Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Folia e crise

  por Míriam Leitão e Leonardo Zanelli -
25.2.2009
| 15h00m
Panorama Econômico

Blog Miriam Leitão

Enquanto tantos pulavam, a crise americana piorou muito. Essa, a má notícia a ser dada aos foliões. Não estão funcionando os esforços americanos, e europeus, para evitar o colapso do sistema bancário. Nas últimas horas eles procuraram novos caminhos. Estão repetindo erros: achar que basta pôr mais dinheiro nos bancos e apostar na tecnologia do bad bank, de vender ativos podres.

Aqui no Brasil, o que funcionou na nossa crise foi exatamente o oposto. Apesar de as dimensões serem inteiramente diferentes, há lições a serem tiradas da crise bancária brasileira. Se aqui o Proer tentasse vender os ativos podres e ilíquidos, obviamente nenhum comprador apareceria. Mas para o conjunto formado pelas contas e aplicações dos clientes — os passivos — e os ativos na mesma proporção houve quem aparecesse para comprar. Nos Estados Unidos, eles querem vender os papéis podres e manter os bons ativos no banco que produziu o desequilíbrio. Uma espécie de Proer ao avesso. O curioso é que admitem que, nos pequenos bancos, o FDIC — o Fundo Garantidor dos Depósitos nos EUA — tem feito intervenções dentro da mesma tecnologia de vender os bons ativos.

Há uma complicação no caso da crise bancária americana: não existem instituições fortes o suficiente para serem o apoio das autoridades monetárias no caso do saneamento das grandes instituições. No Brasil, os bancos sólidos absorveram os bancos com dificuldade, depois da devida separação entre os ativos bons e os ruins. Ao adquirir o "banco bom", a instituição pagava ao banco podre, que ficava no Banco Central.

Mesmo com dimensões e situações diferentes, é fácil ver que a ideia do pacote americano, de montar uma empresa em parceria público-privada para comprar ativos podres dos bancos em crise, para desta forma saneá-los, tem pouca chance de funcionar. A outra ideia, de submeter os bancos de mais de US$ 100 bilhões de ativos, os 20 maiores, a um teste de resistência, para ver se podem receber recursos do governo, é tocada ao mesmo tempo em que é atropelada por eles mesmos, com novas injeções de capital no CitiBank.

A declaração conjunta de todos os reguladores — o Fed (o banco central americano), o Tesouro dos EUA, o FDIC, o OCC (órgão de controle da moeda) e o órgão de supervisão econômica — na última segunda-feira, dizendo que os bancos receberiam injeção de recursos públicos, mas continuariam privados, só serviu para manter a instabilidade. Em momentos de crise de confiança, declarações conjuntas costumam ser lidas ao contrário, e a interpretação foi que sim, os bancos serão estatizados, ou nacionalizados, como eles dizem. Até porque, a declaração de que os bancos continuariam privados veio com a informação de que o dinheiro do governo seria transformado em ações de controle.

O problema é que o pacote de resgate do mercado financeiro, anunciado há 15 dias pelo secretário do Tesouro, Timothy Geithner, foi esperado como uma panaceia, e ele propôs um processo pelo qual, com três instrumentos, o governo lideraria, com o setor privado, o saneamento dos bancos. Imediatamente, os economistas formadores de opinião passaram a dizer que nada evitaria a estatização. Geithner propôs um ataque triplo: fundo público-privado para a compra de ativos podres, capitalização dos bancos após um teste de resistência e ampliação do mecanismo de refinanciamento de dívidas pelo Fed. O mercado esperou por detalhes, para ver a funcionalidade dos instrumentos. Os detalhes não vieram. Por isso, a instabilidade continuou.

O presidente Barack Obama abriu as três frentes certas de combate à crise: um pacote para sanear o mercado financeiro, outro para estimular a economia e um novo pacote para ajudar mutuários. O problema é manter as três bolas no ar ao mesmo tempo. Enquanto o saneamento dos bancos não é feito, aumenta a crise na economia real, que derruba mais ainda os preços dos imóveis. E essa queda agrava tanto a crise na economia real quanto a perda de valor dos ativos bancários. O presidente Obama tem que continuar contando com a sua alta popularidade e o seu capital político para injetar confiança de que a economia americana será reorganizada em tempo hábil.

As crises parecem aquelas bonecas russas, as matrioshkas. A cada vez que se tira uma, outra, por dentro, se revela. Só que elas parecem ser maiores, e não menores, a cada nova revelação. Há uma dimensão da crise à qual não se tem dado muita atenção diante da emergência dos problemas bancários. Os fundos de pensão são os grandes proprietários de ações dos bancos. Como as ações viraram pó — ontem, a ação do Citi "subiu" para US$ 2 quando já foi US$ 60 — os fundos estão contabilizando perdas exatamente no momento da aposentadoria dos Baby Boomers (os americanos que nasceram no último surto de crescimento demográfico, nos anos que se seguiram à Segunda Grande Guerra).

Ontem, uma estranha Terça-Feira Gorda, as más notícias se sucediam, apesar da alta da bolsa americana — o Dow Jones subiu 3,32%. A crise se agravou no Japão e na Europa e a China admitiu risco de nova desaceleração da economia. Nos Estados Unidos, novas quedas

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