Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, novembro 03, 2008

PAULO GUEDES - Entre a criatividade e a regulamentação

Se ainda não entendeu o que ocorreu no mercado imobiliário americano nos últimos anos e está confuso sobre o estouro da bolha das ações de tecnologia no final dos anos 90, você precisa ler ‘John Maynard Keynes’, de Hyman Minsky (1975)”, anuncia a capa desta nova edição (2008) de uma interessante reinterpretação da “Teoria geral do emprego, dos juros e da moeda” (1936), de Keynes.

“Crises financeiras periódicas são uma parte inevitável da história de crescimento do capitalismo. A destruição criadora de Schumpeter se aplica ao mundo das finanças. Durante os bons tempos, a maior parte dos empreendimentos é bem-sucedida. Isso encoraja o endividamento excessivo e a redução das margens de segurança. Longos períodos de crescimento engendram crescente fragilidade financeira.

As inovações tornam-se mais complexas, criando-se sucessivas camadas de dívidas. Há sempre uma ameaça de falências em bola-de-neve nessa longa cadeia de compromissos financeiros. Torna-se inevitável o resgate do sistema bancário pelos bancos centrais.

Passos previsíveis dados por empreendedores, banqueiros, financistas e investidores disparam essa instável dinâmica. E a cada vez que as intervenções dos bancos centrais são bem-sucedidas, as arriscadas práticas financeiras são validadas — e inovações ainda mais ousadas são encorajadas. A fragilidade financeira torna-se uma tendência estrutural, desembocando em crises cada vez mais severas.” Esse é o alerta de Minsky.

Em “Estabilizando uma economia instável” (1986), Minsky aprofunda sua provocativa hipótese da instabilidade financeira do capitalismo. “O período bemsucedido de crescimento da economia leva à aceitação de práticas cada vez mais agressivas. A flexibilidade dos mecanismos de crédito é necessária à dinâmica capitalista, mas pode se tornar uma força altamente destrutiva. As instituições financeiras inovam e inventam em resposta às necessidades dos empreendimentos.

E as autoridades são sempre ‘surpreendidas’ pelas novas práticas dos mercados. O ritmo das inovações financeiras e o grau de aceitação de riscos aumentam à medida que as autoridades evitam as crises menores. A estabilidade desestabiliza. As inovações ampliam a liquidez, de modo a tornar o sistema mais vulnerável. A intervenção dos bancos centrais valida as inovações, estimulando a persistência das novas e arriscadas práticas. As crises financeiras tornam-se mais freqüentes e mais severas.” Adverte Minsky: “Todas as vezes que o banco central intervém, está protegendo instituições e práticas de financiamento imprudentes. Nada garante que isso não ocorrerá de novo sem uma regulamentação adequada.” Mas reconhece: “O capitalismo sem as práticas financeiras que levam à instabilidade pode ser menos inovador e expansionista. Diminuir a possibilidade de um desastre financeiro pode muito bem inibir as fagulhas de criatividade do sistema capitalista.”

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