Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, dezembro 31, 2007

Otimismo Carlos Alberto Di Franco

O Estado de S. Paulo,



O Brasil de hoje, independentemente das sombras que pairam no horizonte da economia dos Estados Unidos, revela um vigoroso impulso de crescimento. A realidade, ademais, não costuma confirmar os anúncios escatológicos de certos profetas do catastrofismo. O fenômeno chinês, por exemplo, é um contraponto poderoso à crise que ronda o mercado norte-americano.

O Brasil foi guindado à condição de sexta economia mundial. Mudamos de patamar. É indiscutível. Tal desempenho decorre da boa performance da economia mundial. Mas também é uma conseqüência das políticas sociais adotadas pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Tenho sido um crítico permanente dos desmandos do governo petista e de seus espasmos de autoritarismo. Mas a honestidade intelectual e o dever de isenção, pré-requisitos de quem pretende fazer jornalismo ético, me obrigam a reconhecer o empenho de justiça social do presidente da República. Ele é o responsável direto pela incorporação de milhões de brasileiros que viviam à margem do mercado. O fabuloso crescimento do consumo é um vigoroso atestado de inclusão.

O viés autoritário do governo e a corrupção, que atingiu níveis impressionantes, têm sido enfrentados com a força de uma cidadania atuante e com os instrumentos legais do Estado democrático. Tentativas de controle da liberdade de imprensa e de expressão foram derrubadas pela sociedade civil. E a corrupção, embora continue aparentemente impune, começa a sofrer os primeiros nocautes. Ex-ministros e notáveis do "núcleo duro" do governo estão sendo processados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção ativa e formação de quadrilha. O Judiciário pode ser lento, mas funciona. E aqueles que, cinicamente, tentaram negar o fato histórico do mensalão assistirão à sua comprovação judicial. O ensaio para o terceiro mandato acabou em samba desafinado. A sociedade disse não. Quer dizer, feitas as contas, com objetividade e realismo, o Brasil vai bem.

No entanto, o clima de sinistrose renasce constantemente. Na verdade, os que estamos do lado de cá, os jornalistas, carregamos nossos cacoetes profissionais. Sobressai, entre eles, a tendência ao catastrofismo. O rabo abana o cachorro. O mote, freqüentemente usado para justificar o alarmismo de certas matérias, denota, no fundo, a nossa incapacidade para informar em tempos de certa normalidade. Mas mesmo em tempos de crise é preciso não aumentar desnecessariamente a temperatura. O bom jornalismo reclama um especial cuidado no uso dos adjetivos. Caso contrário, a crise real pode ser amplificada pelos megafones do negativismo midiático. À gravidade da situação, inegável e evidente, se acrescenta uma dose de pessimismo. O resultado final é a potencialização da crise.

Alguns setores da imprensa, em nome da independência e da imparcialidade, têm feito uma opção preferencial pelo negativismo. Os jornais, pensam, têm uma missão de contraponto, de denúncia. Concordo. E de denúncia enérgica. O problema não está aí, mas na miopia, na obsessão seletiva pelos aspectos sombrios da realidade.

Uma cachoeira de prognósticos negativos corre solta. A análise isenta, verdadeiramente jornalística, talvez conduza a um horizonte menos assustador. O País está numa corrida de obstáculos e, como nos estádios, a pista não termina no abismo. Estamos, ricos e pobres, navegando num mesmo transatlântico. No caso de naufrágio, não haverá afogamentos seletivos. Iremos todos a pique. Também os ocupantes da primeira classe (ou do Primeiro Mundo). Por isso, sem otimismo tolo, é preciso reconhecer que o Brasil, pelo tamanho de seu mercado, pela iniciativa que demonstra, é maior do que governos e circunstâncias de momento.

O que existe por trás da torrente de queixas e profecias sinistras? Acredito, sem receio de cometer injustiça, que boa parte do fenômeno radique numa deformação profissional que atinge alguns jornalistas. O mau ceticismo (há um bom ceticismo, base do jornalismo investigativo) é uma desses desvios. Essa atitude passa tudo por um filtro negativo. A conseqüência é óbvia: não se faz o registro isento dos fatos. Há uma compulsão para pinçar os aspectos negativos dos acontecimentos.

É cômodo e relativamente fácil provocar emoções. Informar com profundidade é outra conversa. Exige trabalho, competência e talento. Objetividade e equilíbrio. Luzes e sombras. Não só denúncia, mas também não só aplauso. Faltam-nos, freqüentemente, equilíbrio e serenidade. O que é côncavo de um lado aparece convexo do outro. Depende só do nosso ângulo de visão. Muitas vezes um defeito é apenas a sombra projetada por uma virtude. Os negativistas padecem da patologia das sombras. Míopes, são incapazes de ver o outro lado: o da virtude.

O Brasil, graças à varredura dos meios de comunicação, está mudando para melhor. A democracia é o melhor antídoto contra o veneno do autoritarismo. O eleitor, inicialmente ingênuo, vai ganhando discernimento. A mídia, num rigoroso esforço de prestação de serviço, será, agora e sempre, a memória da cidadania. O ostracismo das urnas já é um grande passo, mas não basta. A conseqüência direta do crime, independentemente do status do delinqüente, deve ser a cadeia. É isso o que sociedade espera da ação do Judiciário.

A democracia brasileira está sólida, não obstante os ataques dos autoritários de sempre. Ela tem os anticorpos necessários para combater o vírus aético e devolver aos brasileiros a alegria e o otimismo.

A todos, feliz 2008!

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