Entrevista:O Estado inteligente

domingo, dezembro 30, 2007

Bolsas fecham o ano sem crise

O Estado de S. Paulo,

Alberto Tamer*


Apesar da crise imobiliária nos Estados Unidos, que agitou o mercado financeiro, mesmo sem ter contaminado a economia, as bolsas se comportaram bem; na verdade, bem até demais. O índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) termina o ano com um valorização surpreendente e 43,4% (até o dia 27) e, mesmo crescendo menos, todas as outras, com exceção do Japão, ficaram positivas.

Até agosto, quando a crise financeira começou a se agravar, com os bancos centrais socorrendo o mercado com mais de US$ 600 bilhões, as bolsas passaram por dias de grande tensão. Só aqui, o BC não precisou socorrer ninguém... Tudo o que acontecia com as instituições financeiras se refletia no mercado acionário pela sua liquidez e imediata visibilidade; qualquer queda mais brusca gerava inquietação, o que era pouco real, pois elas não refletiam o estado de saúde da economia. Enquanto a americana recuava e a européia estagnava, a brasileira crescia 5,7%.

A coluna pode afirmar, com toda segurança, que o mercado de capitais brasileiro reagiu galhardamente ao furacão. A oferta pública, conhecida pela inicial IPO (na sigla em inglês), da própria Bovespa Holding S.A., cujas ações começaram a ser negociadas no dia 26 de outubro, dois meses a explosão da bolha, captou R$ 6,626 bilhões, tornando-se o maior IPO da história da instituição, que tem 117 anos. Isso retratava a enorme confiança dos investidores num mercado que estava sendo fortemente abalado no Brasil e no exterior. A valorização do primeiro dia de negociação levaria a Bovespa Holding para uma expressiva classificação entre as maiores bolsas do mundo em termos de seu próprio valor de mercado. Para ser mais exato, a Bovespa, a quinta do mundo, atrás das Bolsas de Frankfurt, Chicago (CME), Hong Kong e Nova York, está à frente dos pesos pesados Bolsa de Londres e Nasdaq. Parece que, enquanto os mercados externos se agitavam, o nosso seguia de forma ordenada, sem despertar aquele quase pânico das bolsas americanas e européias.

ESTRANGEIROS FICARAM

Milagre? Não. A consistência, embora ainda sem muita solidez, da economia nacional explica em parte isso. No fundo, a aparente vulnerabilidade externa e a extrema liquidez no mercado, pesou muito na decisão de estrangeiros migrarem para o Brasil, onde o cenário era bem mais tranqüilo.

Com certeza o investidor estrangeiro foi um dos maiores personagens desse êxito. "Apesar de estarem mais seletivos que em anos anteriores e provavelmente mais cautelosos a partir dos primeiros sinais da crise das hipotecas, os estrangeiros foram as grandes estrelas das ofertas públicas no mercado de capitais brasileiro", confirmou para a coluna Gilberto Mifano, CEO da Bovespa Holding. "Em 2007, a participação do investidor estrangeiro nas ofertas de ações, incluindo IPOs, representou 76% dos R$ 69,5 bilhões captados ao longo do ano."

Com esse impulso proporcionado pelos estrangeiros, o mercado de capitais brasileiro decolou em 2007. Foram 64 entradas de empresas lançando ações e captando recursos na bolsa paulista, número 146% superior às ofertas públicas de 2006, que ficaram em apenas 26; ou, ainda, para realçar mais a importância desse movimento, 611% acima das ofertas de 2005, com somente nove empresas novas entrando na bolsa.

Dado igualmente relevante é o fato de que a esmagadora maioria desses IPOs ocorreu no chamado Novo Mercado, segmento especial de governança corporativa criado pela Bovespa, que oferece mais direitos aos acionistas minoritários do que a própria lei das Sociedades Anônimas.

MAIS DE R$ 1 TRILHÃO!

Qualquer outro dado de 2007 aponta na mesma direção. O volume financeiro total movimentado na Bovespa contabilizou o extraordinário valor de R$ 1,2 trilhão, praticamente o dobro dos R$ 598 bilhões de 2006! Foi a primeira vez que o mercado à vista superou a marca de R$ 1 trilhão. Em número total de negócios efetuados no pregão, o salto foi de 21,521 milhões, em 2006, para mais de 37,450 milhões, em 2007.

A procura dos investidores pelos ativos listados na bolsa também impulsionou substancialmente o volume financeiro médio negociado nesse mercado. Ainda comparando 2006 a 2007, a alta ultrapassa os 101%; saiu de R$ 2,43 bilhões para R$ 4,89 bilhões.

Em dólar, a variação é ainda maior, 128%, com valores passando de US$ 1,120 bilhão para US$ 2,554 bilhões.

Comparado a outros tipos de investimento, o Ibovespa foi o que mais se valorizou no ano. A alta chegou a 43,3% (até 27/12) em reais e de 73,5% em dólares. O índice nominal saiu de 44.473 pontos em dezembro de 2006 para 63.774 pontos. Em dólar, a evolução parte de 20.801 pontos em 2006 para 36.090.

A BOVESPA NO MUNDO

Outros dados impressionantes que mostram o vigor da bolsa paulista e da economia nacional é a enorme diferença entre a valorização do índice da Bovespa e a das principais bolsas mundiais. Sem exagero da coluna, o resultado, até o dia 27, é verdadeiramente impressionante. Enquanto a valorização do Ibovespa foi de 43,4%, o Dow Jones cresceu 7,19%, o Nasdaq, 10,83%, o CAC 40 de Paris, 1,55%, o FT-100 de Londres, 4,45%, e o Nikkei de Tóquio estava negativo em 11,13%. A que se aproximou do Ibovespa foi o DAX 30, da Bolsa de Frankfurt, com valorização de 21,85%.

Com esses resultados, o Brasil e a Bovespa têm muito a comemorar neste fim de ano. A começar pela já mencionada histórica abertura de capital de outubro. Isso mostra que o mercado de capitais brasileiro deu mais um passo significativo no caminho aberto da maturidade.

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