Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, janeiro 30, 2009

Maldito Estado, maldito mercado- Vinicius Torres Freire


Folha de S. Paulo - 30/01/2009
 

No circo de Davos, cúpula da finança mundial dá mais vexames retóricos sobre a lambança recessiva que criou

"O JP MORGAN ficaria bem se parássemos de falar dessa maldita estatização de bancos. Nós estamos cheios de capital", disse ontem em Davos o presidente do JPMorgan, Jamie Dimon.
Dimon pode, pois, emprestar algum para seus pares e agregados do mercado. Na quarta-feira, eles estavam animadinhos com o rumor de que Barack Obama poderia dar US$ 1 trilhão para encher a burra da banca, em tese vazia de capital. Mas a burra está vazia? Há controvérsia. Jean-Claude Trichet, por exemplo, quer que os bancos voltem a emprestar já.
Se existem oito liberais e meio na França, Trichet é um deles. Preside o Banco Central Europeu. Mas Trichet disse ontem em Davos que os grandes investidores do mundo estão errados em exigir que os bancos amontoem mais capital. Isto é, critica bancos que relutam em emprestar dinheiro, no afã de fortalecer seus balanços e se preparar para mais perdas. Tal atitude, diz o banqueiro central, vai aprofundar a recessão mundial. Em suma Trichet disse que o mercado está errado.
Não é mera questão de opinião. Se os investidores não querem ver bancos emprestando demais, isso significa que venderão ou não comprarão papéis das instituições que teimam em emprestar. Ao recusar os papéis desses recalcitrantes, o mercado derruba seus preços. Logo, na visão de Trichet, os mercados estão dando preços errados para os bancos. Ops. O mercado não faz o preço certo? É Trichet quem sabe o preço? Mas ele não é liberal? Trata-se apenas de um exercício de "persuasão moral"?
Dimon, o do JPMorgan, disse ainda que os bancos fizeram "coisas realmente estúpidas". Mas também xingou a mãe do juiz: "Onde estava o governo? Eles aprovaram todos esses bancos". Governos e reguladores do mercado continuam errando muito, apregoou o banqueiro: "Ainda não vi ninguém reunir as pessoas certas numa sala, fechar a maldita porta e chegar a uma solução".
Mas, enquanto as portas estiveram fechadas, com todas as pessoas erradas do lado de fora (o maldito resto do mundo), Dimon e amigos fizeram as regras do jogo da lambança. Amigos como Henry Paulson, ex-Goldman Sachs e depois secretário do Tesouro de George Bush, notório arrombador de portas regulatórias. Portas arrombadas, aliás, sob Bill Clinton, com a "cheerleadership" de seus secretários do Tesouro, Robert Rubin (ex-Citibank) e Larry Summers, ora conselheiro-mor de Barack Obama e madalena nada arrependida que disfarça o apoio que deu à arquitetura da lambança.
Tony Blair, o "poodle de Bush", estava também num dos picadeiros de Davos. Lá o pessoal discutia "como os valores saíram dos trilhos" e como restaurar a "ética nos negócios". Mas, teoricamente, não há "ética" em economia. Apenas escassez, interesses, incentivos e normas. Alan Greenspan, por exemplo, acreditava nisso. Diz que ficou chocado quando viu que a "disciplina do autointeresse" não funcionou.
Tingida de "preocupação construtiva", a empáfia escarninha ou descarada está com tudo em Davos, o circo dos cavalinhos da propaganda mercadista. No circo do "outro mundo" (é possível?), no Fórum Social de Belém, o pessoal faz pajelança. Isso durante a maior crise do conservadorismo em 60 anos.
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