Entrevista:O Estado inteligente

domingo, maio 25, 2008

Alberto Tamer A inflação chegou para ficar

Queiramos ou não, a inflação está aí.. Chegou para ficar no Brasil e no mundo ainda por algum tempo. E, com ela, o fim da era do juro baixo, que promoveu o crescimento, mas estimulou a demanda e irrigou a semente hibernada da inflação.

O mundo viveu seis anos gloriosos e, agora, terá de administrar os efeitos paralelos desse período de expansão.

Isso seria menos difícil sem a crise imobiliária e financeira nos Estados Unidos, que torna mais doloroso o processo de correção. Mas, com crise ou sem crise, o ajuste da exuberância teria um dia de ser feito. E esse dia é hoje.

NOSSA INFLAÇÃO É DIFERENTE

É diferente porque está sendo causada, basicamente, pelo aumento dos preços dos alimentos, difícil de ser contido sem punir novos consumidores, e não pela energia.

E isso por dois motivos: no Brasil, a energia elétrica tem custo menor porque é basicamente hidrelétrica e o preço da energia líquida, petróleo, ou do gás está sendo absorvido pela Petrobrás. Que, mesmo assim, continua registrando lucros crescentes.

Nos Estados Unidos e na Europa, a energia é essencialmente térmica - óleo, gás ou nuclear. Isso explica porque ela pesa brutalmente na inflação. Nos Estados Unidos, a inflação dos alimentos anualizada em março foi de 4,7% e a da energia, de 17%. O mesmo ocorre na zona do euro: inflação de alimentos, 3,6%, e de energia, 11,3%.

Há outra explicação para isso: o consumo de alimentos naqueles países já era alto e seu espaço para crescer, menor. Ao contrário, no Brasil, está havendo uma forte expansão no consumo de alimentos.

O mesmo ocorre na China, onde a inflação passa de 8% e continua subindo. Resumindo, pode-se ironizar dizendo que nós e os chineses comíamos pouco e estamos comendo mais; eles já comiam muito e não podem comer mais.

EXPORTAR ALIMENTOS, POR QUÊ?

Nesse caso, não seria melhor suspender ou conter as exportações de alimentos, abastecer apenas o mercado e derrubar os preços? Não. Os preços dos alimentos também estão sendo influenciados, refletem a alta das cotações internacionais. Os preços lá fora se interligam com os preços internos, num mercado livre, e, ao mesmo tempo, estimulam exportações. O agricultor quer vender onde obtém maior remuneração.

Evitar que ele exporte e obtenha lucro para que plante mais é um desestímulo para que ele produza mais e abasteça plenamente o mercado interno e supere recordes. E, como o consumo interno de alimentos não tende a cair, pode-se imaginar para onde iria a inflação em apenas um ano...

Mais ainda, as exportações agrícolas estão gerando os superávits comerciais que estão, em parte, nos permitindo enfrentar com êxito a crise financeira internacional. Na verdade, o agronegócio está sustentando a economia nacional. Deve ser estimulado, não contido. Por favor, não mexam nele.

Felizmente, após uma escorregada do ministro da Agricultura, no caso do milho, ainda não incidimos nesse erro.

JURO ALTO, PACIÊNCIA

Elevar juro é um ação de emergência em caso de inflação alta, penosa, sim, mas tem de ser aceita para evitar mal maior a médio prazo. Os manuais de economia e a realidade mostram que é preciso evitar medidas heterodoxas como entrave ao comércio e policiamento de preços, que desestimulam a produção.

A solução adotada no mundo passa pela contenção do crescimento súbito, via alta de juros, redução de gastos dos governos federal, estadual, municipal, redução da liquidez monetária.

Mas, acima de tudo, uma ação ousada e vigorosa de incentivo ao aumento da produção. Só com um aumento vigoroso da produção industrial e, principalmente, agrícola, se poderá evitar que a inflação deslanche. E ela já iniciou a corrida.

O GOVERNO NÃO ERROU?

Mas, ao aumentar o juro em 0,50 ponto, o governo não estaria agindo no sentido contrário? Não, porque, com algum esforço e inovação, essa alta pode ser compensada com melhor índice de produtividade e ganho decorrente do aumento das vendas. Pelo que sei, nenhuma indústria ou loja de comércio está mandando empregados embora.

"MAS 5% É AINDA POUCO!"

Esse é o argumento de muitos no setor privado e até mesmo,acreditem, no governo. Eles alegam que em outros países a inflação é muito mais alta. E eles ainda estão indo bem. Não é pouco, não! É muito alta, caminha para 6%.

A inflação brasileira aponta para 6%, a mundial é da ordem de 3,6%. Não há mais nada a dizer, se quisermos manter a posição de país sério que conquistamos após décadas de espera. Chegamos tarde. Custou, não podemos voltar atrás, mesmo que seja a custa de algum desconforto a curto prazo. Inflação de 6%, nunca, jamais.

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