Entrevista:O Estado inteligente

domingo, novembro 02, 2008

Taxa zero de juro nos EUA? Edmund L. Andrews *

Uma taxa de juros zero faz pensar em dinheiro de graça ou em alguma promoção da General Motors para a compra de carros. Mas será possível que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) chegue a isso?

Neste momento, já está bem perto. Na quarta-feira, o banco central americano baixou sua taxa dos fundos federais - que os bancos cobram entre si para empréstimos de curtíssimo prazo - de 1,5% para 1%.

Mas, na prática, a taxa flutua ligeiramente em torno de sua meta, enquanto o Fed realiza operações de open market nos mercados financeiros. E, como bancos e instituições financeiras ficaram tão apavorados com o problema dos empréstimos no mês passado, a taxa real dos fundos federais esteve abaixo de 1% nas duas últimas semanas. Na terça-feira, sua média chegou a apenas 0,67%.

Os analistas agora acham que a economia está tão fraca que o Fed terá de reduzir sua meta oficial para zero, se quiser ajudar a economia a sair da crise.

O banco central do Japão baixou a zero sua taxa de juros de referência por cinco anos, de 2001 a 2006. E o fez principalmente para combater um caso persistente de deflação e para reativar o crescimento econômico.

Para alguns analistas, já há indicações de que os Estados Unidos enfrentam ameaça semelhante. Os bancos americanos, como os do Japão, foram tão castigados pelos prejuízos no setor imobiliário que são incapazes ou não querem retomar as operações normais de empréstimos. E, como os preços do petróleo e de muitas outras commodities despencaram nas duas últimas semanas, alguns analistas agora advertem que a deflação poderá ser mais uma ameaça.

Enquanto a taxa dos fundos federais já chegou a 1%, e em muitos dias abaixo mesmo de 1%, o banco central aproxima-se rapidamente do que os economistas definem como "limite zero".

Se a taxa cair mesmo a zero, não significará que o dinheiro deixará de ter custo para consumidores ou empresas. A taxa zero se aplicará somente às reservas que os bancos são obrigados a manter e emprestam entre si. Os clientes ainda terão de pagar algum juro, mas as taxas poderão ser muito baixas para algumas empresas.

A questão concreta para os estrategistas é o que fazer se chegarem à taxa zero e ainda quiserem recuperar a economia. Autoridades do Fed estudaram profundamente a questão. O chairman do Fed, Ben S. Bernanke, fez um discurso que se tornou famoso sobre o tema, em 2002.

Naquele discurso, ele descreveu várias opções. A mais simples seria que o Fed começasse a comprar títulos do Tesouro com vencimentos mais longos. A compra desses títulos contribuiria para puxar os preços para cima e para baixar as taxas de juros de prazo mais longo.

Se isso não funcionar, o Fed poderia começar a comprar títulos da dívida de colocação privada, como bônus corporativos. Na realidade, o Fed imprimiria mais dinheiro e o injetaria na economia. Um excesso de dinheiro provocaria nova rodada de inflação e talvez mais uma bolha de ativos. Mas a inflação japonesa nunca deslanchou.

Depois de cinco anos, o Banco do Japão elevou cautelosamente a sua taxa para 0,5%. Na semana passada, ela foi reduzida a 0,3%.

*Edmund L. Andrews é colunista do The New York Times

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