Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, novembro 27, 2008

PODCAST Diogo Mainardi 27 de novembro de 2008

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O quintal da Casa Branca

Pense um minutinho só: o que aconteceria se Lula mudasse a lei para favorecer diretamente, digamos, a Andrade Gutierrez, maior doadora de sua campanha presidencial? Pense um minutinho só: o que aconteceria se Lula aparelhasse a Anatel para, digamos, autorizar um negócio nebuloso da Oi, que encheu seu filho de dinheiro, comprando sua empresa de fundo de quintal? Eu sei perfeitamente o que aconteceria: a esta altura, a gente já estaria nas ruas, com o rosto pintado de preto, denunciando o descarado conflito de interesse do presidente da República e pedindo uma CPI no Congresso Nacional, porque um abuso desses só poderia ser admitido num regime arbitrário como o da Somália ou do Zimbábue, e o Brasil é infinitamente mais legalista e ordeiro do que uma Somália ou um Zimbábue. De fato, algo assim jamais se verificaria entre nós.

E nos Estados Unidos? O que está acontecendo nos Estados Unidos? Na semana passada, Barack Obama anunciou o nome dos membros de seu time de economistas. O mercado comemorou com uma arrancada entusiasmante. Eu, pelo menos, me entusiasmei. Porque, seguindo um conselho de Descartes – ele sempre foi o meu pensador predileto –, eu tinha acabado de aplicar todas as minhas economias na bolsa de valores. Descartes só me recomendou o seguinte: nada de empresas estatais. Foi o que eu fiz. Deu certo. Depois de dois dias de ganhos em minha carteira acionária, já comecei a pensar até mesmo em parar de trabalhar. Alguém aí, do outro lado da linha, quer dinheiro? Pode contar comigo. Eu dou.

Mas há um fator que incomoda um bocado nesse time de economistas de Barack Obama: é o fator Rubin. De Robert Rubin. Depois de sair do ministério da Fazenda de Bill Clinton, ele se tornou diretor do conselho do Citigroup. Nos últimos anos, participou de todas as manobras desastradas do banco, que agora terá de ser resgatado pelo Tesouro dos Estados Unidos. Mais precisamente: 45.000.000.000 de dólares entregues diretamente ao banco e outros 306.000.000.000 de dólares oferecidos para garantir seus depósitos. O galho é o seguinte: Robert Rubin é o José Dirceu do Partido Democrático, tendo apadrinhado a carreira dos principais assessores econômicos de Barack Obama, como Timothy Geithner e Lawrence Summers. Os mesmos assessores que agora, com o dinheiro dos contribuintes, podem salvar seu banco, o Citigroup, da quebradeira. Steven Pearlstein fez um artigo sobre o assunto no Washington Post. Thomas Friedman fez outro artigo sobre o assunto no New York Times. Leia os dois. Está tudo lá. E leia também o que diz um editorialista de esquerda, Robert Scheer, no The Nation.

Se as coisas continuarem assim, aposto que Malia, uma das filhas de Barack Obama, acabará abrindo uma empresa de jogos eletrônicos no fundo do quintal da Casa Branca.


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