Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, julho 23, 2009

Juro menor pesa mais no investimento Alberto Tamer

O Estado de S. Paulo - 23/07/2009
 
Está aberto o debate sobre a retomada do crescimento econômico. Após um período considerado por muitos como excessivamente longo, o Banco Central decidiu reiniciar o corte na taxa básica. Chegou tarde? Pouco importa, no momento, se o juro cair 0,50 ou 1 ponto porcentual. O que importa é a tendência de baixa anunciada nas ultimas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom). A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), eterna chorona - quando passo em frente ao seu prédio na Avenida Paulista tenho vontade de abrir o guarda-chuva, quer juros cada vez menores, sem considerar que qualquer banco central que se preze trabalha com a projeção da taxa futura, não a presente.

A coluna concorda que o juro básico estava alto. Mesmo considerando a taxa real, descontada a inflação, ele se situava ontem, antes da reunião do Copom, em 4,4% - e deve ser reduzido. Mas, como reconheceu o próprio presidente, a política monetária do BC deu certo até agora, derrubou uma inflação de mais de 10%, e agora se adapta às novas circunstâncias. Lula, contra toda sua equipe, apoiou Meirelles quando o juro chegou às nuvens, e agora o está apoiando quando o reduz; deseja que o movimento de baixa seja mais rápido, mas respeita a decisão.

Alex Agostini, economista-chefe da Austin Reading, que tem estado sempre presente na imprensa por suas observações inteligentes e judiciosas, desenvolve para a coluna, com mais detalhes, a sua tese. O juro básico tem um peso na demanda, mas ele é mais importante no estímulo aos investimentos das empresas, ainda retraídos. Sem isso, a retomada do crescimento não será sustentável.

INVESTIMENTO E CONSUMO

"Quanto ao efeito menor na demanda, não há dúvida que os investimentos serão mais beneficiados, visto que a estabilidade econômica e a educação financeira no Brasil são algo muito recente, tem apenas 15 anos." Ou seja: ainda vale a máxima: "a prestação cabe no bolso". Por isso, os investimentos devem se sobressair à demanda, afirma ele à coluna.

Daria para avaliar o peso de uma taxa menor no aumento da demanda interna? Agostini lembra que as vendas do comércio varejista brasileiro, calculadas pelo IBGE, cresceram 4,4% no primeiro quadrimestre deste ano sobre o mesmo período de 2008.

"Foi um resultado fantástico mesmo em um período que já é tradicionalmente fraco para o consumo, os primeiros três meses do ano, após as festas e num cenário recessivo. Para mim, muito provavelmente isso se deve à queda ou expectativa de queda dos juros." Não foi a redução do IPI? "Sim, isso ajudou. Mas a decisão de consumo não é influenciada apenas pelo custo do financiamento, mas principalmente pelo nível de confiança da população. E esse, sem dúvida, melhorou muito nos últimos 3 meses."

COPOM MENOS IMPORTANTE

Para ele, uma redução de 0,50 ou 0,75 ponto porcentual não muda nada no consumo final, "mas pesa muito nas decisões de novos investimentos das empresas, reduz o seu custo financeiro, que é muito elevado."

Por exemplo, num investimento de milhões, ou bilhões, a diferença entre 0,5 ou 0,75 será de alguns bons reais! Esse efeito é menor no consumo diário das famílias.

TÍTULOS DO TESOURO EM RISCO?

Agostini tem uma preocupação que a coluna considera prematura. A queda dos juros podem tornar menos atraentes a compra de títulos do Tesouro que, em junho, aumentaram 113% nas compras por internet. Isso poderia desviar os aplicadores - agora não mais apenas instituições - a buscar alternativas mais rentáveis, dificultando a rolagem da dívida interna ou o seu aumento, peça importante na formação das reservas cambiais e no câmbio.

Para ele, esse é um problema real que deve surgir gradualmente, mas deve ser encarado desde já. Os investimentos em bolsas já estão se tornando novamente atraentes, além da decisão de poupar e investir mais em vez de consumir, insiste o economista-chefe da Austin Reading.

Ele não gostou muito quando a coluna voltou a lembrar Keynes, para quem "no futuro estaremos todos mortos". A diferença entre Agostini e a coluna é que, como jornalistas, vivemos e refletimos sempre intensamente o presente, a realidade imediata, e achamos que o "destino do futuro" depende do que fizermos no presente. E, até agora, acredito que o próprio Agostini reconhece, a equipe econômica está acertando. Muito provavelmente vamos sair da recessão ainda este ano e poderemos voltar a crescer antes dos outros em 2010. Acho que não foi à toa que, enquanto os presidentes do G-8 se desesperavam em buscar soluções, o nosso distribuía, sorridente, camisas de uma seleção muito "mixuruca" num campeonato "mixuruca" nos confins da África.

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