Entrevista:O Estado inteligente

sábado, outubro 24, 2009

Centro analisa exames a distância

Tão longe, tão perto

A emissão de laudos a distância é a área da telemedicina
que mais avança, e São Paulo inova ao levar esse tipo
de serviço à rede pública de saúde


Naiara Magalhães


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A telemedicina – a medicina exercida a distância com auxílio da tecnologia – desbravou diversas vertentes nos últimos anos, do ensino à mesa de cirurgia. A área que, de longe, mais se difundiu e continua em franca expansão é a dos laudos para exames de radiologia, patologia, dermatologia, oftalmologia e cardiologia. Seguindo a linha mais promissora da telemedicina, o governo do estado de São Paulo inaugurou na semana passada um sistema pioneiro no Brasil e na América Latina. Trata-se de uma central exclusivamente dedicada a emitir resultados para os exames de imagem realizados em hospitais, ambulatórios e outros centros públicos de saúde do estado. Cinquenta radiologistas se concentram na sede do Serviço Estadual de Diagnóstico por Imagem (Sedi), diariamente, 24 horas por dia, para produzir resultados de mamografias, ressonâncias magnéticas, tomografias computadorizadas e raios X. No mês de experiência do sistema, em setembro, foram despachados 40 000 laudos para sete unidades de saúde. A meta é chegar a 1,5 milhão de resultados mensais até 2011, quando cinquenta hospitais da rede estadual deverão estar integrados ao serviço. "Estamos inaugurando uma nova era", diz o governador José Serra. "Com o Sedi, é possível oferecer diagnóstico de qualidade nos locais mais distantes do estado, que nem sempre contam com profissionais especializados para isso."

Com o novo sistema, os laudos ficam prontos em trinta minutos, em média – contra os dez a quinze dias de prazo do passado (veja o quadro). "Temos a obrigação contratual de realizar cada laudo em até quatro horas. Mas só utilizamos esse prazo máximo em casos excepcionais, que requerem uma segunda opinião", diz Javier Hernández González, gerente médico do Sedi. A liberação em tão curto espaço de tempo dos resultados dos exames faz com que os pacientes não tenham mais de voltar aos hospitais para buscá-los. O retorno ao médico e o começo dos eventuais tratamentos também passam a acontecer mais rapidamente. Se o caso é de urgência, o ganho é imediato. No período de testes do sistema, chegou à central de laudos a tomografia de uma paciente cujo resultado indicava câncer hepático. A mulher foi imediatamente encaminhada para tratamento. Para algumas unidades de saúde, o benefício é ainda maior que a celeridade. O Hospital Estadual Porto Primavera, em Rosana, com cerca de 25.000 habitantes, a 780 quilômetros da capital, é um desses casos. A cidade nunca teve um radiologista para realizar laudos na rede pública. Nas ocorrências mais urgentes e simples, uma fratura de braço, por exemplo, os exames são analisados pelos médicos plantonistas – clínicos, em sua maioria. Quando o exame é eletivo, os filmes de raio X e mamografia são levados de carro até Presidente Prudente, a 197 quilômetros de distância. No próximo ano, quando o hospital for incorporado ao Sedi, pela primeira vez Rosana contará com um serviço de laudos em radiologia. "Casos como esse mostram que o processo de incorporação da tecnologia à saúde é imprescindível", diz Miriam Blom, diretora executiva do Sedi. Se em sua origem, na década de 60, a telemedicina estava a serviço da saúde dos astronautas e dos soldados que não podiam ser cuidados de perto, ela agora se presta (mais do que nunca) a encurtar distâncias e aumentar a qualidade de vida de todos.

Há vários fatores que explicam por que, ainda que os recursos da telemedicina possam ser empregados nas mais diversas áreas da saúde (veja o quadro abaixo), é no campo dos laudos que a medicina a distância mais avança. Devem ser levados em conta o baixo custo dos recursos tecnológicos exigidos e a simplicidade do processo, que dispensa a interação de várias pessoas ao mesmo tempo. O principal motivo, no entanto, é a padronização dos laudos. "Tudo o que é padronizado é passível de ser replicado em larga escala", diz Chao Lung Wen, presidente do Conselho Brasileiro de Telemedicina e Telessaúde. Tanto as máquinas de diagnóstico quanto a análise e a emissão do resultado de um exame obedecem a padrões aceitos por entidades médicas da maioria dos países. É tudo muito objetivo – com pouca (ou nenhuma) margem para a subjetividade. "Outras áreas, como a telecirurgia e a teleconsulta, ainda têm várias questões em aberto, como a responsabilidade de cada médico ou mesmo a questão da remuneração dos profissionais e dos custos operacionais envolvidos no procedimento", completa Wen. Com 75% de sua população vivendo em áreas rurais e 75% de seus médicos trabalhando nos centros urbanos, a Índia é um bom exemplo de como é possível tirar proveito dos laudos a distância. Nos últimos anos, o país investiu pesado em informática e em medicina de modo a formar radiologistas de alta qualidade, capazes de atender (via satélite) um grande número de pacientes sem ter de abandonar seu posto de trabalho. A telemedicina na Índia extrapola fronteiras. Aproveitando a diferença de fuso horário, vários radiologistas prestam serviço a consultórios, clínicas e hospitais nos Estados Unidos. Quando cai a noite para os americanos, é hora de os indianos começarem a trabalhar.

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