Entrevista:O Estado inteligente

domingo, janeiro 27, 2008

Celso Ming

Corrida às terras


Enquanto os ministros do governo Lula divergem sobre as causas do desmatamento recorde na Amazônia, os preços da terra para plantio e pastagem sobem em todo o País.

Esta coluna apontou no dia 17 o prognóstico de um reconhecido especialista, o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues. Ele sacode o punho fechado no ar e dispara: "Pode escrever, em cinco anos, os preços da terra estarão pelo menos 100% mais altos."

O estudo do Instituto FNP finalizado em dezembro mostra que o preço médio da terra no Brasil vai quebrando recordes desde que a pesquisa começou a ser feita, em 2001. Nos últimos 12 meses, a alta foi de 17,83%, com as cotações médias chegando a R$ 3,86 mil por hectare. (Ver gráfico.) São números que, neste ano, deverão ficar para trás.

A engenheira agrônoma e analista do Instituto FNP, Jacqueline Bierhals, aponta três fatores que puxam pela alta:

(1) Mercado rarefeito - O Brasil é um dos poucos países com áreas a serem exploradas: mais de 100 milhões de hectares. Esse potencial pode ser utilizado para absorver parte da expansão da agricultura mundial, prevista para este e para os próximos anos.

(2) Preço baixo - Comparado com os padrões vigentes em outros países com forte potencial agrícola, o preço da terra ainda é baixo no Brasil.

(3) Crescimento da procura - A crise global que grassa no setor financeiro deve empurrar os administradores internacionais de patrimônio para ativos cujos preços enfrentem menos volatilidade. E aí o mercado de terras se mostra como boa opção.

Não há metodologia 100% segura para aferir o comportamento desse mercado. Para suprir a deficiência, o Instituto FNP conta com uma equipe de 300 informantes que detecta os principais negócios no País. E o que ela comprovou foi o fato de que grupos estrangeiros de vários calibres estão fechando compras de glebas em fronteiras agrícolas com alto potencial de valorização, especialmente em Mato Grosso, oeste baiano e no trio Mapito (Maranhão, Piauí e Tocantins).

Preços baixos são grande chamariz. Enquanto o valor de um hectare na Região Sul girou em torno de R$ 29,2 mil no último bimestre, a mesma área na mata no Amapá saiu por apenas R$ 85.

Depois de um período de relativa estagnação que se seguiu ao recuo nos preços da soja em 2004, o mercado se aqueceu com a corrida ao plantio da cana-de-açúcar a partir de meados de 2006. No ano seguinte, quando se imaginava que o plantio algo exagerado da cana poderia derrubar os preços, foi a demanda por terra para grãos que passou a determinar os preços.

Os arrendamentos também estão em alta, na medida em que os preços das commodities agrícolas e os do boi gordo são tomados como critério de indexação dos contratos.

Mesmo com a economia global ameaçada pelos maus resultados da economia americana, a aposta na terra continua forte, para desespero do presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Rolf Hackbart. Para ele, o aumento do interesse de grupos estrangeiros é uma ameaça para o avanço da reforma agrária no Brasil. Mas o MST não quer acampar no sertão. Quer ficar próximo às grandes cidades.

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