Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

ALBERTO TAMER Obama nem quer falar mais com os europeus...

O ESTADO DE SÃO PAULO - 18/02/2010

A Europa está magoada com Obama. Ele deu a entender, parece até que recusou mesmo, a ir a uma próxima reunião com os chefes de Estado da União Europeia. Na última, já havia se queixado pela falta de resultados. Não houve nenhum. Os europeus não se entendem nem entre eles, como dialogar com os EUA? Chegam e saem sempre divididos entre si em qualquer encontro, por mais simples que seja. A França discorda da Alemanha que discorda de todo mundo. E saem como sempre, promessas pífias de não retirar os incentivos até que a economia mundial se estabilizasse. Palavras. Nem com isso, a Alemanha e o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet concordaram plenamente. Eles estão com medo da...inflação, quando a economia apenas começa a evitar a deflação.

Obama cansou. Está todo mundo cansado com a União Europeia que pode ser europeia, mas não é uma união. As economias dos países que a integram divergem. O primeiro erro, como lembra muito bem Paul Kurgman, foi criar uma moeda única, o euro, em 2002, quando o bloco não estava ainda preparado para isso. A segunda, que ele não fala, foi ampliá-la perigosamente, passando de 8 em 2004 para 27 hoje países-membros. Incluíam países periféricos, de economia frágil e crescimento periclitante. A Grécia entrou nesse rolo. ...

O SUBPRIME EUROPEU

Hoje, a eurozona abalada pela crise da Grécia, que, se revela agora, não foi séria, jogou parte das suas dívidas para o mercado futuro, em denuncia bem documentada do New York Times. E está criando o que já se está sendo chamado de "subprime europeu". Só que em vez de imóveis, eles teriam lastreado a dívida futura em receita da loteria, aeroportos e outros itens semelhantes. Decididamente, não é um país sério. Mas e os outros quatro , Espanha, Portugal, Itália e Irlanda, teriam condições sair das suas dívidas?

A situação da Espanha é a mais grave com desemprego assustador de 19,5% e queda de 4% do PIB. Todos romperam sem menor pudor com todas as regras da União Europeia, que fixou um teto máximo de dívida de 60% do PIB. E ninguém em Bruxelas fez nada até que a bomba grega explodisse.

E em meio a essa parafernália interna, a economia da UE, como um todo, afundou 4,1% e a da eurozona, 4% no ano passado. A Alemanha lidera o atraso, 5%.. Atrás dela, só a Itália, 4,9%. E não há sinal de reação.

Ao contrário, a Grécia irá drenar os recursos da comunidade a não ser que os governos europeus aceitem a intervenção do FMI. Orgulhos, disseram que não. O problema era deles e iriam resolver sozinhos. Sim, mas a que custo financeiro e em crescimento?

Isso é grave porque o seu PIB representa 28% do PIB mundial.

OBAMA: EU NÃO...

E em meio a esse cenário turbulento e depressivo, os chefes de Estado europeus iam reunir-se com Obama. É verdade que o encontro havia sido marcado há tempos, mas desde o inicio ele hesitou. Primeiro, que os europeus se entendam entre si e depois a gente conversa. Por que eles não fizeram como os EUA que, só neste governo, está injetando US$ 787 bilhões em incentivos ao consumo e agora inicia um novo projeto estimado em US$ 300 bilhões para criar e salvar empregos? Por que estão hesitando até agora? Será que nem mesmo na recessão e nesta nova crise, vocês não se unem? Pelo amor de Deus, vocês, lideres europeus, não estão vendo que com o que fizemos, o PIB americano cresceu 5,7% no ultimo trimestre de 2009 e o de vocês apenas 0,1% em relação ao anterior?

MAS TEM A DíVIDA...

O argumento europeu que não podem aumentar a divida já elevada - olha a Grecia e a Espanha aí... - não se sustenta. Não pode aumentar a divida nem criar moeda, como nos EUA, então porque não reduziram impostos nos setores mais atingidos? O efeito sobre a dívida não seria imediato e seria mais rapidamente compensado com o aumento da arrecadação decorrente do crescimento.

Sabem, a coluna tem uma proposta ousada aos governantes europeus: por que não mandam seus técnicos para o Brasil para aprender como nós fizemos? Não gastamos muito, não. Apenas fomos o primeiro a cortar impostos naqueles setores que estavam abalados pela recessão mundial. A indústria automobilística estava despedindo em massa, as vendas caíram? Menor IPI e ela logo voltou a bater recordes de produção. O mesmo aconteceu em outros setores. E, sabem de uma coisa, senhores chefes de governo, a arrecadação voltou a crescer - vai bater recordes...- , a divida interna não explodiu, as empresas voltaram a contratar e o desemprego recuou de 10,1% para 8,1%. E já há falta de mão de obra qualificada!

Presidente, convide esses moços eurocratas para virem aqui que nos ensinamos para eles. Se deixarem de ser vaidosos, aprenderão muito.

É pena que o carnaval acabou. Eles poderiam ter aproveitado para sambar e se tornar mais humanos... Mas não pague a passagem deles, não, presidente!

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