Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, novembro 21, 2008

Obama joga a rede Merval Pereira

NOVA YORK. Desde o início desta semana, os cadastrados na campanha de Barack Obama estão sendo estimulados a fazer doações ou até mesmo a se apresentarem como voluntários para ajudar as vítimas dos incêndios na Califórnia. A mensagem diz que, durante a campanha, ficou comprovado que, quando pessoas comuns agem em conjunto, fazem uma grande diferença. O aparato tecnológico montado pela campanha do democrata começa assim a ser utilizado para a mobilização da sociedade civil, uma espécie de convocação para o serviço voluntário que Obama havia dito seria a “causa central” de sua Presidência

O site de Obama é uma grande rede social que tem mais de um milhão de cadastrados, gerou 750 mil voluntários na campanha e oito mil grupos de afinidades, com militantes “obamistas” t r o c a n d o i n f o r m a ç õ e s .

Quando Obama disse, em sua primeira entrevista coletiva, que a escolha do primeirocachorro, uma tradição da Casa Branca, era o assunto mais falado no seu site, estava demonstrando que não apenas acompanha as discussões como as considera importantes.

Também a mensagem que passou a enviar pelo You Tube é a marca da comunicação transparente que pretende imprimir à sua gestão.

Os assessores usam o sistema Twitter de mensagens instantâneas, e interagem com as comunidades no Orkut, Facebook e MySpace.

A campanha de Obama, comparada a uma empresa de internet, contou com a ajuda voluntária de especialistas nas novas tecnologias, e agora começará uma segunda etapa, a de mobilizar a sociedade civil.

Obama está sendo um pioneiro em “socializar” a política, tirando-a do plano restrito dos profissionais da área para compartilhá-la com seus eleitores e militantes.

Este é um conceito totalmente novo de fazer política, que era, segundo D a v i d S i n g h G re w a l e m “Network Power”, a única atividade que continuava restrita ao plano nacional, q u a s e q u e p r o v i n c i a n a diante de um mundo que tem todas as suas principais manifestações globalizadas: finanças, cultura, comportamento.

O sucesso da candidatur a d e B a r a c k O b a m a n o mundo deve-se a essa globalização da comunicação, e ao sentimento generalizado de que era preciso uma mudança no governo dos Estados Unidos depois de oito anos da Era Bush.

A noção de sociedade civil teve uma inversão completa de sentido até os dias atuais, devido às novas tecnologias.

Até o século XVII, sociedade civil definia a sociedade politicamente organizada. Depois da Revolução Francesa, passou a definir a sociedade sem o Estado.

O cientista político francês Dominique Colas, do Instituto de Estudos Políticos de Paris, reforça a interpretação política da sociedade civil atual dizendo que ela designa “a vida social organizada segundo sua própria lógica”.

Nunca é demais repisar os conceitos do sociólogo Manuel Castells. Esse moderno conceito, que destaca a capacidade de os indivíduos assumirem seus próprios destinos, define o que Castells, da Universidade Southern California, dos Estados Unidos, classifica de a “sociedade civil global” que estaria se formando, uma sociedade que, devido aos novos meios tecnológicos disponíveis, poderia existir “independentemente das instituições políticas e do sistema de comunicação de massas”.

Na busca de preencher “o vazio de representação”, essa nova sociedade tenta se impor através de mobilizações espontâneas, como as que aconteceram durante a campanha de Obama. Castells vê muitos “significados políticos” no potencial da internet quando se transforma em um meio autônomo de organização, independente de um comando central de controle: criaria “um espaço público como instrumento de organização e meio de debate, diálogo e decisões coletivas”.

Para Castells, a sociedade civil é o espaço intermediário entre o Estado e os cidadãos, e seria um canal para a transformação do Estado a partir da pressão organizada da sociedade, “sem limitar o processo democrático representativo a eleições e à política formal”.

Utilizando toda essa ferramenta tecnológica para não apenas arrecadar fundos de campanha, abrindo mão do financiamento público, mas também para estimular a mobilização de grupos que normalmente não participavam da política, como os jovens e as minorias, Obama conseguiu sobrepujar diversos obstáculos que o colocavam como um perdedor natural diante da candidatura preferida da senadora Hillary Clinton.

D e p o i s , n a c a m p a n h a propriamente dita, conseguiu neutralizar os ataques e divulgar suas idéias através da vasta rede que montou.

Agora, vai utilizá-la para conseguir a participação ativa da sociedade em sua Presidência, num momento de crise financeira que necessitará de solidariedade e trabalho conjunto.

De 12 a 15 de outubro, realizou-se aqui nos Estados Unidos a Conferência Internacional sobre Traumatismo Cerebral e suas conseqüências. Entre os 15 cientistas convidados, da União Européia, Canadá, Estados Unidos, havia apenas uma brasileira, a diretoraexecutiva da Rede Sarah, Lúcia Willadino Braga.

Os debates aceleraram a decisão por parte do Congresso Americano de desenvolver uma política pública relativa ao assunto, face o grande número de jovens feridos de guerra com o qual os Estados Unidos se deparam no momento.

O Congresso Americano, tendo criado uma força de trabalho para enfrentar o problema, solicitou formalmente a participação da Rede Sarah na elaboração das políticas que permitam soluções para a integração dos jovens vítimas de traumatismo no crânio.

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