Entrevista:O Estado inteligente

sábado, setembro 26, 2009

VEJA Recomenda


DVD

Fotos divulgação
DVD
Life on Mars: viagem ao tempo da fita cassete
e dos interiores esfumaçados


LIFE ON MARS – PRIMEIRA TEMPORADA COMPLETA (Inglaterra, 2006. Log On)
Atormentado com a perseguição a um assassino em série, o detetive Sam Tyler (John Simm) quase bate o carro numa via expressa em Manchester, na Inglaterra. Ele sai do automóvel para respirar, enquanto a canção Life on Mars, de David Bowie, é executada em seu tocador de MP3 – e, zás, é atropelado por outro veículo. Quando desperta, Tyler não está mais em 2006: voltou 33 anos no calendário, até 1973. Não há sombra da via expressa. Seu carro novo transmutou-se num velho Ford Cortina – e Life on Mars é tocada numa obsoleta fita cassete. Ao chegar à delegacia onde trabalha, depara com pilhas de papéis e muita fumaça de cigarro, no lugar dos laptops e do ambiente asséptico. E nenhuma mulher policial à vista, apenas marmanjos. A sequência dessa viagem no tempo é vertiginosa, e resume o tema central da série da rede inglesa BBC. Com roteiros inteligentes, pontuados pelo humor negro, Life on Mars coloca em perspectiva os costumes do presente e de um passado nem tão distante. Tyler se horroriza com o chefe (Philip Glenister), que não hesita em socar suspeitos e plantar provas para pegar bandidos. Seu tormento não advém só desse choque, digamos, cultural: Tyler ouve vozes e vê indícios que lhe inculcam a dúvida se viajou mesmo no tempo ou está só delirando em coma.

KES (Inglaterra, 1969. Lume)
Filme de estreia de Ken Loach, um dos mais engajados diretores em atividade, Kes tem lugar em uma cidade industrial do norte da Inglaterra, em 1969 – mas, tamanha é a indiferença à infância exposta na história, que ela poderia se passar um século antes e ter sido tirada de um dos tristíssimos romances de Charles Dickens. Billy (David Bradley), um menino magro e sujinho de seus 12 ou 13 anos, mora com a mãe, que não liga para ele, e o irmão abrutalhado. Além disso, é ridicularizado pelos outros meninos e maltratado pelos professores. Convencido de que o garoto não tem futuro, o diretor de sua escola o pressiona a arrumar emprego – e o que Billy mais teme na vida é ter de descer às minas de carvão. Desolado, ele quase por acaso encontra um foco para sua existência esquálida: tira do ninho um pequeno gavião e passa a treiná-lo, segundo as instruções que lê, com considerável dificuldade, em um livro sobre falcoaria. Rodado em estilo naturalista, sem nenhum retoque sentimental, este é um filme pessimista e de cortar o coração – mas belíssimo.

Televisão

TELEVISÃO
Filhos do Carnaval: drama criminal


FILHOS DO CARNAVAL
(estreia no domingo 4,
na HBO, às 22h)

Uma das melhores produções do canal pago HBO na América Latina, Filhos do Carnaval é uma espécie de versão brasileira de A Família Soprano: um drama sobre neuroses familiares em uma família de criminosos. Na primeira temporada, exibida em 2006, a trama se centrava no esforço de um banqueiro do bicho, Anésio Gebara (interpretado por Jece Valadão, que morreu no mesmo ano), para apontar o sucessor entre três filhos, Cláudio (Enrique Diaz), Brown (Rodrigo dos Santos) e Nilo (o rapper Thogun), frutos de casos fortuitos do bicheiro. A segunda temporada começa com o enterro de Anésio. O ambicioso Cláudio, único herdeiro legítimo, fica com o melhor negócio: o contrabando de placas eletrônicas para montagem de máquinas caça-níqueis. Mas traz os dois irmãos para administrar outros braços da "empresa": o mulherengo Brown assume a presidência da escola de samba, e o mais retraí-do Nilo toca os decadentes pontos do jogo do bicho. Irmão do bandido morto, Comodoro Gebara (Walmor Chagas) será o grande inimigo das ambições de Cláudio. Dirigida por Cao Hamburger e escrita por Elena Soárez, a nova temporada mantém a qualidade visual e a narrativa tensa da série.

Livro

AS AVENTURAS DE AUGIE MARCH, de Saul Bellow (tradução de Sonia Moreira; Companhia das Letras; 704 páginas; 67 reais)
"A espinha dorsal da literatura americana no século XX está em dois romancistas: William Faulkner e Saul Bellow", disse Philip Roth (como Bellow, um grande cronista das comunidades judaicas americanas). E foi com As Aventuras de Augie March, seu terceiro livro, que Saul Bellow (1915-2005) se consagrou. Lançado em 1953 (e só agora traduzido no Brasil), o romance foi inteiramente escrito em Paris, onde Bellow viveu com uma bolsa da Fundação Guggenheim. Trata-se de um painel ambicioso da história americana na primeira metade do século XX, conduzido pelo herói errante Augie March, que viveu a Grande Depressão nos bairros pobres de Chicago e mais tarde exerceu todo tipo de função – sindicalista, corretor de imóveis, ladrão. Ao mesmo tempo cínico e romântico, o personagem tornou-se o primeiro de uma galeria de homens individualistas que seriam a marca maior de Bellow na literatura. O próprio March define-se bem já na primeira frase do livro: "Sou um americano".

Disco

DISCO
Alice in Chains: grunge com uma levada de autoajuda

BLACK GIVES WAY TO BLUE, Alice in Chains (EMI)
"Ao lado do Nirvana, o Alice in Chains foi um dos expoentes do grunge, o rock básico, barulhento e deprê que surgiu na cidade americana de Seattle, nos anos 90. A banda passou por um longo recesso – catorze anos sem gravar um disco novo –, e seu vocalista original, Layne Staley, morreu de overdose de heroína, em 2002. Em 2005, porém, os membros remanescentes – o guitarrista Jerry Cantrell, o baterista Sean Kinney e o baixista Mike Inez – voltaram a tocar juntos, em um show para levantar fundos para as vítimas do tsunami na Ásia. Daí surgiu a ideia de um novo disco, para o qual foi convocado o cantor William DuVall, cuja voz elástica lembra a de Staley. Black Gives Way to Blue (a escuridão cede lugar à tristeza, ou ao azul, na tradução mais literal) é quase um disco de autoajuda: as onze músicas falam muito em fé e perseverança, virtudes que teriam reerguido o grupo. A "sobrevivência" da banda é o tema central, de acordo com Jerry Cantrell. A faixa-título, com participação de Elton John ao piano, é uma homenagem a Layne Staley.

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