Entrevista:O Estado inteligente

sábado, junho 27, 2009

Diogo Mainardi Dois mil anos depois...


da Veja

"Patrizia D'Addario é uma prostituta. Ela alega ter 
participado de duas ceias dionisíacas no palácio 
barroco do primeiro-ministro italiano. Na última semana,
relatou os detalhes do Satyricon berlusconiano"

Roma tinha Trimalchio. Agora tem Berlusconi.

Trimalchio é um dos protagonistas de Satyricon. No romance de Petrônio, Trimalchio oferece uma ceia em sua propriedade. Mais do que uma ceia: uma orgia. Assim como Berlusconi, Trimalchio é um homem rico. Assim como Berlusconi, Trimalchio se cerca de parasitas. Quando Trimalchio, num determinado momento da ceia, pega um belo rapaz menor de idade e o beija prolongadamente, sua mulher Fortunata o acusa de ser incapaz de "conter sua libidinosidade". Quando Berlusconi, dois meses atrás, compareceu à festa de 18 anos de uma bela napolitana, sua mulher Veronica acusou-o de "estar doente" e de se relacionar com menores de idade.

Roma tinha Petrônio. Agora tem Patrizia D'Addario.

Patrizia D'Addario é uma prostituta. Ela alega ter participado de duas ceias dionisíacas no palácio barroco do primeiro-ministro italiano. Na última semana, ela relatou os detalhes do Satyricon berlusconiano aos repórteres do jornal La Repubblica e aos procuradores de Bari, que investigam o assunto. A primeira ceia, com cerca de vinte mulheres, teria ocorrido em meados de outubro do ano passado. Duas das mulheres seriam prostitutas lésbicas que trabalhariam em dupla. Se a ceia de Trimalchio tinha iguarias preparadas com carne de porco, a de Berlusconi, de acordo com Patrizia D'Addario, foi bem mais frugal: tagliatelle com cogumelos e carne com batatas. Se Trimalchio demonstrou sua banalidade discorrendo sobre o zodíaco, Berlusconi demonstrou sua banalidade contando uma série de anedotas inocentes. Se Trimalchio, durante a ceia, decidiu encenar seu próprio funeral, fazendo um panegírico de si mesmo, Berlusconi, em sua ceia, mostrou à plateia imagens de seus comícios e de seus encontros internacionais. Em Satyricon, os servos de Trimalchio cantavam como "num coro pantomímico"; no palácio de Berlusconi, as vinte prostitutas, assistindo às suas imagens na TV, festejaram-no com uma "ola".

Patrizia D'Addario declarou ter recebido 1.000 euros para participar das ceias. O dinheiro teria sido pago por um empresário acusado de suborno. Na primeira ceia, Patrizia D'Addario teria permanecido o tempo todo com Frufru, o poodle branco que Laura Bush deu a Berlusconi. Na segunda ceia, em 4 de novembro, data da eleição de Barack Obama, ela teria passado a noite com Berlusconi. Patrizia D'Addario tem uma peculiaridade: ela documenta todos os seus encontros profissionais e grava todos os seus telefonemas. Ela é o cacique Juruna do meretrício. As fotografias tiradas no quarto de Berlusconi e as gravações das conversas com ele já foram entregues aos procuradores de Bari. Numa das conversas, ele diz: "Me espere na cama grande".

Roma tinha Satyricon. Dois mil anos depois, o romance ainda está aí, inteirinho. Uma "ola" para Petrônio.


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