Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, janeiro 31, 2008

Para não dizerem que poupo Lula

Para não dizerem que poupo Lula

Acreditem: deixo de comentar muitas coisas que Lula diz ou faz para não pegar fama de quem implica com ele. Para não ser apontado como blogueiro de uma nota só. E para não cansar os leitores me repetindo.

Acharia mais agradável me dedicar a escrever sobre minha neta recém-nascida. E enquanto escrevi sobre Luana os elogios foram unânimes. A política divide. A família une ou pode unir.

Mas há ocasiões que não posso ignorar o que Lula disse ou fez. E em sua intervenção pública sobre o crescente aumento do desmatamento da Amazônia ele cometeu um monte de sandices.

Para censurar a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, que denunciou o desmatamento de 3.250 quilômetros quadrados de floresta somente no último trimestre de 2007, Lula disse:

- Você vai ao médico detectar que está com um tumorzinho aqui e, em vez de fazer biópsia e saber como vai tratar, você já sai dizendo que estava com câncer.

Se Lula quis comparar a devastação da Amazônia com um eventual câncer, Marina estava dispensada de providenciar qualquer biópsia para constatar que o câncer existe. E que se dissemina há décadas.

O ritmo da devastação da Amazônia havia diminuído. Voltou a crescer segundo levantamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. O mesmo instituto a respeito do qual Lula disse o seguinte:

- (...) é o maior instituto de pesquisas da América Latina e de muita seriedade.

Por que Lula não se cala ou não muda de assunto antes de tentar desacreditar o que apurou o maior instituto de pesquisas da América Latina, considerado por ele muito sério?

Prossigamos. Lua admitiu que "o desmatamento da Amazônia é preocupante". E acrescentou: "É como se você tivesse uma coceira e achasse que é uma doença mais grave".

Se o desmatamento é preocupante não pode ser comparado a uma coceira que se cura com relativa facilidade. Se é uma coceira não é preocupante. Elementar, meu caro.

No auge do escândalo do mensalão, Lula repetiu que ninguém podia ser acusado de nada antes de ser julgado pela Justiça. Os 40 suspeitos de envolvimento com o mensalão foram promovidos à condição de acusados pelo Supremo Tribunal Federal.

Vale-se Lula do mesmo argumento para ser condescendente com quem desmata a Amazônia:

- Se a pessoa fez desmatamento ilegal, vamos ter que entrar na Justiça, dificultar-lhe financiamentos nos bancos públicos.

A ameaça de fechar a toneira dos financiamentos públicos é velha. Não se materializou até hoje.

Esperava-se dele uma palavra de indignação com os criminosos que agridem o meio ambiente. Mas para esses, identificáveis a olho nu, Lula reservou palavras de conforto:

- A gente não pode culpar soja, feijão, gado, sem-terra, não pode culpar ninguém antes de investigar o que aconteceu.

Esqueceu de citar os madereiros. Mas certamente eles também não podem ser acusados antes que se investigue.

Quem mais poderia ser culpado? Os índios? As Ongs? Para essas, de origem estrangeira, Lula reservou uma tirada que lembrou os generais-presidentes da época da ditadura quando reagiam às reclamações de entidades internacionais preocupados com o desrespeito aos direitos humanos no Brasil:

- Vão plantar árvores no países delas.

Marina se tornou um incômodo de bom tamanho para Lula. Muito maior do que o incômodo provocado por ministros que usam o cartão corporativo para pagar tapioca e gastar o dobro do que ganham. Se pudesse, Lula já teria se livrado dela.

Mas em sua fragilidade, Marina é mais forte do que desejaria Lula. E do que desejariam os plantadores de soja, os pecuaristas e os madereiros que estão pouco se lixando para a preservação do meio ambiente.

(Abaixo, um exemplo da "coceira" a que se referiu Lula. Data de antes da retomada da devastação em larga escala. O exemplo vem do Mato Grosso, Estado governado por Blairo Maggi, o maior plantador de soja do mundo, a quem Lula costuma chamar de "parceiro".

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