Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, maio 29, 2009

A força da Bolsa Celso Ming


 O ESTADO DE S. PAULO

A Bolsa brasileira vai tendo excelente desempenho neste ano. Apesar da leve baixa de ontem, o Índice Bovespa, que mede a valorização das 65 ações mais negociadas no mercado, fechou ontem nos 51.792 pontos. É o nível que aponta uma valorização de 9,5% em maio, 37,9% neste ano e está a 42% do seu nível histórico mais alto, alcançado em maio de 2008.

Os analistas desdobram-se para saber até onde vai essa força. Mas a corda está sendo puxada para os dois lados. O primeiro fator que pressiona em direção a uma retração do mercado de ações é quase uma reação mecânica: vai cair porque subiu rapidamente demais. Em todo caso, é difícil saber o que é demais ou de menos quando o assunto é preço de ações numa conjuntura de crise financeira global. Ninguém garante que o fundo do poço foi ultrapassado. A qualquer momento um grande banco pode ter problemas e já não se vê a mesma confiança no dólar. Em outras palavras, se houver uma recaída séria da crise, as bolsas, inclusive a brasileira, sofrerão.

Outro argumento que conspira contra o avanço da Bolsa é o comportamento do setor produtivo neste ano. Apesar do bom desempenho do consumo interno, o PIB da economia brasileira converge para perto do zero por cento e, assim, as empresas poderão ter resultados fracos.

A política também joga contra. Há uma CPI da Petrobrás rolando no Senado e, no vale-tudo eleitoral, qualquer coisa pode ocorrer. Denúncias graves ameaçam sair de algum buraco e, mesmo sendo inconsistentes, têm potencial para produzir estragos.

Mas a pressão na outra ponta da corda talvez seja mais forte. Há dinheiro demais rolando pelos mercados. Os capitais do Hemisfério Norte passaram muito tempo entocados com medo da crise e vivem um clima de primavera, mais predispostos ao risco.

Ao mesmo tempo, consolida-se a percepção de que a economia dos emergentes (a do Brasil entre elas) sairá mais forte da crise e já mostra descolamento positivo em relação às economias mais avançadas. É o que ajuda a explicar por que as aplicações líquidas de estrangeiros na Bolsa brasileira neste ano alcançaram US$ 4,4 bilhões até 22 de maio.

Enfim, mais dólares podem amarrar-se a ações de empresas brasileiras e isso nem precisa entrar no Brasil. A Bolsa de Nova York tem tudo para negociar um volume maior de ações brasileiras do que a Bolsa de São Paulo, como já tem acontecido.

A queda dos juros por aqui empurra ainda mais o aplicador brasileiro para a renda variável. É um movimento que não está restrito às pessoas físicas. Os fundos de pensão, por exemplo, que têm um patrimônio de R$ 450 bilhões, já não conseguirão produzir o mesmo desempenho do passado graças ao alto peso dos títulos de renda fixa em suas carteiras. Daqui para a frente, suas metas atuariais só serão cumpridas com aumento dos investimentos em renda variável (ações e debêntures conversíveis em ações).

Se alguma conclusão se pode tirar é a de que os fatores positivos parecem prevalecer. O problema é que, num mercado tumultuado e tão sujeito a turbulências, o tempo bom pode virar de repente. A Bolsa pode continuar sendo uma boa aposta, mas apenas para quem estiver disposto a apanhar também chuva forte.

CONFIRA

O homem falou - Pela primeira vez, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, admitiu que o governo pode instituir um Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) na entrada de dólares.

Apesar das ressalvas, a declaração é importante. No mínimo, mostra que o Banco Central se incomoda com a forte valorização do real. E fica admitido que as intervenções podem não se limitar a compras "para recompor as reservas e evitar excessivas oscilações".

O problema é que essas restrições dificilmente funcionam numa economia aberta como a brasileira.

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