Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, junho 26, 2008

Celso Ming - É da braba




O Estado de S. Paulo
26/6/2008

O esticão do IPCA-15 de junho foi tão forte que está obrigando o mercado a rever, para cima, suas estimativas de inflação.

É muito provável que até mesmo o Banco Central tenha sido surpreendido pela nova virulência.

Apenas para quem não está familiarizado com tantas siglas, IPCA-15 é o mesmo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a medida de inflação usada pelo Banco Central para definir os juros básicos. Corresponde à evolução do custo de vida médio no País (variação dos preços no mercado de varejo). Esse 15 que vai aí indica que o período de pesquisa vai do dia 15 de um mês ao dia 15 do mês seguinte. Portanto, é um período de 30 dias fechado em meados de cada mês.

O IPCA do período terminado no dia 30 de maio havia avançado 0,79% ou 5,58% em 12 meses. Apenas duas semanas após, o mesmo índice indicou evolução em 30 dias de 0,90% e, em 12 meses, de 5,89%. É mais do que indicação de que a fogueira aumentou.

Por coincidência, ontem foi o dia em que o Banco Central divulgou seu Relatório de Inflação, o documento de 162 páginas que analisa todos os aspectos direta ou indiretamente relacionados com a evolução dos preços na economia. É um dos instrumentos por meio dos quais o Banco Central se comunica com os agentes econômicos de maneira a melhor conduzir sua política monetária (política de controle da inflação).

Pois o Relatório diz que há 25% de risco de que a inflação deste ano supere o teto da meta, que são os tais 6,5% (4,5% correspondentes ao centro da meta mais os 2 pontos admitidos a título de área de escape). Mas isso foi escrito antes de sair o IPCA-15, que aponta para uma inflação entre 0,75% e 0,80% em todo o mês de junho. Isso parece indicar um risco ainda maior de que a meta superior seja furada.

Estas não são considerações destituídas de conseqüência. Se o governo está mesmo determinado a matar a inflação no ovo, como têm repetido as autoridades da área e de fora dela, vai ser preciso mais ação. A conclusão da reunião informal de avaliação do governo realizada há uma semana com a equipe econômica e outros consultores foi de que as providências tomadas para deter a inflação já estão surtindo efeito. Os números do IPCA-15 ontem revelados parecem indicar o contrário.

Então, se é preciso mais ação, da parte do Banco Central, parece inevitável uma paulada mais forte nos juros em sua reunião de 23 de julho. Mas, se é para garantir eficácia, é preciso aprofundar o ajuste fiscal. Se houver uma redução mais forte das despesas públicas, os resultados chegarão mais rapidamente. Ou seja, vai ser preciso ver agora se o governo está disposto a reforçar o superávit primário, a sobra de arrecadação destinada ao pagamento da dívida.

No mais, é entender que a inflação está globalizada. Se houver reação global dos bancos centrais, o ataque aqui no Brasil será alguma coisa mais fácil porque será empurrar areia de cima para baixo. Mas, se os bancos centrais dos países ricos continuarem frouxos na sua política monetária, o País vai suar muito mais para obter o mesmo resultado. Terá de empurrar areia de baixo para cima.

CONFIRA

Furou os 60 - Foi o que se previa. A manutenção dos juros básicos em 2% ao ano nos Estados Unidos arriou ainda mais o dólar nos mercados, inclusive por aqui. No fechamento de ontem, o dólar estava 0,64% mais fraco em relação ao euro e 0,69% em relação ao real, que fechou a R$ 1,5910, a cotação mais baixa desde janeiro de 1999.

Os exportadores estão desolados, mas terão de entender que a única providência capaz de virar esse jogo é a derrubada dos juros. E isso só tem condições de ocorrer - outra vez - se o governo derrubar decididamente as despesas correntes do setor público. O resto seria invenção.

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