Entrevista:O Estado inteligente

domingo, outubro 26, 2008

VINICIUS TORRES FREIRE O inferno escancara outra porta



Por que o Ibovespa derrete? Crise vira crash de moedas, o que vai fazer o real e ativos do país apanharem ainda mais

SE A BOLSA de São Paulo fechar o mês no baixo nível em que estava na sexta, outubro terá sido o fim do pior bimestre, trimestre e semestre do Ibovespa desde 87 -desde quando se dá para levar a Bolsa daqui mais a sério e o ano em que ocorreu um grande e inócuo crash da Bolsa de Nova York. Até setembro, as crises mexicana de 95, asiática de 97 e russa de 98 ainda lideravam o ranking do desastre do Ibovespa (afora casos excepcionalmente loucos, como a queda que se seguiu ao confisco de Collor, em 90). E o pior não passou.
Isso não quer dizer, é óbvio, que o pobre colunista tenha alguma idéia precisa de para onde a Bolsa vai (caso em que não seria, pois, um pobre colunista). Mas as portas do inferno financeiro que se abriram na semana passada ainda soltam fogo.
Grandes fundos de investimento de risco e de gente rica ("hedge funds") estão caindo aos pedaços. A corrida para sacar ou pedir saques desses fundos se intensificou nesta semana. Os fundos também precisam oferecer mais garantias para os empréstimos que tomaram a fim de alavancar seus negócios. Os sinais de recessão e o aumento de incerteza e das perdas apenas ajudam a provocar uma liquidação ainda mais intensa de negócios antes rentáveis e de risco tolerável em moedas da periferia mundial (reais, rands sul-africanos, wons coreanos, dólares australianos etc.). Trata-se de uma liquidação que, desde junho, envolve entre uma e duas centenas de bilhões de dólares por mês (a estimativa varia de acordo com o relatório financeiro que analisa o caos).
"Hedge funds", entre outros, e os próprios japoneses tomavam dinheiro emprestado em sua moeda (ou usavam suas poupanças) para investir em negócios de moedas exóticas (Bolsas, commodities, papéis privados e de governos que pagam juros altos, como o brasileiro). Isso se chama "carry trade", no jargão (se financiar em moeda de baixo risco e de juros baixos e investir em ativos mais arriscados e rentáveis).
A nova rodada de liquidação mundial de ativos, intensificada pela crise bancária euroamericana, derrubou as moedas periféricas e começou a fortalecer o iene. A desvalorização dos periféricos causa perdas adicionais no "carry trade", o que provoca novas rodadas de liquidação de negócios. Resumo da ópera: em 13 anos, o iene japonês nunca esteve tão valorizado diante do dólar (e o dólar bate as demais moedas).
Como o dólar é a moeda de liquidação de quase todos os negócios mundiais, o dinheiro americano também é muito procurado (entre outros motivos). De resto, como se suspeita de que haverá corte forte de juros na Europa (e como as taxas americanas e japonesas não têm muito mais como cair), também se vendem libras e euros. Está havendo um crash no mercado mundial de moedas. Nessa dimensão, esse colapso monetário é uma crise nova (desde que as moedas passaram a flutuar loucamente desde 1970).
Essa liquidação de negócios em moedas periféricas vai continuar.
Isso vai ajudar a quebrar empresas e vários países "emergentes" com as contas externas em desordem, os quais já fazem fila no FMI. Isso vai colocar mais fermento na crise. O real vai apanhar muito, muito ainda.
E, por tabela, a Bolsa também.

Arquivo do blog