Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, julho 31, 2008

Níveis de complementaridade-Demostenes Torres blog do Noblat 30/7





Níveis de complementaridade

Há muita gente convencida de que a tal força tarefa é medida necessária para conter o aliciamento eleitoral forjado pelo tráfico de drogas e pelas milícias nas favelas cariocas. Mais eficiente seria enviá-la à fronteira colombiana com a finalidade de obstruir o corredor de fornecimento de cocaína mantido entre as Farc e os traficantes brasileiros.  Essa história de pacificar o morro é mera propaganda eleitoral perto da responsabilidade sonegada do governo federal de impedir que a droga ingresse em nosso território.

O Brasil tem motivações de defesa e de segurança pública para combater as Farc, mas não o faz nem na retórica. Há consenso entre os mais ajuizados, inclusive dentro do próprio governo, de que o grupo narcoterrorista é a principal ameaça à soberania nacional e o maior fator de instabilidade do subcontinente sulamericano. No centro do problema encontra-se a Amazônia, que diante de clamorosa omissão, acaba como prioridade de papel na política estratégica brasileira.

As Forças Armadas, a Polícia Federal e a Abin estão extenuadas de conhecer as atividades das Farc em território nacional. Os narcoterroristas buscam no Brasil refúgio, suprimentos e principalmente conexão criminosa para abastecer o mercado interno de cocaína e fazer com que a droga alcance o mercado europeu. Ainda se aproveitam dos frágeis mecanismos de controle financeiro do País para lavar o dinheiro de tráfico e adquirir armamento.

Não faltam advertências ao governo brasileiro para que se sinta estimulado a patrocinar o interesse nacional e combater as Farc. Logo depois da incursão colombiana no Equador que resultou na morte do ex-número dois da organização bandida, o governo da Colômbia registrou que havia alertado Brasília sete vezes sobre as operações das Farc no Brasil.

Em recente viagem ao País, o secretário de Segurança Interna dos EUA, Michael Chertoff, considerou a séria possibilidade de deslocamento dos narcoterroristas para a Amazônia brasileira.  No último domingo, em entrevista ao Estadão, foi a vez do ministro da Defesa da Colômbia, Juan Manuel Santos, relatar que o seu governo entregou ao presidente Lula documentação comprobatória da atuação das Facr por aqui, para que "possa reagir como achar mais apropriado."

E qual foi a reação? Encarregou o assessor para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, de classificar a documentação de "irrelevante". Ou seja, o Palácio do Planalto entregou um assunto de alta cúpula presidencial aos cuidados do terceiro escalão justamente para desqualificar a tratativa e não melindrar as Farc. Meio bonapartista, o assessor Garcia considera a própria Assessoria "um ativo a mais para o Brasil" e que só os néscios e provincianos não compreendem esse "nível de complementaridade." Perfeitamente, está tudo explicado. As Farc tem um advogado administrativo no Brasil.

 

Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador (DEM-GO).


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