Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, novembro 10, 2008

O pré-sal George Vidor


O Globo - 10/11/2008

Em face da crise financeira mundial e da queda de preços de muitas mercadorias, entre as quais o petróleo, tem gente no mercado apostando que a produção prevista para a camada do pré-sal na Bacia de Santos poderá permanecer por um tempo na prateleira, aguardando melhor oportunidade. Mas, na verdade, a viabilidade do pré-sal, aos preços atuais do petróleo, depende de um teste.

Trata-se de um teste de longa duração nos poços já perfurados para se saber exatamente qual a produtividade de cada um. Dependendo do volume extraído por dia (dez mil ou vinte mil barris, por exemplo), e se a produção se mantiver estável durante o teste, ficará definido o número de poços que irão se conectar a uma plataforma com capacidade diária de cem mil barris/dia, prevista para o projeto piloto do campo gigante de Tupi. Esse número de poços é que determinará o valor do investimento para se desenvolver o primeiro campo na camada de pré-sal da Bacia de Santos, calculando-se então o custo de produção e o retorno provável do capital.

Ou seja, antes do teste de longa duração, nenhuma afirmação sobre o pré-sal poderá ser categórica.

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, acha que o órgão acertou na mosca ao suspender a remuneração da parcela de depósito compulsório liberada pelas autoridades para que os bancos normalizem o crédito. Enquanto os recursos estavam sendo remunerados, os bancos preferiam não se mexer. Agora precisam buscar remuneração para esse dinheiro, e assim os recursos começam a circular no sistema financeiro. O novo desafio será a retomada de financiamentos para pessoas que ainda não têm carro e desejam adquirir um automóvel. As financeiras passaram a restringir esse tipo de crédito, pois o comprador geralmente não têm condições de dar uma entrada que passe de 10% do valor do veículo. Quem já é proprietário sempre pode dar o carro antigo de entrada, reduzindo a parcela a ser financiada.

A pressão sobre o câmbio começou a diminuir porque quem precisava de dólares para cobrir perdas com operações financeiras lá fora já o fez em grande parte. Mas ainda ficou um vácuo no mercado, deixado por instituições como o quebrado banco americano Wachovia, que tinha linhas de financiamento de curto prazo para o comércio exterior brasileiro. E esse crédito infelizmente não poderá ser renovado. Como mesmo na natureza econômica não existe vazio, de alguma maneira esse espaço será ocupado por outras instituições, já que as linhas de financiamento ao comércio exterior são uma garantia firme de receita para os bancos, pois o risco da operação é bem pequeno.

A taxa Libor de três meses (que regula o mercado interbancário europeu) já caiu, mas para as empresas é importante que comece a baixar também a Libor de um ano.

Até bem pouco tempo sobravam dólares no Brasil, mas a moeda estrangeira ficará mais escassa depois da crise financeira internacional. Assim, é hora de o Brasil reforçar suas fontes de receita no exterior. Algumas podem ter impacto favorável imediato no balanço de pagamentos se o país desburocratizar processos. É o caso da exigência de visto para americanos que visitam o país. O Brasil adota a regra da reciprocidade: ou seja, os cidadãos de países que exigem visto para entrada de brasileiros precisam cumprir o mesmo ritual para vir aqui.

É uma questão legal, mas que pode ser desburocratizada. O Chile, por exemplo, permite que o visto seja concedido no aeroporto de desembarque - e para tal o viajante deve previamente enviar informações (agora com a internet, nem mais o correio é necessário) e pagar a taxa.

Isso facilitaria o processo e levaria mais americanos a visitar o Brasil, ainda mais que há agora novos vôos entre o país e os Estados Unidos.

A comissão de turismo da Câmara dos Deputados já aprovou essa proposta. No entanto, parece que o Itamaraty torce o nariz para tal desburocratização. Dizem as más línguas que é por causa da garantia de receita lá fora (US$17 milhões só nos Estados Unidos), que permite aos consulados respirar financeiramente, sem ficar na dependência de Brasília remeter recursos.

A Starfish Oil começou a perfurar poços na Bacia do Recôncavo com uma sonda importada dos Estados Unidos, que tem capacidade para atingir 3.600 metros de profundidade. Além de poços exploratórios, a sonda poderá perfurar poços produtores nos campos terrestres já descobertos nas bacias do Recôncavo e de Alagoas-Sergipe, especialmente do Campo de Guanambi, em consórcio com a Petrobras. A Starfish é a segunda maior companhia brasileira independente de exploração e produção de petróleo.

A previsão dos acionistas é que talvez a Aracruz precise trabalhar cinco anos para digerir completamente o impacto causado pelas perdas com operações de derivativos no mercado de câmbio. Nesse período, a empresa terá que rever o cronograma de seus investimentos. A Veracel 2, no Sul da Bahia, ainda nem começou, mas no projeto de Guaíba (Rio Grande do Sul) já foram investidos US$600 milhões, que é quase um ponto de não retorno.

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