Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 15, 2008

CELSO MING Missão complicada

Missão complicada

Celso Ming

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Como tanta coisa nessa crise, fica difícil prever a reação imediata dos mercados ao que vierem a decidir os chefes de Estado do Grupo dos 20 reunidos em Washington para examinar uma saída para a encalacrada em que está metida a economia global.

Tanto pode haver comemoração como novo desastre. Está tão generalizado o descrédito sobre a reunião que qualquer anúncio positivo poderá ser bem-vindo. Mas pode ocorrer o contrário. Pode prevalecer a percepção de que os 20 mais poderosos do mundo não sabem o que fazer.

Independentemente dos resultados, convém examinar duas das propostas que podem ser encaminhadas para decisão. A primeira é criar um organismo multilateral que supervisione as 30 ou 40 maiores instituições financeiras globais de forma a bloquear na origem qualquer contágio. A outra é conceder mandato a uma instituição multilateral para advertir o mundo quando uma bolha estiver em formação.

A idéia de uma instituição para xerifar os maiores bancos do mundo esbarra em três problemas. O primeiro é o de que obrigaria os Estados Unidos a abrir as contas dos seus bancos a uma instituição composta por estrangeiros. Não é o tipo de coisa que as autoridades americanas estão dispostas a admitir.

O segundo é o de que grandes bancos não são necessariamente os que produzem as maiores encrencas. O Lehman Brothers nem banco comercial era e não passava do quarto maior banco de investimento americano. O Kaupthing, da Islândia, possui dimensões modestas e, no entanto, aprontou um pandemônio na Alemanha, Inglaterra e Holanda. O inglês Northern Rock é apenas uma sociedade de crédito imobiliário, mas provocou o que se sabe. Supervisionar só um pedaço do território financeiro seria como limitar a manutenção da aeronave às turbinas e deixar de fora o resto, como, por exemplo, o sistema de freios reversos. A TAM tem uma história sobre isso.

Terceiro obstáculo, muitas instituições não bancárias têm capacidade de provocar uma catástrofe sistêmica tanto quanto um banco grande. É o caso dos bancos de investimento, fundos de hedge, seguradoras e sociedades de crédito imobiliário. É para deixá-los de fora?

A outra proposta é criar um sistema de captação de crises em formação. Algo como a rede de sensores na Ásia, que detecta a ocorrência de tsunamis. A primeira idéia é a de que o Fundo Monetário Internacional (FMI) se encarregue disso.

O diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, rechaçou a proposta no Financial Times, de Londres: "Não penso que possa haver um sistema mecânico em que luzinhas fiquem piscando e, em algumas vezes, passem instantaneamente do verde ao vermelho, país por país."

O Washington Post apresentou um segundo argumento contra: "Os economistas não são bons nas previsões econômicas." Nem o Federal Reserve (banco central americano) conseguiu detectar a atual bolha financeira. E, pode-se acrescentar: os economistas estão tão desacreditados que não convenceriam ninguém, muito menos os legisladores, se previssem corretamente a formação de grandes crises.

Enfim, a tarefa de montar novo esquema de governança mundial do sistema financeiro não é tão simples, como alardeiam alguns líderes europeus.

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