Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, junho 25, 2009

CELSO MING Aperto adiado

O Estado de S. Paulo - 25/06/2009
 
Não está em nenhuma tela de radar a indicação de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) volte a puxar pelos juros básicos.

Ontem, o Comitê de Política Monetária do Fed (Fomc, na sigla em inglês) decidiu pela manutenção dos juros que estão ao redor de zero por cento desde dezembro de 2008. Nenhum analista apostava em decisão diferente dessa.

As novidades, se é que se pode falar assim, estão no comunicado. O Fed continuou a pintar um quadro sombrio da atividade econômica dos Estados Unidos: "Embora as condições do mercado financeiro tenham melhorado, a atividade econômica continua contida, o consumo mantém-se estrangulado pelo aumento do desemprego, pela desvalorização imobiliária e pelo aperto de crédito."

Por isso, garantiu que os juros básicos continuarão ao rés do chão por um longo tempo (for an extended period). É uma afirmação que desencoraja as especulações a respeito da necessidade de definir imediatamente a tal estratégia de saída, entendendo-se por essa expressão a reversão da atual situação de superabundância de recursos que vaga pelo mercado financeiro americano.

Para combater a crise, suprir de alguma forma o bloqueio de crédito que se seguiu à quebra do Lehman Brothers, em setembro, e conter a recessão econômica, o Fed despejou enormes volumes de dólares na economia americana. Essa operação inchou seus ativos em nada menos que US$ 2 trilhões. Os mais preocupados veem nessa abundância de liquidez o mesmo caldo de cultura que, em 2003/2004, deu início às bolhas que estouraram há um ano. Esse despejo pode ter sido necessário para combater o incêndio, mas precisa ser imediatamente revertido - pensam esses observadores - para que não provoque um fogaréu ainda mais desastroso.

Como visto, o Fed não está nem um pouco preocupado com esse efeito e avisa que continuará a injetar recursos diretamente na veia da economia por meio da compra, até o fim deste ano, de ativos hipotecários da ordem de US$ 1,45 trilhão. Além disso, até o fim de novembro, completará a recompra de US$ 300 bilhões em títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Aí tem outro recado: o de que ninguém deve apostar na alta do rendimento (yield) desses títulos, o que significaria certa rejeição.

Diante dessa política monetária que seguirá expansionista, é natural que volte a crescer a preocupação global a respeito do aumento da inflação em dólares. A forte recuperação dos preços das commodities e do petróleo nesta primeira metade do ano tem sido apontada como indício disso. 

No comunicado de ontem, o Fed reconhece esse movimento dos preços, mas avisa que a eventual pressão daí proveniente sobre os custos de produção deve ser compensada pela "folga dos recursos".

No seu depoimento ao Congresso, no dia 3 de junho, o presidente do Fed, Ben Bernanke, já tentara acalmar aqueles que viam nessa forte recompra de títulos do Tesouro americano um movimento disfarçado destinado a dar cobertura com emissão de moeda a despesas correntes do governo federal: "O Fed não está monetizando a dívida do Tesouro", disse. Mas continua a cisma de que isso é monetização. 

CONFIRA

Continua valendo - O criador do acrônimo Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) é Jim O?Neill, do Goldman Sachs. Ontem, ele escreveu no Daily Telegraph, de Londres, que os quatro continuarão empurrando a economia mundial.

Da China, O?Neill disse que, neste ano, ela crescerá mais de 8%. E que, no ano que vem, o consumo interno chinês se acelerará mais de 12%, o que puxará o crescimento do PIB para a casa dos 10%.

E, do Brasil, afirma que a crise foi branda por aqui e que dá mostra de, em 2010, recuperar o crescimento (supostamente superior a 4%).

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