Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, novembro 13, 2008

VINICIUS TORRES FREIRE Controle de capitais e governo global


Economistas sugerem ao G20 mais governo mundial sobre a finança, limites para fluxos financeiros e outras blasfêmias

CONTROLAR A a livre movimentação de capitais pode ser uma boa coisa. O FMI deve ter mais poder, até para interferir no mundo rico e de modo preventivo.
Deveria ser comandado por uma espécie de G20 bem diverso, no qual ninguém teria poder de veto.
Tais coisas foram propostas por economistas liberais -ou apenas economistas convencionais. Muitos são europeus, é verdade, o que faz alguma diferença. São sugestões que economistas do portal Vox, do Centro para a Pesquisa de Política Econômica, reuniram numa coletânea de 17 textos chamada "O que os líderes do G20 devem fazer para estabilizar nossa economia e consertar o sistema financeiro". Entre os autores há gente como o Nobel Michael Spence, o especialista em finanças Barry Eichengreen, o ex-economista-chefe do FMI Raghuram Rajan etc. O G20 faz uma reunião depois de amanhã, nos EUA.
No pacote está, por exemplo, Guillermo Calvo. Escreve que não adianta elevar as linhas de crédito de emergência para países da periferia mundial se não houver controle de fluxos financeiros a fim de evitar que tais capitais fujam de novo.
Diz mais: "As instituições do novo Bretton Woods devem ser mais tolerantes com o controle da mobilidade de capitais, especialmente quando tais controles se concentram em limitar as ações do setor bancário".
Há três meses, isso soaria como blasfêmia no mundo de Calvo, que dá aula em Columbia, foi economista-chefe do BID, alto assessor do FMI e conselheiro de "reformas" no Leste Europeu e na América Latina.
Rajan, ex-FMI e professor de Chicago, diz que há um diálogo de surdos entre os "países industrializados" (G7) e os "emergentes". O G7 não quer pitacos em seu mundo e acha que as instituições multilaterais (FMI, OMC) devem se ocupar só de corrigir erros econômicos e o mercantilismo dos "emergentes", que têm a opinião inversa, claro.
O economista sugere, então, que se crie um novo FMI, comandado por União Européia (uma cadeira), EUA, Japão, mais 13 membros do G20 e outros quatro países em vagas rotativas. O novo FMI deveria ter poder de fogo de até US$ 3,4 trilhões (mais de dez vezes o atual) para combater crises. Rajan quer mais liberalismo, mas acha que as regras do jogo devem ser decididas por mais gente. Objetivo: evitar que conflitos e crises redundem em mais protecionismo e dirigismo.
Eichengreen escreve que muita gente pede um "regulador global [das finanças]", mas que é "irrealista imaginar que os EUA e qualquer outro país vão entregar a regulação financeira a um órgão internacional". Mas o economista de Berkeley sugere a criação de uma Organização Mundial das Finanças, nos moldes da Organização Mundial do Comércio (que, aliás, mal funciona). Quem quiser que seus bancos tenham acesso ao mercado mundial deverá se submeter a acordos na OMF. Parece doido, mas é sinal de como o clima ideológico, ao menos, mudou. A maioria dos economistas pede mais governo mundial e intensa intervenção para domar a presente crise. Não dá para resumir aqui, mas os textos têm em geral quatro páginas e podem ser lidos de graça em www.voxeu.org/reports/G20-Summit.pdf.

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