Entrevista:O Estado inteligente

domingo, novembro 30, 2008

Augusto Nunes Sete Dias

TSE não concorda com TSE

Paulo Pereira da Silva, ou Paulinho da Força, recebeu na tarde de quarta-feira uma notícia ruim e outra, boa. O deputado federal do PDT foi o destinatário da ruim: na reunião da Comissão de Ética da Câmara, o colega Paulo Piau (PMDB-MG), relator do caso que vincula o parlamentar paulista a pilantragens no BNDES, propusera à Comissão de Ética da Câmara a cassação do seu mandato. Paulo Pereira da Silva repetiu que é inocente e fechou a cara.

A boa notícia contemplou o presidente da Força Sindical: estava confirmado o jantar na Granja do Torto que incluía seu nome na curta lista de convidados. Paulinho da Força contou aos parceiros ao lado que passaria algumas horas com Lula naquela noite e abriu um sorriso.

Lula nunca foi de abandonar um companheiro no caminho, garantiram desde sempre velhos companheiros. Depois da vitória em 2002, o presidente tem insistido em mostrar que também não abandona delinqüentes aliados a caminho da cadeia. Seja qual for o pecado, bandidos de estimação são liminarmente absolvidos pelo Grande Pastor.

É provável que, quando decide juntar em torno da mesa mais de 15 bocas, Lula faça à mulher a pergunta formulada freqüentemente pela gente comum. "Adivinhe quem vem para jantar?" A primeira-dama Marisa jamais errará se repetir a mesma resposta: "Pelo menos uns três ou quatro vigaristas".

Lula ficou três horas em companhia de Paulinho da Força e outros donatários das capitanias sindicais. Foi esse o tempo que gastou, no mesmo dia, para sobrevoar a bordo do helicóptero parte da área de Santa Catarina devastada por inundações. "A maior tragédia destes seis anos de governo" mereceu tanta atenção quanto a companheirada.

Paulinho acordou feliz com o jantar. Ficou ainda mais contente ao saber que a Comissão de Ética adiou a votação do parecer de Paulo Piau. E embarcou na euforia com a grande notícia da noite: o governador paraibano Cássio Cunha Lima foi autorizado pelo Superior Tribunal Eleitoral a ficar no cargo de que fora afastado pelo próprio TSE.

Se o país fizesse sentido, todas as ruas e praças de todas as cidades seriam ocupadas por milhões de brasileiros à caça de explicações para dois enigmas. Como pode um tribunal emitir uma ordem de despejo e, cinco dias depois, proibir que seja cumprida? E o que vai pela cabeça do ministro Ricardo Lewandowski, que no dia 20 votou pela cassação do governador no TSE, negou no dia 26 o recurso encaminhado ao STF pelo PSDB e, no dia seguinte, de volta ao TSE, articulou a vitória do tucano da Paraíba por 5 votos a 2? O Brasil já não se espanta com nada.

Quando acionou aquela fábrica de cheques ilegais, Cunha Lima deveria ter assinado uma ficha de inscrição em qualquer partido da aliança governista. Se fizesse isso, teria hoje o presidente como testemunha de defesa. Talvez tenha confiado demais na clemência das instâncias superiores do Judiciário.

Os doutores dubitativos precisam liqüidar o assunto o quanto antes. Logo estarão lidando com o sucessor José Maranhão, senador pelo PMDB. Ele luta por Lula. E luta para escapar de oito processos na Justiça Eleitoral.


Bacharel derrapa na equivocidade


O advogado Nélio Machado fez uma pausa na discurseira, voltou-se para a câmera do Jornal Nacional, caprichou no olhar 171 e comunicou à nação: na hora certa, vai provar que o juiz e o procurador do caso Satiagraha, ansiosos pela punição de Daniel Dantas, cometeram numerosas "equivocidades". Como agrediram a lei, argumenta, devem ser afastados do caso. Decerto imaginou que equivocidade significa, em juridiquês, erro, equívoco. Errou. Equivocou-se. Existem até equivocação e equivocabilidade, mas não equivocidade. Como o doutor agrediu o português, podem argumentar o juiz e o procurador, o bacharel é que merece ser afastado do caso.

A seita que não ousa dizer seu nome


Oficialmente, o único brasileiro comunista é Oscar Niemeyer. Com a serenidade de quem está chupando um chica-bon, diria Nelson Rodrigues, o inventor de Brasília odeia o imperialismo ianque, chora o fim da União Soviética, celebra Fidel Castro, aplaude qualquer napoleão de hospício que hostilize os EUA com bombas reais ou retóricas, acha que democracia é coisa da elite reacionária, crê na imortalidade do marxismo-leninismo e na breve ressurreição do socialismo, avisa que o capitalismo está agonizante e que o povo (e a lavoura) serão salvos pela ditadura do proletariado. Milhares de nativos pensam, falam e agem exatamente como Niemeyer. Mas juram que não são comunistas.

São apenas militantes do PT, garantem os mais ousados. Ou nem isso, disfarçam os revolucionários imersos na clandestinidade, camuflados por codinomes e em ação na internet. "Não sou ligado a nenhum partido, mas...", começam as mensagens dos comunistas que não ousam dizer seu nome aos lacaios da direita golpista.

Alguém precisa contar-lhes que a ditadura militar acabou. A imagem do Brasil no exterior não é lá essas coisas. Vai piorar mais um pouco se algum jornalista gringo revelar ao resto do mundo que o País do Carnaval produziu a versão-sapucaí dos japoneses que, enfurnados em ilhas do Pacífico, seguiam fuzilando aviões de carreira 30 anos depois do fim da guerra.

Muito barulho por quase nada


Entre o início de 2003 e o fim de 2004, a Polícia Federal fez 39 operações, a maioria batizada com nome de cobra. Impressionada com os estragos produzidos por anacondas e sucuris, a coluna quis saber do ministro Márcio Thomaz Bastos quantos suspeitos foram investigados, quantos foram presos, quantos foram processados e quantos seguiam na cadeia. As respostas nunca vieram. Como o ritmo das operações ficou tão intenso que a PF já usa nome estrangeiro na certidão de nascimento, o ministro Tarso Genro está convidado a desfazer as mesmas interrogações de janeiro de 2005. E a reler o fecho daquela nota: se tudo for só barulho, basta o Carnaval.

Liberdade para os escravos do povo


Engaiolado por impiedosos espancamentos do Código Penal, o notório Jerominho quase perdeu o mandato na Câmara Municipal por excesso de faltas. Salvou-o a colega Cristiane Brasil, filha de Roberto Jefferson e mãe da idéia, apadrinhada pela mesa diretora, de retocar o regimento interno com uma esperteza: "Será compulsoriamente licenciado o vereador que permanecer preso por prazo superior a 31 dias". Eduardo Paes nomeou-a no mesmo dia secretária de Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida. Vão acabar redigindo em parceria uma Lei do Vereador Sexagenário. Nenhum escravo do povo será preso depois de completar a dezena dos 50.

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