Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, abril 30, 2008

Clóvis Rossi - De palavrões à derrota




Folha de S. Paulo
30/4/2008

Que bom que Leonel Brizola já morreu. Não creio que o coração do velho e simpático caudilho resistisse às novidades. Para ficar apenas na mais recente: recorde na remessa de lucros para o exterior.
Ajuda memória: um dos cavalos-de-batalha em torno do qual girou o golpe de 1964 era justamente "remessa de lucros", expressão que, para a esquerda, significava a espoliação do tal de povo brasileiro pelos polvos multinacionais. Brizola era um dos campeões da campanha contra a remessa de lucros.
Mesmo depois do golpe, do exílio, da anistia, Brizola era um obcecado com o que chamava de "perdas internacionais". Não há repórter que tenha acompanhado campanhas eleitorais de que participou Brizola que não ironizasse sua contínua pregação contra as tais perdas. É verdade que o rótulo englobava também os termos de troca, o fato de que os países em desenvolvimento recebiam pouco pelas matérias primas que exportavam e pagavam muito pelos produtos acabados que compravam.
Hoje, matéria-prima virou commodity, e algumas delas valem mais do que produtos acabados.
O que chama a atenção agora não é que se bata o recorde de remessa de lucros, natural em se considerando o aumento do investimento externo no Brasil. Mais investimento, mais lucro, mais remessa.
Chama a atenção que ninguém mais reclame ou critique, mesmo fazendo parte do governo gente do PDT de Brizola, do PC do B, do PSB (de Miguel Arraes, outros dos expoentes da gritaria de antanho contra a "espoliação"). Lucro já era palavra feia para eles.
Lucro recorde era pior que xingar a mãe. Remessa recorde de lucros, então, sei lá como chamariam.
Agora, nenhuma palavra de ninguém. Sinal de que a esquerda perdeu tudo, até a batalha cultural pelo uso (ou desuso) de expressões que lhe foram caras.

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