Entrevista:O Estado inteligente

sábado, abril 25, 2009

O vento sopra e a luz acende Celso Ming

O programa de incentivo à energia eólica anunciado pelo governo Barack Obama na última quarta-feira faz parte do pacote de ajuda à economia proposto em janeiro (US$ 787 bilhões).



A ideia é suprir até 2030 nada menos que 20% das necessidades de energia do país e criar 250 mil empregos. Para Obama, o país que liderar o mundo na criação de novas fontes de energia comandará a economia global.



Os Estados Unidos já são os maiores produtores de energia eólica do mundo. Os dados da Associação Americana de Energia Eólica (Awea, na sigla em inglês) mostram que, em 2008, o setor tornou disponíveis 8.500 MW, o que aumentou em 50% a capacidade instalada para mais de 25.300 MW. Os americanos ultrapassaram os alemães e são agora os maiores produtores.



Do ponto de vista ambiental, deixaram de ser emitidos 44 milhões de toneladas de carbono (o equivalente a retirar de circulação 7 milhões de automóveis).



Os números são notáveis, mas as fontes de energia renováveis alcançam apenas 3% da produção total de energia elétrica nos Estados Unidos. As termoelétricas a carvão produzem 48,5%. A legislação de alguns Estados americanos continua sendo obstáculo. Somente 28 dos 50 Estados têm leis que impõem metas de obtenção de energia limpa.



Enquanto isso, o green lobby (lobby verde) pressiona os congressistas a acelerar a aprovação de leis que limitem a emissão de gases poluentes - ideia apoiada pelo secretário de Energia, Steven Chu; pela administradora da Agência de Proteção Ambiental, Lisa Jackson; e pelo secretário de transportes, Ray LaHood. Mas o Partido Republicano trabalha contra essas propostas porque as considera caras demais.



O sócio da consultoria Booz & Company Arthur Ramos, especialista em Energia, prevê que o incentivo de Obama produza dois efeitos imediatos.



O primeiro deles é bom. O desenvolvimento da tecnologia nos Estados Unidos deve beneficiar toda a cadeia produtiva do setor, inclusive fora dos Estados Unidos. Como os fornecedores de equipamentos são praticamente os mesmos para todo o mundo, o Brasil poderia pegar boa carona neste novo mercado. É o caso da fábrica de pás Tecsis, que já exporta 100% de sua produção. Seu presidente, Bento Koike, parece confiante: "Temos um diferencial tecnológico que os americanos não têm. Eles precisarão de nossa parceria."



Mas há também o lado ruim: a forte aceleração da demanda de equipamentos para usinas de energia eólica pode provocar uma alta exagerada dos preços no curto prazo.



No Brasil, a geração de energia eólica é insignificante. Não passa de 0,3% da matriz energética. E, no momento, o governo Lula sinaliza outras prioridades: produção de etanol, de biodiesel e a retomada da construção da central nuclear de Angra 3.



No discurso em que Barack Obama falou do incentivo a ser dado à energia eólica, sugeriu também que cada americano trocasse uma lâmpada incandescente por outra do tipo fluorescente, mais econômica. Trocar a lâmpada é fácil, mas mudar o sistema de energia num país que importa quase 4,9 bilhões de barris de petróleo por ano é complicado e vai levar tempo. COLABOROU FILIPE DOMINGUES

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