Hoje, sexta-feira, o quarteto de mediadores convidados a mediar, é imprescindível notar o detalhe, convidados a mediar, se reunirá em Moscou: Hillary Clinton (EUA), Vladimir Putin (Rússia), Catherine Ashton (EU) e BanKiMoon (ONU). Deus permita que descubram qual é a tal palavra mágica...

Ao contrário do que o presidente Lula pensa, nós brasileiros, orgulhosos de quem somos e da acolhida fraterna que sempre demos a todos, torcemos pela paz naquela região. Não há nada em nossa História, antiga ou recente, que permita que ele diga a barbaridade que disse em Amã:

"- Eu sei que no Brasil tem gente que fala: ah, mas por que o Brasil está se metendo? Isso não é área do Brasil. É, sim, a área de qualquer país do mundo que queira brigar pela paz. Algumas pessoas no Brasil não acreditam até nelas próprias. Tem gente que acha que nasceu para ser de terceira categoria. Tem gente que nem acreditava que o Brasil conseguiria ser sede das Olimpíadas. São pessoas que não querem crer que o Brasil faça parte do jogo, porque acham que são inferiores".

Agora falo por mim: não creio que seja importante para o Brasil ser parte do jogo pesado que os grandes jogam, não sonho com um Brasil "grande" nesse sentido. Meu sonho é um Brasil grande aqui dentro, com escolas, hospitais, esgoto sanitário, luz e água para todos, segurança, transportes, a alegria brasileira de volta.

Não acho que desempenhar o papel que desempenhamos até hoje seja ser de terceira categoria. Oswaldo Aranha não era de terceira categoria. Joaquim Nabuco também não. Isso para falar nos mais antigos e já falecidos. Nossos diplomatas sempre foram respeitados. O MRE não nasceu no governo Lula. O Itamaraty é que morreu no governo Lula.

Celso Amorim enfatizou ainda que a recepção à delegação brasileira, no início desta semana, em Jerusalém, foi "excelente": "Os israelenses tocaram música brasileira no jantar e os encontros ultrapassaram os horários. O premier Netaniahu nos recebeu no gabinete, foram acordadas reuniões ministeriais conjuntas, um tratamento que é dado a poucos países. É muito importante que o país saiba que nós nos consideramos amigos de Israel".

Sei disso, ministro. A música brasileira sempre ultrapassou fronteiras e uniu corações. É uma bênção de Deus sermos tão criativos e musicais. Mas flores para Arafat sem flores para Herzl, não há cantoria que segure.

A felicidade é como gota de orvalho numa pétala de flor e o trem está atrasado ou já passou. Ainda bem que dona Marisa conheceu Petra.

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