Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, dezembro 26, 2007

Celso Ming Lições para 2008 (2)

Ontem, esta coluna pinçou dois dos mais importantes fatores que deverão comandar a economia mundial em 2008: a rejeição ao dólar e a novidade no comportamento dos bancos centrais. Hoje, vai falar de outros dois.

A escalada dos alimentos - Há duas semanas, a revista The Economist publicou matéria de capa sobre o "Fim da comida barata". O gráfico mostra o que aconteceu neste ano: disparada de 39% (em dólares) das commodities alimentícias.

Dois fatores explicam o fenômeno: aumento do consumo dos países asiáticos e uso de grãos para produção de etanol. É fato conhecido que só a China está incorporando 40 milhões de consumidores ao mercado. É o que explica a alta das carnes e do leite, embora produtos à base de lactose não façam parte da dieta chinesa.

O efeito etanol foi dramático. Nos Estados Unidos, 20% da produção de 335 milhões de toneladas de milho subsidiado passou a ser usada para produção de etanol. Perto de cem unidades de produção de álcool deverão ter despejado no mercado em 2007 nada menos que 24,2 bilhões de litros de etanol. Outras 74 estão em fase de construção.

Para desespero dos criadores e outros dependentes de rações animais, os preços do milho saltaram 20% na Bolsa de Chicago e puxaram os de outras proteínas vegetais, especialmente os da soja, que subiram 61%.

Hoje um número crescente de analistas coloca em dúvida a viabilidade econômica do etanol obtido a partir do milho a US$ 4 por bushel (25,4 kg).

O problema é que, enquanto não inventarem algo melhor, os Estados Unidos não têm escolha. Se querem substituir gasolina, têm de continuar nesse rumo.

Esses fatores definem que a economia global terá de conviver em 2008 com alimentos mais caros. Outra conseqüência é o aumento das receitas com exportações de commodities agrícolas. E o Brasil tem tudo para continuar se beneficiando disso.

O petróleo caro - Ao longo de 2007, a cotação do West Texas Intermediate, negociado em Nova York, chegou perto dos US$ 100 por barril de 159 litros. Até sexta-feira, os preços acumularam uma alta de 44% no ano.

O galope tem uma explicação: aumento do consumo dos emergentes, especialmente da China. O último relatório da Agência Internacional de Energia (de 14 de dezembro) revela que, em 12 meses até outubro, o aumento da demanda pela China foi de 4,4%. Mas o aumento do consumo de gasolina e de querosene para aviação foi ainda maior, de 5,7% e 7,7%, respectivamente.

No balanço global, a queima de petróleo (hoje de cerca de 86,9 milhões de barris por dia) cresce a cerca de 2,5% ao ano, enquanto a oferta permanece relativamente estável (nos 85,1 milhões de barris).

O relatório aponta indícios de que os preços altos começam a conter o consumo. Mas não há como esperar reversão significativa a curto prazo. A economia mundial está condenada ao petróleo caro também em 2008.

Apesar da recessão que pode ocorrer nos Estados Unidos, não dá para contar com redução dos preços dos alimentos e da energia. (Amanhã tem mais.)

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