Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 30, 2008

MILLÔR


O homem é o único animal que cuida
bem do animal que vai comer

 

DUAS NOTAS

PRIMEIRA

Burocracia, esse sistema de poder estatal, fascista por princípio, nazista na execução, decidiu, aqui no Rio, que o cidadão que não bebe deve ser punido por causa do cidadão que bebe. Quer dizer, eu, que bebo pouco, só o que comporto, vou ser punido pelo Jaguar (Confesso que Bebi), apologista da vinhaça, do raposear, da libação, da borracheira, da carraspana, enfim, da boca líquida – eia, Baco!

E pois, deram os burocratas ao guardinha da esquina, semi-alfabetizado pela educação (se os universitários e os formadores de opinião são o que são, imagina o guarda), fraco pela desnutrição, ideologizado pela corrupção lá de cima ("Ilegal, e daí?"), deram a ele poder de fogo absoluto. Um bafômetro (coisa nojenta no nome e na prática) e otoridade para deter qualquer automobilista, qualquer um, aquilo que os franceses chamam de todo mundo e seu pai. E tomar, do que se recusar a pagar a pequena multa de novecentos e quarenta e cinco reais e perder a carteira, se não tiver 100 trocados. Pois, humano como qualquer Cacciola, o guardinha vai preferir resolver o negócio in loco. E não esperem eu dizer que nem todo guarda leva o seu, que há exceções, como escrevem, precavidamente, meus colegas de profissão – entre os quais também há exceções. Na minha precária experiência ninguém é honesto às 3 da manhã ganhando pouco e podendo muito.

Ah, e repito: tenho imenso desagrado por slogans como essatolerância zero, que na verdade quer dizer intolerância 100. Como tenho pelo constante lulismo semi-árido, que, sem demagogia, é um fértil semi-úmido.

Então estamos assim: sou médico, tomei duas taças de vinho com uns amigos, e mesmo se não tomei, posso ser detido na esquina pra que me testem e eu me explique enquanto, à minha espera, um cara inteiramente sóbrio morre do coração.

E paro por aqui, deixando uma sujestão. Por que apenas não proibir os carros de, entre as 11 da noite e as 5 da manhã, andar a mais de 50 quilômetros? Fora dessas horas não tenho notícia de bêbado dirigindo adoidado. E nessas horas há pouco tráfego. Limitado a 50 quilômetros o cidadão não se sentirá cerceado. Estará indo mais depressa do que na "hora do movimento". E atravessará a cidade em meia hora.

Mas, e onde é que fica o poder do "estado"?

 

SEGUNDA

E já que eu hoje estou tão sujestivo, aqui vai outra sujestão (é com jota mesmo, vocês não leram errado).

Como se viu no resultado das Olimpíadas, que no Brasil virou Olim-piadas, quem ali ganhou alguma coisa pra nós foram as mulheres. Por isso foram cantadas em prosa e verso e videochats por todas as mídias de plantão, utilizadas por comunicadores, feministas desde garotinhos. Os machões – não sei se estou certo quanto à qualificação –, como todos viram, caíram de bunda no chão.

Daí minha segunda sujestão. Vai pros comentaristas, críticos, divulgadores e simples aduladores, que não sabem se referir a nenhum quadro preto com risca azul senão como revolucionário, a nenhum filme antigo que nunca ninguém viu e agora é exibido em cópia invisível, como revolucionário, a uma baranga ou mocréia como antiga gostosa revolucionária, é a esses que aviso logo – minha sujestão, esta sim, é REVOLUCIONÁRIA.

A CBF deve colocar na nossa Seleção, imediatamente, em lugar de Ronaldinho Gaúcho e Diego, as intrépidas Marta e Cristiane. Nada nos estatutos da Fifa proíbe mulher em time de homi. Nem podia prever.

Esta é uma sujestão que o mulherio deve apoiar com entusiasmo. A derradeira conquista do feminismo.

Afinal elas já são de prata. Eles só de bronze.


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