Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 30, 2008

Celso Ming,Melhor do que o previsto



celso.ming@grupoestado.com.br


Já se viu que os países avançados não estão mergulhados em profunda recessão como tanto se dizia.

No segundo trimestre, o PIB americano cresceu ao ritmo surpreendente de 3,3% ao ano. Ainda que engate marcha reduzida até dezembro, é improvável que a atividade econômica dos Estados Unidos, da Europa e do Japão seja negativa neste ano. As projeções seguem apontando algum avanço da produção e da renda. A tabela publicada quarta-feira, repetida aqui, traduz isso em números.

Faltou dizer o que está para acontecer com os países emergentes, especialmente com o Brasil, neste resto de ano e em 2009.

Por um estranho fenômeno psicossocial, os analistas pessimistas tendem a ter mais sucesso com os agentes econômicos e com a opinião pública do que os relativamente otimistas. Isso pode ter também alguma coisa a ver com a teoria das probabilidades. Se, lá na frente, ficar comprovado que erraram nos seus prognósticos, esses analistas sempre poderão dizer que foi graças às advertências que os estragos foram evitados a tempo. E, se o desastre de fato ocorrer, levarão a glória por terem previsto tudo na frente dos outros. Quer dizer, quem se coloca ao lado dos pessimistas dificilmente perde reputação. Apesar disso, parecem arriscadas as apostas de que o pior da crise global ainda esteja para acontecer, como seguem proclamando cassandras de todo tipo.

Nos próximos meses, os países ricos devem continuar seu processo de ajuste, especialmente os Estados Unidos, por onde passou (ou ainda passa) o olho do furacão e onde os bons frutos da devolução de US$ 167 bilhões em impostos começam a se dissipar. Mas esse movimento está mais para ser gradual e prolongado do que intenso e curto.

Mas também não dá para acreditar em que a crise das hipotecas de alto risco dure para sempre. Ela já tem um ano e quatro meses e é provável que em algum momento de 2009 seus efeitos estejam em reversão. Isso sugere que, ainda que se acentue, o processo de ajuste do setor produtivo americano e dos demais países de economia avançada poderá perder força porque a crise das hipotecas terá refluído.

Isso, por si só, aponta certa redução do impacto esperado sobre a economia dos emergentes, entre os quais o Brasil, que ao longo da crise mostraram excelente capacidade de absorver golpes.

Afora isso, ficou claro que os emergentes já não dependem tanto dos países centrais. Em quase todos, o consumo interno se tornou fator preponderante do crescimento econômico. É o que também deverá garantir avanço da demanda mundial por matérias-primas e energia, cada vez mais importante segmento das exportações do Brasil.

O PIB brasileiro deste ano tem tudo para saltar alguma coisa acima dos 5%, como o ministro Guido Mantega vem dizendo. É um número que deixa certa força de arrasto para 2009. E, se estiverem corretas as avaliações de que o ritmo da atividade econômica do mundo rico seguirá positivo (ainda que baixo) e a de que o dos emergentes asiáticos continuará forte, é provável que 2009 seja para o País um ano econômico melhor do que os 3,4% de crescimento do PIB que hoje são esperados. [ ][ ]

Confira

Não saiu do papel - O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, queixou-se ontem de que o Banco do Sul, criado em dezembro por Argentina, Bolívia, Brasil, Equador, Paraguai, Uruguai e Venezuela, não decolou.

Não se trata apenas de divergência entre os sócios sobre o capital do banco, previsto para atingir US$ 20 bilhões, mas que, numa primeira etapa, se restringirá a US$ 7 bilhões.

Esse banco, cuja sede será em Caracas, vai sendo percebido como instrumento da política externa de Chávez. E isso não se engole facilmente. Concorda-se com o projeto, mas se congela a sua implantação.

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