Entrevista:O Estado inteligente

domingo, outubro 26, 2008

Jogo por jogar Folha de S.Paulo EDITORIAL,

Eleição municipal desfaz miragem da conversão de popularidade alheia em votos, mas não descarta papel de Lula em 2010

A CONVERSÃO da popularidade do presidente Lula em votos reais, a chamada "transferência", figurou entre os temas mais debatidos nas eleições municipais que se encerram hoje. Dizia-se que o apoio de um presidente com 64% de aprovação elegeria até um poste.
Conforme assenta a poeira, já se pode dizer que depende do poste, da cidade onde se planeja elegê-lo e da conjunção de forças locais, todas orientadas pelo horizonte de 2010. Nada em política é tão unidimensional quanto faz supor a tese da transferência.
Isso já ficara evidente no primeiro turno. Embora o PT tenha aumentado seu número de prefeituras em 40%, foram poucas as vitórias em grandes centros, como Recife e Fortaleza.
Lula sofreu reveses notáveis. Um deles foi a ultrapassagem de Gilberto Kassab (DEM) sobre a petista Marta Suplicy em São Paulo, tendência que pode confirmar-se hoje. Outro, a derrota constrangedora em Natal, campanha em que o presidente se engajou pessoalmente.
No que respeita ao segundo turno, um cruzamento de dados do Datafolha contribui para relativizar a miragem do poste ungido com popularidade. Em cinco grandes capitais onde haverá nova rodada, a influência presidencial parece restrita, a julgar pela pequena divergência entre as intenções de voto na população e aquelas de eleitores que avaliam positivamente o governo federal.
Tome-se o caso de Salvador, onde Lula tem avaliação recorde (68% de "ótimo" e "bom"). Entre os que o apóiam, 49% votarão no peemedebista João Henrique Carneiro (contra 50% no geral do eleitorado) e 46% no petista Walter Pinheiro (40% no geral).
Margens similares de variação nos cruzamentos se observam no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte. Já em São Paulo e Porto Alegre, as candidatas petistas galgam 14 e 15 pontos percentuais de vantagem entre os que avaliam bem o governo federal. Nestes casos, parece pesar mais na divergência a polarização entre petismo e antipetismo.
Há, portanto, muito mais fatores em operação, na decisão do voto, do que o apoio de Lula. Antes de mais nada, o panorama parece ter mais a ver com a chamada onda continuísta, de prefeitos com cofres cheios e bem-avaliados reeleitos ou elegendo prepostos. Uma bonança, agora, ameaçada pelo contágio da crise financeira global, é bom lembrar.
O que se observa nesta eleição, ao menos nas grandes capitais, é uma guerra de posições que mobiliza ministros, governadores e prefeitos de olho nos pleitos estaduais e presidencial de 2010. Seria precipitado extrair deste pleito municipal, contudo, a conclusão de que Lula não transferirá votos e popularidade para seu candidato em 2010.
O jogo é outro, noutro campo e entre equipes cuja escalação apenas começa a definir-se.

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